Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) criou uma Rede Nacional de Advogados em Moçambique para defender a liberdade de expressão. Órgão estará atento a violações que possam ocorrer no dia das eleições.
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O Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) em Moçambique criou, recentemente, uma Rede Nacional de Advogados, que tem como objetivo garantir uma maior defesa de direitos humanos e liberdades de imprensa. Dirigida não só aos jornalistas, mas a todos os cidadãos, a rede estará representada em todas as províncias através de um ou mais advogados, selecionados pelo MISA.
Em entrevista à DW África, Ernesto Nhanale, diretor-executivo do MISA, afirmou que o órgão está a monitorizar o processo eleitoral para garantir o livre exercício de trabalho dos jornalistas, sobretudo, no dia das eleições gerais, que terão lugar a 15 de outubro.
"Em momentos eleitorais, a política funciona com maior velocidade e há uma maior probabilidade de acontecer casos que nós temos que defender", diz.
DW África: O que é que o MISA pretende com a criação desta rede de advogados?
Ernesto Nhanale (EN): A nossa missão é criar um ambiente que permita uma maior proteção e também darmos uma maior resposta aos casos de violações das liberdades de imprensa e de expressão. Esta rede pretende reforçar um pouco aquilo que é a disponibilidade da oferta do MISA em termos de respostas em casos de violações das liberdades de imprensa e criar mais alguma possibilidade. Agora, por exemplo, passamos a ter um advogado em cada província, algumas províncias com mais de um. E isto vai permitir que, caso haja urgência de dar resposta a situações em que os jornalistas são violados, possamos ter alguém que responda de forma mais rápida e também de forma mais acertada.
Uma rede para defender a liberdade de imprensa em Moçambique
DW África: O objetivo é portanto que, em cada província, exista um ou mais advogados para defender não só jornalistas, mas também todos os cidadãos. Em que casos é que se devem dirigir ao MISA estas pessoas?
EN: Em primeira linha, nós olhamos para o jornalismo como o espaço fundamental do exercício das liberdades de expressão tendo em conta as funções que estão inerentes. De grosso modo, os casos que nós vamos lidar são ligados a violações aos jornalistas, especificamente, quando essas violações de liberdades de expressão são públicas [como são exemplo as manifestações]. Identificado o caso que representa uma violação pública às liberdades de expressão, nós damos a advocacia necessária.
DW África: Esta rede foi criada, especificamente, para a cobertura das eleições gerais de 15 de outubro por causa dos episódios menos felizes que se têm registado ou já estava nos planos do MISA?
EN: Foi uma mera coincidência, mas se esses casos ocorrerem, nós vamos dar uma resposta. Nós, como MISA, sempre tivemos a preocupação de estarmos organizados e estruturados para respondermos de forma eficiente aos casos que acontecem em cada província, uma vez que estávamos a trabalhar só com um advogado em Maputo. E sempre que quiséssemos responder a um caso, às vezes, tínhamos que trabalhar com advogados que nós não conhecíamos. O que acontece agora com a rede é que temos a certeza de que os advogados vão trabalhar no sentido de se especializarem nessas matérias. E também gera uma certa proximidade e confiança em relação ao próprio MISA e às pessoas que for defender. Em momentos eleitorais, a política funciona com maior velocidade e há uma maior probabilidade de acontecerem casos que nós temos que defender.
DW África: Como é que o MISA avalia, até à data, a cobertura dos media nesta campanha?
EN: Nós temos vindo a fazer a monitoria da cobertura eleitoral. O que nós assistimos é que os media estão presentes, estão a fazer uma extensa cobertura, especificamente, sobre os três principais partidos políticos: a RENAMO, a FRELIMO e o MDM. Ainda não temos casos graves de violência no sentido de restrições das liberdades. Geralmente, os dias eleitorais é que têm sido críticos. Reportámos três casos em que jornalistas estavam ainda a exercer as suas funções fazendo parte de partidos políticos em processos de campanha eleitoral. Então, nós denunciámos esses casos, que foram devidamente corrigidos e encaminhados.
Campanha eleitoral em Moçambique: Província a província
Campanha em Moçambique: Província a província
Foto: DW/B. Jequete
Niassa: Província lembrada em período de campanha
Em época de conquistar os eleitores a oposição lembra-se que esta província do norte é marginalizada. O potencial agrícola também é chamado nos discursos dos partidos políticos. Os eleitores dizem que basta de promessas não cumpridas e manifestam desejo de ver a província, considerada esquecida, desenvolvida.
Foto: DW/M. David
Cabo Delgado: Campanha em palco de ataques armados
Há mais de dois anos que esta província do norte é alvo de ataques armados organizados por homens até ao momento sem face. Caça ao voto em solo molhado de sangue e clima de terror não é com certeza a todo vapor. Mas os partidos, em áreas seguras, seguem com suas promessas. Na terra do futuro, pois alberga uma das maiores reservas de gás do mundo, os jovens exigem emprego.
Foto: DW/D. Anacleto
Nampula: Tragédia em comício da FRELIMO
Mais de 10 mortos e 85 feridos foi o saldo do evento de campanha da FRELIMO no estádio 25 de junho. Mesmo assim a FRELIMO e o seu candidato não interromperam a caça ao voto, num gesto de luto. Mas reagiu imediatamente, prometendo entre outras coisas o acompanhamento aos familiares das vítimas. Aguarda-se pelo apuramento das responsabilidades. Desconfia-se que aspetos de segurança tenham falhado.
Foto: DW/S. Lutxeque
Zambézia: Ato macabro mancha caça ao voto
Nesta província a mobilização do eleitorado é grande, por isso a festa também é em grande. E é com a mesma proporção que desponta a violência eleitoral. Até ao momento o incêndio criminoso da casa da mãe do candidato da RENAMO às provinciais, Manuel de Araújo, é a maior mancha do processo na província central. A RENAMO acusa a FRELIMO de autoria, mas o partido no poder nega.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Tete: Desenvolvimento é a tónica de campanha
Os dois principais partidos, FRELIMO e RENAMO, contam promover o desenvolvimento da província central usando os recursos que a região oferece. Já o MDM dá ênfase à saúde.
Foto: Sérgio Vinga
Manica: Proximidade com o eleitor
Tal como em todo o país, as regras de afixação de cartazes eleitorais não são respeitadas nesta província central. Mas esta não é a única forma de propaganda usada pelas formações políticas, como é habitual, os candidatos vão ao encontro do eleitor com os panfletos nas mãos.
Foto: DW/B. Chicotimba
Sofala: Ciclone Idai faz mudança climática ser prioridade
O Idai atingiu duramente a província central em meados de abril. Até hoje o país não se refez completamente das suas consequências. O evento está a ser aproveitado para conseguir votos. Os partidos estão a prometer a um eleitorado recém afetado medidas para minimizar os impactos das alterações climáticas.
Foto: DW/Arcénio Sebastião
Inhambane: As ameaças de ex-guerrilheiros da RENAMO
É em época de caça ao voto que os guerrilheiros da RENAMO acantonados na base de Matokose, nesta província do sul, fazem ameaças. Justificam que estão descontentes com a sua liderança. Garantem que têm muito armamento, que deveria ter sido entregue às autoridades até o 21 de agosto. É neste contexto que os partidos vão trabalhando junto do eleitorado.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Gaza: Campanha sob o espectro da desconfiança de fraude
A caça ao voto nesta província do sul acontece mesmo sem que o caso da disparidade de números de eleitores apresentados pelo INE e STAE tenha sido resolvido. A suspeição em relação à Gaza é grande. Neste bastião da FRELIMO, onde a oposição costuma ser alvo de violência, as ações de campanha decorrem até agora com tranquilidade.
Foto: DW/C.A. Matsinhe
Maputo: Promessas ajustadas ao eleitor urbano
Redução do IVA e combate à corrupção são algumas das promessas da oposição nesta província do sul. As fraquezas do Governo da FRELIMO têm servido, até certo ponto, de armas para a RENAMO e MDM nesta campanha. Também promessas de mais emprego para uma região densamente povoada por jovens não faltam. Já a FRELIMO prefere continuar a apostar, entre outras coisas, na continuidade.