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Reconstrução sem paz no Mali?

Peter Hille / Ramata Soré / António Rocha14 de maio de 2013

Os doadores querem angariar esta quarta-feira (15.05) numa conferência em Bruxelas quase 2 mil milhões de euros para a reconstrução do Mali. Mas, no terreno, a paz tarda em chegar e a situação humanitária é precária.

Rebeldes do MNLA em KidalFoto: Reuters

O Mali avalia em cerca de 2 mil milhões de euros o montante necessário para reconstruir o país, onde uma ação armada foi lançada em janeiro, com a ajuda da França, para expulsar os rebeldes islamistas que ocupam o norte do país.

Num documento elaborado para a conferência de Bruxelas, o Governo de Bamaco disse que só consegue financiar pouco mais da metade de um plano de 3,34 mil milhões de euros para este e para o próximo ano, avaliando em 1,96 mil milhões a ajuda necessária.

O dinheiro deverá servir para custear programas de educação, saúde, criação de infraestruturas e projetos de luta contra a corrupção – em suma, para a pacificação e desenvolvimento de todo o território maliano.

No entanto, para as autoridades de Bamaco, voltar a controlar Kidal, nas mãos dos rebeldes tuaregues do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), continua a ser um grande desafio.

Soldados do exército malianoFoto: picture-alliance/dpa

Restaurar a influência do Estado no norte do país é uma condição necessária para a realização das eleições em julho próximo. Trata-se de uma etapa crucial para que o Mali saia definitivamente da fase de transição em que se encontra desde o golpe militar e se dote de uma autoridade e de instituições legítimas.

Eleições em julho?

Ulrich Delius, responsável para os temas africanos da Associação para os Povos Ameaçados, em Göttingen, na Alemanha, duvida que o Mali possa realizar eleições tão cedo. Segundo Delius, esse objetivo não é realista do ponto de vista logístico.

"Temos, neste momento, mais de 400 mil refugiados e deslocados internos. É preciso que eles também possam votar. Sem eles os resultados não seriam representativos. E pensamos que isso não será possível na situação atual", diz.

Ulrich Delius diz também que o Governo maliano deve iniciar discussões com os partidos envolvidos no conflito. Já a Europa deveria fazer tudo para que os direitos do Homem sejam respeitados e para que se encontre uma solução política duradoura para a questão dos rebeldes tuaregues.

Situação humanitária precária

Crise no Mali fez centenas de milhares de refugiados e desalojadosFoto: Reuters

"A situação humanitária no norte do Mali permanece precária. A insegurança alimentar é um grande problema porque atinge muitas pessoas", avalia Annette Lohmann, diretora da representação em Bamaco da Fundação alemã Friedrich-Ebert (ligada ao Partido Social Democrata alemão, o SPD).

Segundo a responsável, "é preciso que seja feito algo e torna-se necessário que as estruturas estatais, como a administração, possam ser restauradas o mais depressa possível no norte."

Falta cronograma claro

Para além dos problemas ligados à segurança, uma outra questão também preocupante é a organização logística das eleições.

A não realização do escrutínio seria sinónimo de debilidade do Estado, refere a ONG maliana "Rede de apoio ao processo eleitoral". A organização acrescenta que isso poderia provocar violentos tumultos para além de colocar o país fora das grandes prioridades da comunidade internacional.

A "Rede de apoio ao processo eleitoral" lamenta, por outro lado, a ausência de um cronograma claro. A data definitiva para a eleição presidencial ainda não foi anunciada oficialmente, embora várias notícias que circulam no país, apontam o dia 28 de julho para o pleito.

E, enquanto se aguarda o início da campanha eleitoral, políticos, intelectuais e organizações não governamentais reclamam a realização de discussões e um maior envolvimento da sociedade civil em todo o processo que visa a estabilização e pacificação do Mali.

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