Redes sociais em polvorosa com detenção de Manuel Chang
Júlia Faria
4 de janeiro de 2019
No Twitter e no Facebook, internautas defendem que Moçambique deve colaborar para a extradição do ex-ministro das Finanças para os EUA. Manuel Chang foi preso por alegado envolvimento em crimes financeiros.
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A detenção do ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, gerou uma onda de reações nas redes sociais. Na página do Facebook da DW (Português para África), a detenção é vista com bons olhos. Muitos internautas acreditam que o Estado moçambicano deve colaborar para a extradição de Chang para os Estados Unidos da América.
Para Albino Francisco Fumo, Moçambique "devia cooperar com os EUA com vista a se estabelecer a verdade. Afinal de contas, ele [Chang] é acusado de ter lesado o próprio Estado". El Magnifico Chihale concorda: "o Estado moçambicano tem o dever de colaborar e mostrar vontade de resolver esses assuntos. Lugar de criminoso é na cadeia".
Manuel Chang foi detido na África do Sul com base num mandado de captura emitido pelos EUA, por alegado envolvimento em crimes financeiros.
Entre a indignação e o humor
O escândalo envolvendo Manuel Chang foi recebido nas redes sociais com indignação, mas também com humor. Leovigildo Cossa sugere, ironicamente, que o povo moçambicano patrocine a extradição do ex-ministro "no caso de haver problemas de passagem e combustível."
José Domingos Mandlate Jr. também comenta que Moçambique devia "ajudar no dinheiro de combustível, porque são muitos os que precisam da boleia e os EUA ficam longe".
Ao responder a uma pergunta no Facebook sobre qual deveria ser o papel do Estado moçambicano no escândalo envolvendo o ex-ministro, Osvaldo Agostinho faz um trocadilho: o "papel" deveria ser "A4, com uma lista dos que com ele [Chang] devem ir".
Nas redes sociais, especula-se sobre outros nomes que poderão estar envolvidos no escândalo. O nome do ex-Presidente Armando Guebuza tem sido citado com frequência. Circula inclusive na Internet uma lista de possíveis alvos de mandados de captura internacionais, cuja veracidade não foi confirmada.
A ativista Zenaida Machado questiona no Twitter se o atual Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, terá tido conhecimento da suposta fraude enquanto ministro da Defesa:
Prisão de ex-banqueiros é comemorada
Até agora, são cinco os acusados no alegado esquema de fraude envolvendo empréstimos a empresas públicas moçambicanas, realizados à margem das contas, orçados em mais de dois mil milhões de dólares.
Além de Manuel Chang, foram detidos em Londres três antigos banqueiros do Credit Suisse, segundo maior banco da Suíça. A Procuradoria da Justiça de Nova Iorque investiga se os investidores foram deliberadamente enganados nos empréstimos. A acusação também se estende a Jean Boustani, um negociador supostamente envolvido no esquema, segundo a agência noticiosa Associated Press.
Estas detenções foram aplaudidas por moçambicanos na página do Facebook da DW (Português para África). Sacul Cardoso disse "gostar do trabalho que estão a fazer para o bem do povo moçambicano". Para Neezy Moz Prince, "os que se julgavam intocáveis estão a ser contrariados".
"Melhor notícia do ano", resumiu Yussuf Morgado. E 2019 acaba de começar.
Críticas ao silêncio do Estado
Manuel Chang foi preso no sábado (29.12) no Aeroporto Internacional Oliver Tambo, em Joanesburgo. O Governo moçambicano ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso, algo que também é criticado nas redes sociais.
"Nós queremos a responsabilização criminal e consequente devolução do dinheiro que desviaram […] o Estado moçambicano se mantém indiferente perante o sucedido", comentou o internauta Rodrigo Cuco.
Obras sobrefaturadas transformam Vilanculos em cidade-fantasma
Falta de transparência, obras inacabadas e a preços exorbitantes. Corrupção generalizada no Conselho Municipal de Vilanculos, em Inhambane, gera construções inacabadas, que não podem aproveitadas pela população.
Foto: DW/L. da Conceicao
O triplo do preço real
No Conselho Municipal de Vilanculos, na província moçambicana de Inhambane, os preços das obras estão a ser adulterados para beneficiar funcionários que recebem comissões ilegais de empreiteiros depois da adjudicação. Três balneários públicos ainda em construção custaram meio milhão de meticais aos cofres públicos, três vezes acima do preço normal.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Construções desnecessárias
O Conselho Municipal de Vilanculos construiu um alpendre com mais de 50
bancas. O investimento foi de 1,5 milhões de meticais, mas, há dois anos, quase ninguém ocupa esta infraestrutura. Os vendedores negam-se a ocupar as
bancas alegando que "não querem servir de fatura de alguém". A obra
não corresponde ao preço real segundo empreiteiros ouvidos pela DW África.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Obras continuam
As construções continuam em Vilanculos sem que ninguém ocupe as bancas. No mercado central, está a ser construído um novo mercado de peixes financiado pelo programa PROPESCA. O valor é de 9,6 milhões de meticais, quatro vezes acima do preço normal. A obra tem um prazo de 240 dias para ser executada e está a cargo da empresa Vilcon, cujo dono é investigado por fuga ao fisco.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Areia vermelha nas ruas principais
Muitas ruas na vila turística de Vilanculos não têm pavimento, mas o Conselho Municipal gasta mais com a colocação de área vermelha do que com paves. Os munícipes reclamam da degradação dos seus automóveis e questionam: "Por que gastar dinheiro com areia enquanto pode-se colocar paves ou saibro com o mesmo valor?". A colocação da areia vermelha facilita o esquema de corrupção no município.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Ruas em péssimo estado
Todos os anos, a Assembleia Municipal aprova o orçamento para a reabilitação desta rua do Mercado Novo. A via, no entanto, continua esburacada. O dinheiro sempre é dividido em comissões e resta pouco para a execução. A empreiteira selecionada é, há dois anos, a única empresa contratada para o efeito e não é sediada em Vilanculos, gerando o descontentamento de empresários locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Arrendamento caro
O sistema de corrupção no Conselho Municipal de Vilanculos tem foco na construção de novas bancas para facilitar a divisão do dinheiro entre os empreiteiros e os funcionários do órgão. É o caso concreto destas 12 bancas que foram construídas há dois anos no bairro 19 de Outubro, mas ninguém quer arrendar. Segundo os vendedores, o arrendamento está muito caro e não há rede elétrica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Uma residência que custa milhões
As obras superfaturadas em Vilanculos também envolvem o governo da província de Inhambane. Este projeto prevê um investimento de quase 83 milhões de meticais para a construção de uma residência protocolar. Entretanto, falta transparência. A obra tem duração prevista de cinco anos, mas não se sabe quando começou.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cadê o dinheiro?
O conselho empresarial de Vilanculos reclamou recentemente a reabilitação da Rua da Marginal para servir como cartão de visita aos turistas. Entretanto, anualmente tem se colocado areia vermelha para diminuir buracos de modo a permitir a circulação de viaturas, mas a rua continua em estado crítico. Os munícipes sempre questionam: Para onde vai o dinheiro da reabilitação desta via importante?
Foto: DW/L. da Conceicao
Corrupção de barba branca
A corrupção em Vilanculos vem desde há muito tempo. Em 2012, uma obra da reabilitação de uma avenida com quase três quilómetros custou quase 44 milhões de meticais aos cofres do município. A obra esteve a cargo da empresa chinesa Sinohydro e o financiamento veio do fundo de estrada. Até hoje, ninguém sabe
como tanto dinheiro foi gasto nesta obra.
Foto: DW/L. da Conceicao
Funcionários detidos por corrupção
Cerca de dez funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos foram indiciados pelos crimes de corrupção e adjudicação de obras acima do preço normal. Dois foram detidos no ano passado por vender terrenos na zona da costa. Mangais foram destruídos para dar lugar à construção de um hotel residencial. Um flagrante desrespeito à lei ambiental.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mangal vendido para dar lugar a hotéis
Boa parte da terra na costa foi adquirida por um empresário sul-africano que destruiu o mangal para construir condomínios. Alguns funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos ainda estão sendo ouvidos no gabinete de combate à corrupção. A lei ambiental moçambicana proíbe a destruição de mangais e prevê punições.