Reino Unido e França reforçam segurança nas fronteiras
mjp | Lusa | Reuters
19 de janeiro de 2018
O Reino Unido vai investir 50 milhões de euros no reforço da segurança nas fronteiras com a França. O anúncio foi feito quinta-feira pela primeira-ministra britânica, Theresa May, no final da cimeira anglo-francesa.
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"O Reino Unido e a França continuam comprometidos com os princípios do tratado de Le Touquet, segundo o qual o Reino Unido pode controlar a fronteira em território francês. E hoje acordámos medidas adicionais para aumentar a eficácia da nossa cooperação", disse esta quinta-feira (18.01) a primeira-ministra britânica, no final da 35.ª cimeira anglo-francesa, que decorreu na Real Academia Militar de Sandhurst, centro de treino do Exército britânico no sul do país.
Theresa May anunciou o investimento de mais 50 milhões de euros no reforço da segurança na fronteira do canal da Mancha, nomeadamente em vedações, videovigilância e sensores infravermelhos na cidade de Calais e em outros pontos do norte de França.
Assinado em 2003, o acordo de Le Touquet permitiu a presença de agentes de controlo da imigração franceses nos postos de fronteira britânicos e agentes britânicos no lado francês. O entendimento prevê que os imigrantes ilegais sejam impedidos de passar para o Reino Unido, ficando retidos em território francês.
Porém, o resultado é que frequentemente ficam aglomerados em campos de abrigo temporários como Calais, designado por "Selva", que chegou a acolher cerca de 8 mil migrantes até ser desmantelado em 2016.
Uma situação que não deve repetir-se, frisou Emmanuel Macron, que visitou Calais na terça-feira (16.01), onde testemunhou as dificuldades no terreno. "As condições de vida das pessoas em Calais não são satisfatórias. Por isso, os nossos ministros do Interior assinaram um novo tratado, o acordo de Sandhurst, que permitirá melhorar a gestão desta fronteira conjunta", anunciou.
Reino Unido pressionado
A França tem estado a aumentar a pressão sobre o Reino Unido para aceitar mais refugiados e aumentar o investimento na segurança das fronteiras para manter o acordo de Le Touquet.
Além dos 50 milhões anunciados por Theresa May, Londres compromete-se a ajudar a transferir pessoas que se concentram nos portos franceses e a acolher mais migrantes que chegam à região, sobretudo crianças não acompanhadas com familiares no Reino Unido.
Reino Unido e França reforçam segurança nas fronteiras
A primeira-ministra britânica sublinhou a importância de impedir a chegada de migrantes ilegais a Calais, onde cerca de 600 pessoas ainda vivem nesta situação. "A acção das autoridades francesas, com o nosso apoio, tem sido eficaz. Mas ainda há migrantes em Calais e queremos reduzir o número de pessoas que tentam chegar ao porto e atravessar para o Reino Unido."
O gabinete da primeira-ministra britânica também já tinha anunciado o envio de três helicópteros para o Mali, para dar apoio logístico às tropas francesas no combate aos extremistas islâmicos na região do Sahel.
Cooperação pós-Brexit
Lado a lado numa conferência de imprensa no final da cimeira, May e Macron frisaram que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) não dominou as conversações bilaterais.
O Presidente francês garantiu que a relação "única" entre os dois países não será afetada pelo Brexit. A primeira-ministra britânica lembrou que a parceria com a França é importante não só para a segurança dos dois países, mas também para toda a Europa.
O investimento de 50 milhões de euros na segurança fronteiriça anunciado esta quinta-feira é visto como parte da estratégia de May de usar a defesa como um dos argumentos mais fortes para ganhar vantagem nas negociações para a saída do Reino Unido da UE.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.