Onda de exonerações do novo Presidente angolano, João Lourenço, visou agora a administração do Fundo Soberano. Analistas aplaudem, mas dizem que soluções de João Lourenço deixam a desejar.
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As exonerações realizadas pelo Presidente de Angola têm sido aplaudidas em vários setores da sociedade angolana. Mas as soluções encontradas por João Lourenço não agradam a alguns analistas, que receiam que não se concretizem as reformas prometidas pelo chefe de Estado angolano.
Jorge Eurico, jornalista, lamenta a falta de sangue fresco nas nomeações do Presidente angolano. "Afinal, o que mudou? O antigo chefe de Estado exonerava de um cargo para colocar noutro, e, com João Lourenço, vemos que está a acontecer a mesma coisa", diz.
Em substituição de José Filomeno dos Santos, afastado da presidência do Fundo Soberano de Angola esta quarta-feira (10.01), o chefe de Estado angolano nomeou o antigo ministro das Finanças Carlos Alberto Lopes, que ocupava até aqui o cargo de Secretário para os Assuntos Sociais do Presidente da República.
"Tudo indica que há aqui um clube de amigos, pois tudo gira em torno das mesmas pessoas", comenta o jornalista.
Lopes será coadjuvado por Laura Alcântara Monteiro, Miguel Damião Gago, Pedro Sebastião Teta e Valentina de Sousa Matias Filipe, que atuarão como administradores executivos.
Também nesta quarta-feira, dois antigos primeiros-ministros foram nomeados para o cargo de administradores não executivos da Sonangol, a petrolifera estatal: Lopo do Nascimento e Marcolino Moco, este último um forte contestatário do chefe de Estado anterior, José Eduardo do Santos.
Reforma na continuidade?
O economista Precioso Domingos concorda que faltam quadros mais jovens. O Presidente angolano está a "acertar nas exonerações", mas parece "falhar nas nomeações", afirma.
As equipas que têm sido nomeadas revelam sinais de continuidade: ao "nomear doentes já em fase terminal, vê-se mesmo uma dança de cadeiras", refere o investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola. "Isso vem demonstrar que os cargos públicos em Angola são um lugar de sobrevivência."
Reformas em Angola? "Tudo indica que há um clube de amigos"
Apuramento de responsabilidades
Precioso Domingos espera, ainda assim, que haja mudanças na administração do Fundo Soberano, que gere ativos do Estado angolano de cerca de 5 mil milhões de dólares.
"Havia algum esforço do antigo Presidente do Conselho de Administração em apresentar lucros", refere o economista. Mas "acho que o Fundo Soberano fazia investimentos como se estes fossem fundos não transparentes, que resultassem de uma prática ilícita. Eu preferiria que o Fundo Soberano comprasse ativos em empresas credíveis, em mercados credíveis como os Estados Unidos e outros; que comprasse dívida pública ou ações em grandes empresas tecnológicas. Mas não, estava a investir na agricultura."
Recentemente, a imprensa internacional divulgou um esquema de desvio financeiro no Fundo Soberano de Angola, e a gestão de Filomeno dos Santos estava sob investigação, por decisão do Presidente João Lourenço.
O jornalista Jorge Eurico pede que se apurem responsabilidades. "Não basta ficar apenas pelas exonerações. O povo espera mais do que isso."
O ano de 2017 nos PALOP
Crises políticas, negociações de paz, eleições e secas marcaram este ano nos países de língua portuguesa em África. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: DW/N. Sul D Angola
João Lourenço exonera antigas figuras
Eleito em agosto, pondo fim aos 38 anos de José Eduardo Santos no poder, João Lourenço tomou posse na Presidência de Angola a 26 de setembro. JLo deu início a uma série de mudanças nos cargos da administração pública, exonerando antigas figuras do regime de JES, como o chefe da secretaria militar, o general António José Maria, tido como do círculo mais próximo do ex-Presidente.
Foto: Getty Images/AFP
O adeus de Isabel dos Santos à Sonangol
A mulher mais rica de África, filha de José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana a 15 de novembro. Isabel dos Santos fora nomeada pelo pai para o Conselho de Administração da empresa em meados de 2016, ato considerado ilegal segundo a lei angolana. Mesmo com o fim da carreira na Sonangol, ela continua forte no meio empresarial, sobretudo, em Portugal.
Foto: Reuters/E. Cropley
JES não abandona liderança
Eleito líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, em agosto, o ex-Presidente angolano não dá sinais qiue deixará de influenciar o cenário político do país, apesar das mudanças feitas pelo atual Presidente João Lourenço Em dezembro, JES exortou os militantes do partido a apoiarem as ações de João Lourenço.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Milhares de refugiados congoleses em Angola
Milhares de solicitantes de refúgio a fugir da violência na região de Kasai, na República Democrática do Congo, chegaram à Angola em 2017. Até julho, o país acolheu cerca de 30 mil congoleses. No campo de acolhimento de Kakanda, na província da Lunda Norte, chegam 500 pessoas por dia. Muitos centros de acolhimento improvisados ficaram sobrelotados.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Mbanza Congo é Patrimônio da Humanidade
A Comissão de Património Mundial da UNESCO declarou, por unanimidade, o centro histórico da cidade de Mbanza Congo, norte de Angola, como Património Mundial da Humanidade. A secular cidade angolana na província do Zaire foi capital do antigo Reino do Congo, fundado no século XIII. Dividido em seis províncias, o Reino do Congo dispunha de 12 igrejas, conventos, escolas, palácios e residências.
Foto: Universidade de Coimbra
Moçambique: combate seletivo à corrupção?
Em dezembro, foram detidos três arguidos no caso de corrupção da compra pela LAM de aviões Embraer do Brasil. O Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) divulgou o desvio em todo o país de mais cinco milhões de euros dos cofres públicos no terceiro trimestre. O Presidente Filipe Nyusi prometeu endurecer a luta contra a corrupção, mas responsáveis pelas dívidas ocultas continuam impunes.
Foto: Imago/Christian Thiel
Uma dívida impagável
O cenário económico é de incerteza para 2018, com doadores internacionais reticentes devido à falta de clarificação após as auditorias da consultora Kroll às dívidas ocultas envolvendo as empresas públicas EMATUM, ProIndicus e Moçambique Asset Management (MAM). Em 2017, o Governo moçambicano entrou em incumprimento financeiro por falhar em pagamento de prestações.
Foto: DW/M. Sampaio
A caminho da paz
A 4 de maio, o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, anunciou o prolongamento da trégua no país por tempo indeterminado. 2017 foi marcado por negociações entre o Presidente Filipe Nyusi, líder da FRELIMO, e o líder do maior partido da oposição. Dhlakama havia anunciado a assinatura de um acordo de paz definitivo para o final deste ano, o que ainda não ocorreu.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Ataques em Mocímboa da Praia
Em outubro e novembro, o distrito de Mocímboa da Praia, na província nortenha de Cabo Delgado, foi palco de ataques de extremistas islâmicos, que deixaram cerca de dez mortos, incluindo elementos das forças de segurança. Os atacantes estudam doutrinas religiosas na Tanzânia, Sudão e Arábia Saudita, onde recebem treinos militares, fora do controlo das instituições formais.
Foto: DW/G. Sousa
Guiné-Bissau: uma crise política sem fim
A CEDEAO manifesta "profunda preocupação" com a crise política na Guiné-Bissau. O Presidente José Mário Vaz (à direita na foto) pediu tempo para ultrapassar o impasse político, mas não obteve sucesso. Em entrevista à DW África, o primeiro-ministro Umaro Sissoco acusou o PAIGC de não querer cumprir o Acordo de Conacri. Em dezembro, a polícia proibiu uma manifestação de partidos de oposição.
Foto: DW/B. Darame
Liberdade de imprensa na Guiné-Bissau?
A 30 de junho, o Governo da Guiné-Bissau cortou o sinal das emissões da RTP África e da RDP no país. Em causa estava a revisão do acordo de cooperação entre os dois países na área da Comunicação Social. O caso gerou debate sobre a liberdade de imprensa na Guiné-Bissau e sobre a situação dos trabahadores afetados. As emissões foram retomadas em novembro após quatro meses suspensas.
Foto: DW/J. Carlos
Pior seca da história de Cabo Verde
O ano agrícola foi dado como perdido em Cabo Verde, devido à seca que afetou mais de 7 mil famílias em todo o país. A seca tomou conta das ilhas e teme-se o cenário de fome com terras extremamente áridas e plantações murchas em virtude da fraca precipitação. O desânimo e o desespero estão no rosto dos agricultores e criadores de gado.
Foto: DW/N.dos Santos
Transparência em São Tomé e Príncipe
Este ano, São Tomé e Príncipe fez "progressos significativos" ao nível da transparência da indústria extrativa, em relação a 2016. O país conseguiu melhorar a posição no "ranking" da Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extrativas (EITI), depois de divulgar quatro relatórios sobre os negócios petrolíferos na Zona Económica Exclusiva (ZEE) e na fronteira marítima com a Nigéria.