Várias pessoas ficaram feridas, quando as forças de segurança congolesas reprimiram manifestações, este domingo (31.12), na capital da RDC. Há relatos de dois mortos em Kinshasa, além de diversas detenções.
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Segundo a organização não governamental Human Rights Watch, as forças de segurança congolesas balearam dois homens. Eles teriam sido mortos fora de uma igreja, no distrito de Matete, em Kinshasa, de acordo com Ida Sawyer, diretora da HRW na África Central.
A agência AFP contabilizou cerca de 10 feridos, depois que a polícia irrompeu em aglomerações em igrejas no centro da capital. Os oficiais também detiveram garotos de 12 anos de idade, trajando suas vestes litúrgicas fora de uma igreja, enquanto conduziam uma marcha.
Na cidade central de Kananga, um repórter da AFP, que está a cobrir a manifestação, relatou ter visto quando soldados abriram fogo contra os manifestantes, atingindo um homem.
Um oficial ameaçou atirar em jornalistas que cobrem a agitação e um jornalista da estação de rádio francesa RFI foi detido por pouco tempo, segundo os repórteres da AFP.
O porta-voz da polícia, Pierrot Mwanamputu, negou que as forças de segurança tenham usado fogo real contra os manifestantes.
"Estamos operando durante o dia. Todo mundo está a observar-nos. Não é à noite ", disse ele.
Mas, uma testemunha ouvida pela agência Reuters, relatou ter visto duas pessoas feridas por tiros, no braço e na perna, em um hospital local.
Denúncias de detenções
Cerca de 50 pessoas foram presas em Kinshasa e pelo menos sete pessoas ficaram gravemente feridas, disse Georges Kapiamba, ativista dos direitos humanos. Outras 25 pessoas teriam sido presas e mais três ficaram gravemente feridas, na cidade do sudeste de Kamina, acrescentou o ativista.
Mwanamputu confirmou que os polícias detiveram manifestantes que bloquearam estradas, mas não informou números.
As forças de segurança foram distribuídas por toda a cidade de 10 milhões de habitantes e testemunhas relataram várias operações policiais contra manifestantes em igrejas, segundo a AFP.
Os manifestantes exigem que o Presidente Joseph Kabila prometa que não tentará permanecer no poder na RDC.
Kabila está à frente do país desde 2001. As eleições para substituí-lo foram adiadas consecutivamente e estão, atualmente, marcadas para dezembro de 2018.
Gás lacrimogéneo nas igrejas
No distrito de Bandalungwa, em Kinshasa, forças de segurança dispararam gás lacrimogéneo em uma igreja, criando pânico, disse à agência Reuters o líder da oposição, Vital Kamerhe, que estava presente na missa.
"Enquanto estávamos a orar, os soldados e a polícia entraram e dispararam gás lacrimogéneo na igreja" onde estava a ser realizada a missa, confirmou um homem à AFP.
Na Catedral Notre-Dame, em Gombe, no norte de Kinshasa, as forças de segurança também dispararam gás lacrimogéneo, quando o líder da oposição, Felix Tshisekedi, chegou, segundo jornalistas da AFP.
O pároco pediu aos devotos que "voltem para suas casas em paz, porque há uma presença forte de soldados e policiais prontos para disparar".
Mais cedo, o Governo da RDCongo havia ordenado que os fornecedores dos serviços de telecomunicações cortassem a internet e bloqueassem as comunicações por mensagens de texto em todo o país. O ministro das Telecomunicações justificou a medida, como sendo por motivo de "segurança nacional".
No sábado (30.12), o governador de Kinshasa havia dito que não autorizava a realização da manifestação, solicitada pelos católicos.
O dia-a-dia no leste do Congo
Há cinco anos, os rebeldes do M23 invadiram Goma, no leste da República Democrática do Congo. Na região multiplicavam-se os confrontos entre o grupo e o exército congolês e milícias de autodefesa. Hoje é muito diferente.
Foto: DW/Flávio Forner
Amanhece em Goma
Amanhece cedo em Goma, a capital de Kivu do Norte, no leste da RD Congo. As ruas enchem-se de comerciantes e do vaivém das motos. Esta é uma área de comércio junto à fronteira com o Ruanda. Muitos congoleses e ruandeses atravessam diariamente a fronteira para compras e trabalho. Goma vive um relativo clima de paz desde que o grupo rebelde de origem tutsi M23 foi desmantelado em 2013.
Foto: DW/Flávio Forner
Peixes do Lago Kivu
Ao nascer do sol, começa a azáfama em Goma. Nesta foto, mulheres colocam ao sol peixes frescos do Lago Kivu para preparar a refeição do dia num abrigo que acolhe crianças e adolescentes que estiveram envolvidos em grupos armados no leste do Congo. O abrigo fica num subúrbio de Goma, numa área populosa chamada Keshero.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho de braços
O sol está a pique, mas o trabalho não pára. Junto à vila de Sake, trabalhadores retiram areia de um canteiro em redor da base militar da Missão de Paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo, a MONUSCO. A vila de Sake, com uma população empobrecida, fica a uma hora (25km) a leste de Goma. Muitos dos seus habitantes dependem do comércio na cidade.
Foto: DW/Flávio Forner
Estrada de volta à vida
Estrada de terra que liga Goma a Kiwanja. Camiões cheios de trabalhadores e militares percorrem diariamente os 70km que separam as duas cidades. O trajeto demora em média quatro horas. Há menos de cinco anos, a estrada que corta a zona sul do Parque Nacional Virunga era extremamente perigosa devido aos ataques das milícias Mai-Mai e do grupo rebelde M23.
Foto: DW/Flávio Forner
Estradas esburacadas
Área rural junto à vila de Sake. As estradas que ligam as vilas e as cidades em Kivu do Norte estão esburacadas. Só veículos todo-o-terreno são capazes de passar por aqui, mesmo para trajetos curtos. Nesta foto, uma carrinha transporta passageiros e, no tejadilho, um homem aconchega-se entre um colchão e maços de folhas de mandioca que são vendidas em mercados em Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Fonte de sustento
Mulheres e crianças vendem folhas de mandioca na beira da estrada. A cidade de Kiwanja é circundada por áreas de cultivo de legumes. Muitas famílias dependem da venda de alimentos para garantir o seu sustento.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho social
Militares do Batalhão de Operações Especiais da Guatemala, que integram a Missão de Paz da ONU no Congo, ajudam igrejas e centros comunitários na vila de Sake, a 25km de Goma. As crianças da vila recebem material escolar e brinquedos.
Foto: DW/Flávio Forner
Desnutrição infantil e materna
Bebés que sofrem de desnutrição são internados no Hospital Muungano La Résurrection, nos arredores de Goma. O hospital depende de doações e tem falta de medicamentos e suplementos alimentares. Muitas mães também estão desnutridas e chegam a ficar internadas dez dias.
Foto: DW/Flávio Forner
No hospital
Nos corredores do Hospital Panzi, em Bukavu, capital de Kivu do Sul. Fundado pelo conhecido ginecologista congolês Denis Mukwege, o hospital fica na zona de Ibanda e tornou-se uma referência no tratamento de vítimas de violência sexual e reparação de fístulas obstétricas. Desde que foi fundado em 1999, a equipa médica já tratou 85.000 pacientes, incluindo 50.000 vítimas de violência sexual.
Foto: DW/Flávio Forner
Festa no hospital
Este adolescente congolês vestiu-se a rigor para participar nas atividades culturais do Hospital Heal Africa, no centro de Goma. Esta foto foi tirada no Dia Internacional da Criança Africana (16 de junho). O hospital promoveu neste dia uma série de apresentações de dança e teatro.
Foto: DW/Flávio Forner
Publicidade "VIP"
Nas ruas de Bukavu, Kivu do Sul, destaca-se a publicidade de um cabeleireiro para homens. O 'Salon VIP' tem nas paredes uma pintura com o rosto de Patrice Lumumba (à esq.) e Nelson Mandela (à dir.). Mandela simbolizou a luta anti-apartheid na África do Sul; Lumumba foi o pai da independência do Congo Belga e primeiro-ministro do recém país independente, tendo sido assassinado em 1961.
Foto: DW/Flávio Forner
De volta da escola
De uniforme, Pierre de 7 anos exibe o seu manual escolar e uma garrafa de plástico que serve como estojo para guardar os lápis. Tinha acabado de regressar da escola e seguia a pé para a sua casa na pequena vila de Mumosho, no interior de Kivu do Sul. O ensino público no Congo não é gratuito. Para manter uma criança na escola, as famílias têm de conseguir pagar cerca de 300 dólares por ano.
Foto: DW/Flávio Forner
Curso para mulheres no interior
Mulheres participam em cursos de empreendedorismo na vila de Mumosho, a 50 minutos de Bukavu. Muitas sofreram violência doméstica e abriram agora o seu próprio negócio, ganhando dinheiro com atividades artesanais e agricultura. Os cursos são oferecidos pela organização Women for Women International, que também realiza sessões para homens da comunidade com debates sobre o respeito pelas mulheres.
Foto: DW/Flávio Forner
Futebol em Goma
Os congoleses amam futebol. Ao final da tarde, depois do trabalho, muitos reúnem-se em campos de terra batida em bairros próximos do centro de Goma para jogar partidas de futebol.
Foto: DW/Flávio Forner
Missão de Paz
Capacetes azuis da MONUSCO são responsáveis por patrulhar as ruas de Goma. Esta foto foi tirada no alto do Monte Goma, no centro da cidade. O Uruguai tem uma base militar no topo da colina, um ponto estratégico. Ao fundo fica o vulcão Nyiragongo, 20 km a norte da cidade - o vulcão mais ativo de África. A sua última erupção foi em 2002 e arrasou Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Uma geração de crianças de rua
Centenas de crianças de rua deambulam pelas ruas de Goma. Segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), há mais de 2.000 crianças sem tecto, muitas delas perdidas ou abandonadas pelas famílias, que vivem de esmolas e roubos. De dia, vagueiam pelas ruas do centro e, de noite, abrigam-se em terrenos baldios ou debaixo dos buracos de esgoto das principais rotundas.
Foto: DW/Flávio Forner
Clínica móvel para crianças de rua
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) têm uma clínica móvel, o 'Bobo Mobile', para atender os meninos órfãos ou que foram expulsos de casa. "Goma é um hub humanitário, mas surpreendeu-me que não havia nenhum projeto dedicado às crianças de rua", disse Carla Melki, coordenadora deste projeto dos Médicos Sem Fronteiras na RDC (República Democrática do Congo).
Foto: DW/Flávio Forner
Inspiração para os mais novos
De farda e boina cobrindo os dreadlocks, o artista congolês Wanny S-king conversa com crianças de rua em Goma. O rapper costuma dedicar-lhes canções. Conhecido entre os mais novos, Wanny é dos poucos que, sem medo, lida diariamente com eles e faz concertos, divulgando uma mensagem de paz. Inspirados pelo rapper, muitos começaram a compor letras e sonham ter a sua própria banda.