Ciclone Idai: Rede humanitária alemã na ajuda a Moçambique
Rodrigo Vaz Pinto
10 de abril de 2019
A Aktion Deutschland Hilft esteve no terreno a avaliar as necessidades mais prementes após o ciclone Idai. Reconstrução e nutrição são algumas das prioridades.
Publicidade
Leo Frey faz parte da organização humanitária alemã Aktion Deutschland Hilft, que representa uma série de outras organizações que estão presentes na ajuda a Moçambique. Frey esteve por um breve período na cidade da Beira em Moçambique a fazer uma avaliação das necessidades mais prementes dos afectados pelo ciclone Idai. O representante desta organização foi para o terreno com a tarefa concreta de recolher informação e perceber quais as condições existentes para as várias instituições trabalharem.
"A Aktion Deutschland Hilft é uma rede de uma série de organizações de assistência humanitária. Essas organizações estão atualmente a ajudar as pessoas em Moçambique em diversos sectores, no seu socorro. Por exemplo, a World Vision está a distribuir comida e a ASB está a reconstruir instalações médicas. Neste momento, algumas organizações ainda estão no processo de definir exatamente por onde começar. Estão sobretudo a atuar na cidade da Beira", esclarece Leo Frey, que esteve em contacto permanente com várias Organizações Não Governamentais (ONGs) no terreno.
"A minha função foi de coordenador de comunicação e fui numa equipa de duas pessoas. O nosso foco era obter informação sobre as condições das pessoas, as condições da zona e das actividades dos membros da nossa organização", explica.
Campos agrícolas destruídos
Muita da ajuda está focada em salvar vidas e reconstruir as muitas infraestruturas que ficaram destruídas e debilitadas. Leo Frey lembra, no entanto, que há outros problemas a ter em conta e aponta que o estado dos campos agrícolas é preocupante.
"Ainda estamos na fase de emergência. Toda a gente está focada em salvar vidas. Todas as organizações vão estar presentes no terreno a longo prazo, especialmente no que toca ao aspeto da segurança da comida. O ciclone e as cheias destruíram as plantações, por isso, é muito importante que o próximo passo seja reconstruir os campos agrícolas locais. O foco a longo prazo, na minha opinião, tem de ser a agricultura, porque esta é a outra grande catástrofe que não é tão visível nos ecrãs, estas grandes plantações que foram destruídas. Este vai ser o grande desafio, vai pôr uma grande pressão na nutrição e vamos ter de alimentar milhares de pessoas".
Zonas inundadas alastram doenças
Ciclone Idai: Rede humanitária alemã na ajuda a Moçambique
Além de todas as urgências, ainda há pessoas a viver em situações precárias. Leo Frey testemunhou isso mesmo ao sobrevoar a cidade da Beira: "Se formos de helicóptero, já não vemos pessoas em cima dos telhados, mas ainda há casas que estão inundadas com os níveis de água a chegar aos 50 centímetros. Há pessoas a viver nessas zonas inundadas. Essas pessoas lavam ali as suas roupas e estão aí com as suas crianças. Claro que isto é um desafio de saúde enorme para prevenir a cólera e outras doenças. Se formos à zona de Metochira, [Nhamatanda, Sofala] toda a gente te vai dizer que o maior desafio é a necessidade de comida, urgentemente".
Todo a recuperação passará pelas organizações locais que terão um longo caminho pela frente. Leo Frey não tem dúvidas que será um trabalho que vai durar alguns anos. "No longo prazo a recuperação não dependerá das ONG's internacionais, mas dependerá também das organizações locais. Moçambique e cidade da Beira já eram vulneráveis antes do ciclone, mas este ciclone e estas cheias vão estar connosco por muitos anos.”
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.