Embaixada do Ruanda é o "centro operativo" de crimes
25 de outubro de 2021A representação diplomática do Ruanda em Moçambique é vista como um "centro operativo" que ordena as execuções e sequestros de dissidentes ruandeses pela Associação dos Refugiados Ruandeses.
Em entrevista à DW, o presidente da associação, Cleophas Habiyareme questiona também o silêncio da comunidade internacional face aos repetidos crimes que nunca foram esclarecidos.
DW África: A comunidade internacional permanece calada face aos assassinatos e sequestros de dissidentes e jornalistas ruandeses que acontecem um pouco por todo o mundo. Espera algo diferente no caso de Revocat Karemangingo?
Cleophas Habiyareme (CH): É muito triste porque realmente a comunidade internacional devia intervir e pedir a Moçambique para clarificar todos esses casos. São muitos casos, muitas vozes que pedem socorro e que pedem justiça e o meu desejo é que houvesse essa intervenção internacional.
DW África: Como cidadão ruandês, confia na embaixada do seu país em Moçambique?
CH: Posso dizer que a embaixada está implicada em tudo o que tem acontecido. Nesses desaparecimentos, assassinatos.... A Embaixada do Ruanda aqui em Moçambique está por dentro desses acontecimentos.
DW África: Então acredita que a Embaixada seja uma espécie de "centro operativo" dos assassinatos e dos sequestros dos ruandeses em Moçambique?
CH: Sim, acredito que sim.
DW África: Se não acontecer nada e nenhuma instância internacional se pronunciar qual será o próximo passo da Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique?
CH: É muito difícil responder a essa questão. Já são muitos casos e nós, enquanto refugiados, não podemos fazer nada. A comunidade internacional tem responsabilidades de, nestes casos, tentar perceber o que está a acontecer aqui em Moçambique. Não sei o que vamos fazer a seguir mas , de facto, se a comunidade internacional não fizer nada, está a criar uma situação complica. Nós também somos seres humanos e se não se fizer nada, irá acontecer o pior.
DW África: A nível de Moçambique tem havido interesse da sociedade civil em apoiar a comunidade ruandesa a esclarecer esses casos, nomeadamente o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD). Que resultados já saíram desses encontros?
CH: Sim, de facto a sociedade civil aqui está a ajudar assim como os próprios meios de comunicação também. Mas, até hoje, mesmo com esse apoio do CDD e de jornalistas, não estamos a ver nenhuma reação do governo.
DW África: Kagame terá entregue uma lista ao Presidente Filipe Nyusi com vinte nomes de pessoas que procura. Sabe alguma coisa sobre essa lista?
CH: Na verdade, ouvimos dizer que há uma lista, mas essa lista não é "oficial". Se a memória não me falha, isso começou em 2009 em que o Governo do Ruanda pediu nove indivíduos que eram refugiados aqui em Moçambique. Foi no tempo do Presidente Armando Guebuza e não havia nenhum acordo que determinava a entrega - daqueles que o governa considera criminosos - ao Governo de Kigali. Até hoje não sei se realmente esse acordo foi assinado e que estabeleça a extradição, de Moçambique, desses supostos criminosos.