As vantagens mútuas da nova era de relações entre os dois países: o papel importante que Angola tem para a estratégia russa em África e a importância do investimento russo em Angola.
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A independência de Angola foi conquistada também graças ao apoio da União Soviética e no tempo da guerra fria a cooperação militar com esse país permitiu ao MPLA, partido no poder, derrotar os seus inimigos e reafirmar o seu poder.
Mas o historiador José Milhazes, entendido sobre as relações entre os PALOP e a ex-União Soviética, hoje Rússia, lembra que no campo do desenvolvimento sócio-económico a cooperação foi pouco significativa porque a União Soviética não tinha formas de ajudar países como Angola noutros setores que não fosse no domínio militar, com a exceção do envio de médicos e a exploração de diamantes.
Mas as dinâmicas atuais determinam outras abordagens, entende Milhazes: "Penso que as relações irão aumentar mas noutras plataformas, primeiro Putin não está disponível a exercer a beneficiência do internacionalismo proletário, ou seja, a fornecer o que quer que seja gratuitamente. Está sim, interessado em cooperar no campo económico com interesses para ambas as partes. E penso que esta também é a posição de Angola e penso que esta nova abordagem das duas partes é mais eficaz."
Vale todo o tipo de investimentos?
E o Presidente de Angola iniciou uma visita a Rússia esta segunda-feira (01.04.). Em Moscovo, João Lourenço pediu maior investimento russo, deixando claro que há um espaço que não está a ser aproveitado pela Rússia.
A negociação da instalação de uma fábrica de armamento em Angola estaria na agenda do estadista angolano, algo que responderia positivamente a esta necessidade de investimento.
O analista angolano Manuel Muanza diz que "a indústria, armamentista ou não, cria empregos. E o interesse de Angola neste momento é que qualquer investimento deve criar emprego e para além disso há também os recursos que o Estado recebe por via dos impostos para o seu orçamento, penso que isto é importante. No caso a Rússia teria o interesse de ter a sua influência na região construindo aqui teria a possibilidade de influenciar os diferentes estados em relação ao que pretende para a região."
Angola é a aposta da Rússia em África?
Embora seja pragmático quanto ao assunto, Muanza lembra que o inconveniente da instalação de uma indústria armamentista é o perigo de fomentar a presença das armas e assim constituir um perigo para o ser humano.
Relações Angola - Rússia: Transição da ideologia ao dinheiro
Quanto aos interesses russos na cooperação, José Milhazes sublinha que "Putin tem um programa concreto para avançar os interesses da Rússia no continente africano, programa esse que é cada vez mais fundamental para a Rússia num momento em que sofre sanções por parte dos EUA e da União Europeia."
O historiador afirma ainda que "a Rússia está interessada em investir, e investe já, em setores como o petróleo, os diamantes e noutras áreas concretamente em Angola, como por exemplo nas pescas, onde poderá vir a haver investimentos já numa base comercial e não numa base ideológica como acontecia no tempo do Presidente José Eduardo dos Santos."
Mas quanto a Angola ser a grande aposta da Rússia como uma espécie de ponta de lança em África nesta nova nova abordagem russa Milhazes mostra-se reticente: "Não seria tão optimista, mas Angola tem um papel importante na estratégia russa em África, porque a Rússia como é sabido, tem interesses em outros países nomeadamente no Zimbabué e na República Centro-Africana, dai que Angola será um parceiro importante em África."
Mas Milhazes destaca o papel de João Lourenço no reforço das relações entre os dois países: "Devemos recordar que na direção de Angola, nomeadamente o Presidente João Lourenço é um homem que conhece bem a Rússia, viveu e estudou lá, e certamente que isso irá contribuir também para o restabelecimento de relações estreitas entre a Rússia e Angola, até porque esse parece ser o desejo de ambos os lados."
África em 2018: Entre a esperança e o medo
Terrorismo em Moçambique e no Mali, combate à corrupção em Angola e na África do Sul, paz entre a Etiópia e a Eritreia, Camarões e RDC em crise. 2018 foi um ano turbulento em África. Uma retrospetiva em imagens.
Foto: Privat
Combate à corrupção e desigualdade social na África do Sul
No início do ano, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, cede à pressão do Congresso Nacional Africano (ANC) e abandona o cargo, após nove anos no poder. Tem de responder em tribunal por corrupção, lavagem de dinheiro e fraude. O seu sucessor, Cyril Ramaphosa, lança um plano de reforma agrária para lutar contra as desigualdades sociais no país.
Foto: Reuters/N. Bothma
Reconciliação no Quénia
Em março, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, e o líder da oposição, Raila Odinga, chegam a acordo para o fim da crise política. A oposição tinha boicotado a repetição das eleições do ano anterior, devido a suspeitas de manipulação. Odinga chega a "tomar posse" como "Presidente do povo", mas os líderes decidem pôr as diferenças de lado para dar início ao "processo de construção do Quénia".
Foto: Reuters/T. Mukoya
Sociedade civil sob pressão na Tanzânia
O Presidente John Magufuli torna-se cada vez mais autoritário e a sociedade civil da Tanzânia enfrenta inúmeras restrições. As mulheres grávidas são proibidas de ir à escola e os homossexuais são cada vez mais reprimidos. No final do ano, várias organizações internacionais suspendem os apoios financeiros ao desenvolvimento do país, exigindo ao Presidente que respeite os direitos humanos.
Foto: DW/V. Natalis
Mais de 20 anos depois, paz entre Etiópia e Eritreia
A companhia aérea "Ethiopian Airlines" chama-lhe "pássaro da paz": em julho, um avião parte de Addis Abeba para Asmara. É o primeiro voo direto entre os dois países vizinhos, antigos rivais. Famílias separadas há anos podem finalmente abraçar-se com o início do processo de reconciliação entre a Etiópia e a Eritreia, pela mão do novo primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.
Foto: Ethiopian Broadcasting Corporation
O fim do nepotismo em Angola?
O Presidente angolano, João Lourenço, combate o nepotismo no país. Em setembro, a luta atinge José Filomeno dos Santos, Zenú: o filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é detido sob acusações de corrupção. A irmã, Isabel dos Santos, já tinha sido exonerada no ano anterior da presidência do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol.
Foto: Grayling
RDC: Joseph Kabila de saída
Após muitos avanços e recuos, o Presidente da República Democrática do Congo anuncia, finalmente, que não vai candidatar-se às eleições de dezembro. O "delfim" do chefe de Estado é o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary. Figuras proeminentes da oposição como Jean-Pierre Bemba e Moïse Katumbi são impedidos de entrar na corrida. E a oposição continua dividida.
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Extremismo islâmico continua a ameaçar o Mali
A situação de segurança no Mali mantém-se frágil, apesar da presença de tropas internacionais, como os soldados do Exército alemão em missão de treino, na foto. Nas presidenciais de agosto, após ameaças de radicais islâmicos, várias centenas de um total de 23 mil assembleias de voto são encerradas. Após alguns protestos da oposição, o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta é empossado novamente.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Nobel da paz para Nadia Murad e Denis Mukwege
A defensora dos direitos humanos iraquiana e o médico congolês dedicam a vida à luta contra a violência sexual como arma de guerra. O ginecologista Denis Mukwege trata mulheres vítimas de violência sexual no hospital de Parzi, que fundou no leste da República Democrática do Congo.
Segundo a Amnistia Internacional, 400 pessoas morreram este ano no conflito entre o Governo dos Camarões e separatistas. As escolas estiveram várias vezes de portas fechadas e o mesmo aconteceu com muitas assembleias de voto nas eleições de outubro. Apenas 53% dos camaroneses conseguiram votar. Paul Byia foi eleito para um oitavo mandato na Presidência.
Foto: DW/H. Fotso
Moçambique: Terror em Cabo Delgado
Homens armados desconhecidos atacam esquadras, incendeiam casas e veículos e disparam contra a população na província nortenha. Os atacantes serão maioritariamente muçulmanos, mas as autoridades rejeitam uma ligação entre os ataques em Cabo Delgado e grupos radicais islâmicos. Em outubro, mais de 200 suspeitos de terrorismo são detidos. Onda de violência já fez 100 vítimas mortais.
Foto: Privat
Da Alemanha para África: Revisão das parcerias
Na cimeira de Berlim, em outubro, faz-se um balanço do programa "Compact with Africa" de cooperação alemã com o continente africano. O número de empresas alemãs a investir em África cresce a um ritmo lento. A chanceler Angela Merkel - na foto, entre o Presidente do Ruanda Paul Kagame e Cyril Ramaphosa, da África do Sul - anuncia um novo fundo de investimento de mil milhões de euros.