“Combater as causas da fuga” tem sido o lema das políticas de migração alemãs e europeias. Neste sentido, uma das medidas para resolver a chamada crise dos refugiados é o apoio financeiro aos repatriados.
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No centro de acolhimento e trânsito da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em Agadez, no Níger, muitos migrantes esperam receber apoio no regresso a casa, depois de terem abandonado a travessia do deserto em busca de uma vida melhor. O Níger é um país de trânsito incontornável para refugiados da África Ocidental a caminho da Líbia, rumo à Europa.
Ousseini Djibo, que dirige este acampamento, explica que muitos chegaram à Líbia, mas voltaram para Agadez. "É muito mau. São detidos em campos de prisioneiros do Estado ou privados. Quando conseguem sair de lá, vêm para aqui. Alguns estão feridos, muitos estão traumatizados”, conta Djibo,
Os migrantes deste acampamento querem voltar para casa. Não podem continuar na rota da migração. Sofreram abusos na Líbia ou perderam o trabalho ilegal que tinham na Argélia. É o caso de Moses Mo, de 39 anos, da Libéria. Não conseguia encontrar trabalho no seu país, juntou dinheiro e partiu rumo à Líbia. Chegou à Argélia, onde inicialmente encontrou emprego. Mas o empregador deixou de pagar aos migrantes.
Moses foi detido pela polícia e levado para a fronteira com o Níger. E a viagem chegou ao fim: "No total, gastei mais de mil dólares. Agora não tenho nada. Tiraram-me tudo, incluindo o telemóvel.”
Moses Mo veio para o Centro da Organização Internacional para as Migrações em Agadez, depois de ouvir que aqui poderia encontrar ajuda para regressar à Libéria. Ele está esperançoso: "Acho que eles vão ajudar-me a recomeçar a minha vida. Ajudar-me a sustentar a família.”
Dinheiro ajuda no regresso voluntário
Giuseppe Loprete, chefe da missão da Organização Internacional das Migrações está em Niamey, na capital do Níger. Afirma que, em 2016, a missão ajudou mais de 5 mil pessoas a regressar a casa de forma voluntária, três vezes mais do que em 2015. Em alguns casos, a organização tentou apoiar financeiramente os migrantes nos seus países de origem.
Até agora, o financiamento chegou apenas para alguns projetos-piloto: "Temos um novo contrato de financiamento da União Europeia e esperamos expandir estes programas a 14 países. Os repatriados já estão a caminho, agora temos de nos preocupar com as suas condições de vida nos países de origem.”
100 milhões de euros deverão ser investidos nestes projetos de apoio aos repatriados, principalmente em países da África Ocidental. A Organização Internacional para as Migrações e organizações parceiras estão a tentar promover a formação profissional, o apoio à criação de pequenas empresas e projetos comunitários.
Tal como em Agadez, no centro de trânsito de Niamey estão muitos migrantes que querem voltar para casa. Mas muitos temem este regresso, caso não consigam apoio financeiro: em muitos casos, gastaram todo o dinheiro da família na tentativa de emigrar.
Recursos limitados para a reintegração
A porta-voz da Organização Internacional para as Migrações em Niamey, Monica Chiria, sabe que as expetativas dos repatriados são altas. Mas reconhece que os recursos são limitados para o apoio à reintegração.
Chiria explica que "normalmente, apoiam-se mulheres, crianças, pessoas mais vulneráveis, que têm dificuldades em cuidar de si próprias", e revela os planos da OIM em Niamey: "Este ano, vamos lançar 20 micro-projetos para a reintegração. Isto permite-nos ajudar um grupo maior de pessoas, por exemplo, na agricultura. Cerca de 50 pessoas podem beneficiar de um projeto. Não investimos numa só pessoa. Esperamos que corra bem.”
Muitos repatriados poderão vir a receber apoio. Mas, só em 2016, segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 420 mil pessoas passaram pelo Níger em direção à Argélia e à Líbia.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.