Baltazar Fael, do CIP, afirma que estamos perante "uma oportunidade flagrante para a Procuradoria Geral da República mostrar que não está aliada ao poder político”.
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Analistas em Moçambique consideram que o relatório da Kroll sobre as dívidas ocultas deve ser publicado integralmente com os nomes dos implicados no processo. Os profissionais dizem que a Procuradoria Geral da República (PGR) tem uma oportunidade para provar que não está aliada ao poder político.
Em entrevista à DW África, Fernando Gonçalves, jornalista e analista, afirma que a Procuradoria Geral da República não se deve esconder sob argumento de presunção de inocência. "Acho que é um exercício inútil a não publicação dos nomes. Quando o relatório diz o indivíduo B é posição B sabemos que se está a falar do ministro das Finanças. Quando se diz indivíduo A sabemos que se está a falar do PCA das empresas. O relatório descreve a ação e tenta ocultar nomes, então eu acho que não era necessário esses trabalho todo", explica.
Para este analista, as autoridades moçambicanas devem ter maior abertura sobre o destino do dinheiro. Acrescenta ainda que deve haver uma prova clara de que os dois mil milhões se destinaram a interesses da sociedade moçambicana. "Neste momento, o próprio relatório fala de 500 milhões de dólares que não se sabe onde é que estão. Não é possível que isso aconteça", assevera Fernando Gonçalves, acrescentando que: "se você tem dinheiro no banco, chega lá quer o dinheiro e dizem que ele já não existe ... portanto, não é possível que 500 milhões de dólares desapareçam sem ninguém saber onde é que foram”.
04.07.2017 Moçambique-dívidas - MP3-Mono
Vários círculos sociais entendem que o relatório quer ilibar o antigo Presidente da República, Armando Guebuza, e o atual presidente, Filipe Nyussi, que foi antigo ministro da defesa e que também assinou a contração das dívidas.
O relatório, como esclarece Fernando Gonçalves, não acusa ninguém, mesmo com a ocultação de nomes. Para o analista, "o facto de o ser humano ser conhecido não pode implicar que se esteja a culpabilizar essa pessoa. De tal forma que, quando alguém é indiciado perante o tribunal e é constituído arguido, cabe ao tribunal ilibar ou condenar a pessoa conforme for o caso".
Também o Centro de Integridade Pública (CIP) diz não fazer sentido que se ocultem os nomes. Segundo Baltazar Fael, deste organismo, a ocultação dos nomes não está juridicamente prevista", na medida em que "o segredo de justiça não abrange quando se está a falar de pessoas envolvidas nos casos". Abrange apenas "matérias processuais e não nomes de pessoas".
Ação da PGR
O envolvimento de indivíduos neste processo com "peso na sociedade” está a trazer muita preocupação no seio da sociedade. Baltazar Fael afirma que as "reticências na sociedade surgem por causa da atuação da PGR" que nunca foi "proativa, acutilante e firme". O que vai deixando, acrescenta Baltazar Fael, "as pessoas um pouco na dúvida quanto ao envolvimento de certas figuras que têm um peso muito grande na sociedade".
O pesquisador Baltazar Fael afirma ainda não acreditar que a "PGR não faça nada para tentar esclarecer este caso". Na sua opinião, "esta é uma oportunidade flagrante de a PGR mostrar que, de facto, não está aliada ao poder político”.
A auditoria às dívidas ocultas de Moçambique deixou por esclarecer o destino dos dois mil milhões de dólares contraídos por três empresas estatais entre 2013 e 2014
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.