Relações económicas UE - África: Vantagens para quem?
Daniel Pelz | Glória Sousa
12 de junho de 2017
Decorre esta segunda e terça-feira (11/12.06.), em Berlim, a conferência “G20 Parceria Africana”. Um ponto controverso nas relações África – União Europeia são os Acordos de Parceria Económica.
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A conferência do G20 sobre África, subordinado ao tema "Investir num futuro comum", pode ser uma oportunidade para abrir portas na cooperação África - Europa. É a opinião de Gyekye Tanoh, da Rede de Comércio Africano, uma organização não-governamental do Gana.
Ainda segundo ele, "a iniciativa do Governo alemão, com a conferência do G20 para África, mostra que há novas abordagens a ser analisadas. Nunca se sabe que oportunidades podem surgir e que mais tarde possam levar a algo mais sustentável, igualitário e democrático para todos.”
Parcerias vantajosas para quem?
Um ponto de discussão entre os dois continentes são os chamados Acordos de Parceria Económica. O objetivo é a União Europeia abrir os mercados aos produtos provenientes de África. Em troca, os países africanos abrem portas aos bens europeus.
Mas Gyekye Tanoh, da organização Rede de Comércio Africano, teme que as importações de produtos baratos europeus prejudiquem as economias africanas. Segundo Tanoh "não é possível ter igualdade entre forças desiguais. Senão, está-se simplesmente a reproduzir essa desigualdade. Portanto, a intenção de ter comércio livre entre a União Europeia e diferentes regiões africanas vai contra as capacidades e interesses das regiões mais fracas, que são regiões africanas.”
12.06.17 Acordos de Parceria Económica - MP3-Mono
De acordo com um estudo da Comissão Económica das Nações Unidas para África, os países da África Oriental podem perder mais de um milhão de dólares com a entrada de produtos europeus sem impostos, ao abrigo dos Acordos de Parceria Económica.
UE quer terminar acordo com África Oriental
Por isso, países como a Tanzânia já disseram não. Como consequência, a União Europeia pretende cancelar o acordo com os restantes países da região da África Oriental, nomeadamente Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda, além da Tanzânia.
Mesmo assim, Remco Vahl, da direção de Comércio da União Europeia não fala em fracasso: "Por um lado, não é o ideal, porque pensei que tínhamos um acordo com os cinco países. Mas, por outro lado, é perfeitamente legítimo. Este acordo foi concebido para ser regional. Se a região, no seu todo, não está preparada para avançar neste ponto, nós respeitamos totalmente.”
Outros países, como os Camarões, Ruanda e Quénia, vêem os Acordos de Parceria Económica com a União Europeia como uma oportunidade.
Vimal Shah, presidente do conglomerado queniano Bitco, considera que os Acordos podem trazer prosperidade, mas há que salvaguardar África das importações baratas da Europa: "Temos de nos tornar competitivos, a nível das nossas infraestrutura, rotas para os mercados e necessidades logísticas. Para que isso aconteça, é preciso muito mais comércio e que esse comércio seja nos dois sentidos. Se exportarmos tudo através do porto de Mombaa e não importarmos nada, teremos um grande problema.”
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
Foto: picture-alliance/Tong jiang
Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.