"Regeneração" da Sonangol deve custar 40 milhões de euros
Lusa
15 de novembro de 2018
Programa de Regeneração da petrolífera angolana Sonangol vai custar 40 milhões de euros e será implementado em três anos. O objetivo é tornar o grupo estatal "mais rentável". Direção não prevê demissões.
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O Programa de Regeneração da Sonangol, que, segundo a direção da petrolífera, "não prevê redução de pessoal, mas sim a redução da pesada burocracia interna", foi apresentado esta quinta-feira (15.11), em Talatona, no sul de Luanda, pelo presidente do conselho de administração da empresa pública, Carlos Saturnino.
Segundo a administração, este programa, cuja "fase zero" arranca hoje e decorre até ao final de 2018, é fruto de um trabalho de reflexão, identificação, diagnóstico e levantamento completo feito ao longo dos últimos 11 meses, tendo sido elaborado "por pessoas e para pessoas".
Numa conferência de imprensa, que decorreu no auditório do Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências (ISPTEC), Carlos Saturnino referiu que "os problemas" da petrolífera "estão identificados".
De acordo com o presidente do conselho de administração, o Programa de Regeneração foi concebido com "transparência máxima possível", sendo que, explicou, o Governo angolano aprovou a intenção inicial de contratar até 43,85 milhões de euros, com a Sonangol a propor uma redução para cerca de 40 milhões de euros.
"O valor final que a Sonangol discutiu para consultoria vai ficar a um montante inferior aos 43 milhões de euros. Acreditamos que o valor final rondará os 40 milhões de euros, estão a afinar-se os detalhes", explicou.
Propósitos da estratégia
Questionado sobre se o Programa, cuja primeira fase compreende 150 dias "para desenvolver medidas que libertem sinergias para grupo", prevê a redução de trabalhadores, a administração assegurou que tal medida "não consta" nos propósitos da estratégia ora apresentada.
"Este Programa foi feito de pessoas e para pessoas (...) O nosso objetivo principal não é despedir pessoas, mas sim realinhar as atividades da empresa à sua atividade principal, que é exploração, produção, comercialização, desenvolvimento de hidrocarbonetos", indicou.
Olhando para as ações de 19 subsidiárias que integram a estrutura da petrolífera estatal angolana, Carlos Saturnino reafirmou que a mesma "será emagrecida", admitindo que a estrutura organizacional da Sonangol é uma "máquina pesada".
"É uma máquina grande em termos de burocracia para tomar decisões. O atual ambiente empresarial e a capacidade financeira do grupo não se coaduna com as melhores práticas de gestão de um grupo empresarial. A sobrevivência da Sonangol obriga que a empresa tenha de mudar, de ser reestruturada", sustentou.
Aumento da produtividade
Contribuir para a melhoria do desempenho do setor petrolífero em Angola, impulsionar e intensificar a atividade para substituição de reservas e aumento da produção de hidrocarbonetos a médio e longo prazo são alguns dos objetivos do Programa de Regeneração.
O programa perspetiva ainda a promoção do aumento da quota de produção interna de petróleo bruto, reforçando o papel da Sonangol Pesquisa e Produção, "tornando-a mais eficiente", e o incremento da capacidade interna de produção de refinados, "para reduzir a dependência das importações".
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.