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Reino Unido alerta para risco de "distúrbios" em Moçambique

Lusa
14 de dezembro de 2024

As autoridades britânicas alertaram os seus cidadãos em Moçambique para que se preparem para possíveis "perturbações e distúrbios" nos próximos dias, com a aproximação da proclamação dos resultados eleitorais.

Pneus ardem no centro de Maputo, capital de Moçambique, no dia 7 de novembro de 2024, durante os protestos pós-eleitorais
Protestos em outubro e novembro em Moçambique fizeram dezenas de mortos e provocaram estragos avultadosFoto: Amós Fernando/DW

Uma informação enviada sexta-feira aos viajantes pelo Foreign Commonwealth & Development Office (FCDO), responsável pela proteção dos interesses e cidadãos britânicos no exterior, apela que estes "devem preparar-se para perturbações e distúrbios significativos em Moçambique a partir da semana de 16 de dezembro", bem como "nas semanas seguintes ao anúncio" dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro.

"Espera-se que o Conselho Constitucional valide os resultados das eleições presidenciais por volta de 23 de dezembro", recorda a informação, notando que "protestos e manifestações continuam a ocorrer com curto prazo de aviso em Moçambique".

"Estes podem ser imprevisíveis e mesmo os protestos pacíficos podem tornar-se violentos e causar vítimas", refere ainda a informação, alertando que "estradas e passagens de fronteira podem ser restringidas, bloqueadas ou fechadas a curto prazo".

A presidente do Conselho Constitucional (CC) moçambicano, Lúcia Ribeiro, afirmou na quarta-feira (12.12) que aquele órgão vai analisar "as discrepâncias" nos resultados anunciados das eleições gerais de outubro na próxima semana, mas que não está a fazer recontagem dos votos.

"Dizer que o CC não está a fazer a recontagem de votos", afirmou Lúcia Ribeiro, durante uma reunião com representantes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, maior partido da oposição), justificando a decisão com o facto de a própria Comissão Nacional de Eleições (CNE) ter admitido, quando anunciou os resultados do apuramento geral, "discrepâncias entre as três eleições, mas que não tinha tido tempo para verificar".

"Então, o CC, sendo um órgão jurisdicional, não pode vir dar essa mesma resposta. Mas fica uma curiosidade e uma responsabilidade e um dever de perceber por que razão é que há discrepância e onde é que existem essas discrepâncias. A partir de onde é que começou a existir essa discrepância", afirmou a presidente do Constitucional, órgão que tem a competência de validação e proclamação dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro, que incluíram presidenciais, legislativas e provinciais.

"Mas neste caso, em que há um clamor relativamente aos números, então é da responsabilidade do CC, que tem que assinar estes mapas, estes números (...). Nós pensamos que cabia a nós mesmos verificar qual era o problema e onde está esse problema. Notificámos a CNE para nos explicar por que razão tinha havido as discrepâncias e essa resposta consta do processo, que será depois avaliada na próxima semana, quando nos sentarmos, já para avaliarmos os números", avançou Lúcia Ribeiro.

Lúcia Ribeiro justificou que o processo eleitoral moçambicano implica primeiro a validação e só depois a proclamação dos resultados, conforme legislação aprovada pelo parlamento, contrariamente ao que acontece noutros países, que proclamam os vencedores do escrutínio com prazos substancialmente mais curtos e que só depois decidem o eventual contencioso, sendo em Moçambique o CC o último órgão de decisão.

Ainda assim, admite que este processo, marcado em 2024 por manifestações e paralisações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições - que ainda carecem de validação do CC - de contestação aos resultados anunciados pela CNE, que já provocaram mais de uma centena de mortos, vem demonstrar que é necessário "repensar futuramente o sistema eleitoral".

Embora sem prazos concretos, dada a aproximação do final da atual legislatura, em 12 de janeiro, o CC tem até 23 de dezembro para proclamar os resultados destas eleições gerais.

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