Com a crise política na Gâmbia, cerca de 3.500 pessoas procuraram refúgio na Guiné-Bissau. O apelo da Comissão de Apoio aos Refugiados é para que estas pessoas se registem e recebam apoio para regressar a casa.
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O apelo vai passar nas rádios do país. Segundo Sambé Na Wana, secretário executivo da Comissão de Apoio aos Refugiados, o objetivo é "chamar as pessoas oriundas da Gâmbia, que pretendem regressar à Gâmbia, para passarem nos postos que vamos indicar para fazerem a inscrição”.
Para os que não querem regressar vai ser preciso trabalhar na inserção, diz Sambé Na Wana.
No âmbito deste processo de ajuda da Guiné-Bissau, será dada, primeiramente, "assistência alimentar” e depois analisar como "conseguir meios financeiros para poderem regressar à Gâmbia”.
A situação na Gâmbia parece mais calma depois do Presidente cessante, Yahya Jammeh, ter deixado o país. O novo Presidente, Adama Barrow, está ainda no Senegal e não há uma data para regressar ao país. Barrow exige garantias de segurança e de uma operação militar dos países da África Ocidental.
O conselheiro do novo líder do país já encorajou todos os que deixaram a Gâmbia a regressarem.
Refugiados sem apoio
Os milhares de pessoas que chegaram à Guiné-Bissau provenientes da Gâmbia fugiam da incerteza política gerada com as eleições presidenciais de dezembro último.
Os que chegaram foram recebidos em casa de amigos ou familiares. Sem conseguir localizá-los a ajuda tornou-se mais difícil. "Essaspessoas até agora não foram apoiadas mas precisam de ser aumentadas as suas capacidades de resiliência”, nota Sambé Na Wana.
O facto de Jammeh ter aceitado deixar o país na sexta-feira (20.01) levou a Comissão de Apoio aos Refugiados a mudar de estratégia para o "retorno destas pessoas”.
"Não podem continuar na situação em que estão. Achamos que devem voltar. Devemos apoiá-los para poderem voltar para o seu país”, afirma Na Wana.
Situação de urgência
O secretário executivo da comissão entende que as organizações devem apoiar neste momento porque é uma "situação de urgência”. Na Wana nota que "por vezes tanta burocracia coloca as pessoas em situação difícil”.
"A população guineense já é pobre” e a situação pode agravar. "Por exemplo, há uma família que acolheu 22 crianças e essas crianças estão desacompanhadas. Imaginem a pressão que estão a colocar dentro dessa família”, acrescenta.
Número de entradas em queda
Segundo Sambé Na Wana houve "uma redução drástica” do número de pessoas a chegar da Gâmbia à Guiné-Bissau. Se houve dias em que foram 900 os indivíduos, na passada sexta-feira (20.01), o último dia de que há registo, entraram menos de uma centena de pessoas provenientes da Gâmbia.
23.01.2017 Guiné-Bissau / Gambia - MP3-Mono
A queda nas entradas na Guiné-Bissau coincide com os acontecimentos na Gâmbia. Adama Barrow tomou possse como Presidente na embaixada gambiana em Dacar.
Após uma ameaça de intervenção militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) Yahya Jammeh acabou por renunciar ao poder, tendo deixado o país no sábado (21.01).
O antigo Presidente gambiano estará exilado na Guiné Equatorial, membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A Guiné Equatorial não confirmou a informação.
Para quando a reforma?
São inúmeros os dirigentes africanos a multiplicar os mandatos na chefia do Estado, nalguns casos modificaram mesmo a Constituição para se manter no poder.
Foto: DW
Abdoulaye Wade
Presidente do Senegal desde 2000 e reeleito em 2007, Abdoulaye Wade encarnou durante algum tempo a mudança. O balanço dos seus 12 anos no poder é, no entanto, mitigado e muitos criticam o seu amor pela megalomania. A sua decisão de disputar uma vez mais , aos 85 anos, a corrida presidencial no Senegal foi muito contestada. Mas ele não é o único Chefe de Estado africano que não quer deixar o poder.
Foto: AP
Teodoro Obiang Nguema
Chegou ao poder em 1979 na sequência de um golpe de Estado. Venceu as eleições em 1989 e foi reeleito em 1996, 2002 e 2009. Uma reforma constitucional adotada em 2011 limitou o número de mandatos presidenciais a dois anos, mas o texto não diz a partir de quando se aplicará a regra. O mandato atual de Teodoro Obiang Nguema expira en 2016. O Presidente tem 69 anos.
Foto: AP
José Eduardo dos Santos
Aos 69 anos, José Eduardo dos Santos dirige Angola desde 1979, ou seja há quase 33 anos, sem nunca ter sido eleito. A nova Constituição de 2010 já não prevê a organização de eleições presidenciais. O presidente do partido com mais votos nas legislativas torna-se automaticamente presidente, o que significa que Eduardo dos Santos poderá manter-se no poder durante mais alguns anos.
Foto: dapd
Paul Biya
Aos 79 anos, Paul Biya lidera os Camarões há mais de 30 anos. Depois de escrutínios presidenciais criticados pela sua falta de transparência em 1997 e 2004, Paul Biya alterou a Constituição em 2007 para se poder manter no poder. Foi reeleito 2011 num sufrágio que a oposição considerou fraudulento.
Foto: AP
Yoweri Museveni
Chegou ao poder pela via das armas em 1986. O presidente ugandês pôs fim a uma ditadura. Aliado dos Estados Unidos, Yoweri Museveni dirige o país há 26 anos, graças a modificações sucessivas da Constituição. A última anula a limitação do número de mandatos, o que lhe permitiu ser reeleito em 2011, após um escrutínio fraudulento.
Foto: AP
Mswati III
O último monarca absoluto de África, Mswati III, sucedeu em 1986 ao seu pai Sobhuza II. Aos 43 anos, ele governa o seu país por decreto e recusa a democracia. A Suazilândia é um dos países mais pobres do mundo, onde cerca 26% da população está infetada com o vírus do HIV-SIDA.
Foto: picture-alliance/dpa
Blaise Compaoré
Aos 61 anos, Blaise Compaoré lidera o Burkina Faso há mais de 25 anos. Chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1987 e foi eleito pela primeira vez em 1991, num sufrágio boicotado pela oposição. Uma emenda da Constituição permitiu-lhe ser reeleito em 2005 e em 2010, oficialmente para um último mandato. Contudo os seus adversários estão convictos que ele se irá candidatar de novo em 2014.
Foto: AP
Idriss Déby Itno
Idriss Déby Itno nasceu em 1952 e começou a sua carreira como rebelde. Em finais de 1990, afasta do poder o seu antigo companheiro de armas, Hissène Habré, antes de ser designado Presidente do Chade em 1991. Alterará a Constituição em 2004 para se manter no cargo. Os rebeldes derrubá-lo, em 2006 e 2008, em vão. Em 2011 foi reeleito à primeira volta para um quarto mandato.
Foto: picture-alliance/dpa
Denis Sassou Nguesso
Denis Sassou Nguesso é um caso particular: chegou ao poder em 1979 no Congo (Brazzaville) e foi derrotado em 1992 nas primeiras eleições multipartidárias do país. Quando regressou do exílio em 1997, retomou o poder pela força. A Constituição adotada em 2002 limita a 70 anos a idade de um candidato à presidência. Denis Sassou Nguesso, de 69 anos, deverá portanto ceder o lugar em 2016.
Foto: AP
Robert Mugabe
Quando se tornou primeiro ministro em1980, Robert Mugabe encarnava a esperança do Zimbabué. Eleito presidente sete anos mais tarde, o "pai da independência" impõe um regime ditatorial e mergulha o antigo celeiro de África numa crise alimentar e financeira. Desde 2008, que partilha o poder com o seu rival Morgan Tsvangirai. O Zimbabué ainda espera pela reformas prometidas.