RENAMO acusa FRELIMO de filiações forçadas em Manica
Arcénio Sebastião
23 de maio de 2022
O maior partido da oposição diz que a FRELIMO está a obrigar membros da RENAMO a filiarem-se à força no partido no poder, sob pena de serem expulsos da comunidade onde vivem. O caso mais recente aconteceu em Bárue.
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A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) diz que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) está a impor aos membros do partido da oposição a filiação no partido do poder na província central de Manica.
"Os membros da RENAMO foram maltratados, foram aterrorizados por um grupo de pessoas dirigido por líderes comunitários e o secretário do comité da FRELIMO daquela zona", denuncia Geraldo Carvalho, chefe regional do centro para a implantação da RENAMO, que indica que pelo menos dois delegados terão sido intimados a fazê-lo em 48 horas.
"O líder comunitário foi a casa dos nossos membros, a casa do delegado e de outro, a exigir-lhes que num prazo de 48 horas eles deviam transformar-se em membros da FRELIMO e que eram obrigados a irem naquele momento à sede da FRELIMO", relata.
Casas destruídas e roubo de animais
Geraldo Carvalho conta ainda que depois da recusa do delegado da zona de Nhabuto, no distrito de Barué, a sua casa foi destruída numa ação levada a cabo alegadamente por líderes comunitários, polícias comunitários e membros da FRELIMO que serão filhos daquele ex-combatente da RENAMO, desmobilizado no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
Alguns bens do delegado, incluindo gado, foram roubados na ocasião. "Quem fazia as exigências era o próprio líder comunitário", diz o responsável da RENAMO.
"Concluído o prazo que eles mesmo tinham estabelecido", relata ainda, "foram para lá, vandalizaram as casas, roubaram animais, roubaram dinheiro, deixaram as casas totalmente destruídas. As famílias puseram-se em debandada, refugiaram-se no mato até à data. Portanto, o que se viveu no Bárue é típico de um terrorismo político."
Segundo Geraldo Carvalho, este caso foi participado na esquadra local, mas a polícia lavrou um auto policial contra desconhecidos, mesmo depois desta ter sido informada da identidade dos invasores.
A DW África tentou sem sucesso ouvir a polícia.
FRELIMO nega acusação
O primeiro secretário da FRELIMO em Catandica, Cesaritino Gimo, refuta a acusação e diz que se trata de "uma autêntica mentira, não constitui verdade esta informação".
Secretário-geral da RENAMO diz que DDR está no bom caminho
02:11
Questionado sobre a destruição de casas e o saque de gado em Nhabuto, Gimo responde que o que existe aqui é "um conflito familiar" e que "dentro desta família a maior parte são membros do partido FRELIMO e um ou dois são membros do outro partido", a RENAMO.
"Qualquer divergência dentro desta família o foco que sai é que, como estes se identificam e são da veste vermelha, que é da FRELIMO, então concluem que é a própria FRELIMO", alega.
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A versão da RENAMO
Mas Geraldo Carvalho da RENAMO conta outra história. Diz que os membros do maior partido da oposição foram obrigados a participar numa reunião do partido rival onde supostamente teriam de se filiar.
Versão que é contestada por Cesaritino Gimo: "Não era uma reunião do partido FRELIMO, era uma reunião da comunidade sobre como fazer limpeza da sua estrada, como é que podem exatamente construir a barraca da escola caída."
Além do distrito de Bárue, o chefe regional do centro para a implantação da RENAMO nas quatro províncias da zona centro conta outros exemplos que se replicam em alguns distritos de Sofala.
"O mesmo se repete em vários outros pontos, só posso adiantar que no caso de Mutindir havia isto, em Casa Nova havia isto, em Chemba está a acontecer isto e agora é Bárue", conclui Geraldo Carvalho.
Zonas de guerra transformadas em locais de desenvolvimento
Regiões da província de Maputo testemunharam ataques e mortes durante a guerra civil em Moçambique. Antigos cenários de guerra tornam-se hoje palco para o desenvolvimento local do comércio e da indústria.
Foto: DW/R. da Silva
Um passado de mortes
A região onde fica a aldeia 3 de Fevereiro, a norte da província de Maputo, foi a mais dilacerada pela guerra civil. Na altura, a imprensa tinha como manchetes para as suas capas o sofrimento dos residentes desta região. Não há números exatos, mas houve muitas mortes na sequência de ataques atribuídos à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o atual maior partido da oposição.
Foto: DW/R. da Silva
A escola mais atacada
Este estabelecimento de ensino, construído na época colonial, dedicava-se à formação de professores africanos. Durante a guerra civil, foram reportados ataques e os alunos muitas vezes deslocavam-se à vila da Manhiça. Hoje, a escola é a sede do Instituto Médio Politécnico Alvor.
Foto: DW/R. da Silva
Abrigo para os fugitivos
Esta varanda já tinha donos: os deslocados dos arredores da vila da Manhiça encontravam neste lugar o mais seguro apenas para passar a noite. A varanda foi atacada algumas vezes, o que os desesperou. Hoje, como se pode notar, no local há estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/R. da Silva
Marcas da guerra
Há zonas, como Magude, cujos edifícios nunca mereceram reabilitações que possam fazer esquecer as marcas da guerra. Este edifício faz parte da missão católica de Magude, que foi atacado durante a guerra, e que nunca mais conheceu uma reabilitação.
Foto: DW/R. da Silva
Única entrada, única saída
Esta é uma ponte que desperta curiosidade aos que pela primeira vez visitam a vila de Magude. Pela mesma ponte passam peões, motociclistas, viaturas e locomotivas. Por baixo, passa o rio Inkomati, que não impedia ataques durante a guerra a esta pequena vila.
Foto: DW/R. da Silva
Repovoamento de animais
O distrito de Magude localiza-se mais a nordeste da província de Maputo. Esta zona foi severamente afetada pela guerra e a população bovina baixou drasticamente. Mas agora, com projetos de repovoamento destes animais, Magude é dos maiores produtores de carne na província.
Foto: DW/R. da Silva
Isolamento
O distrito de Magude é um dos mais isolados da província de Maputo. O seu desenvolvimento está a ser muito lento, apesar de a guerra ter terminado há mais de 20 anos. Falta muita coisa por melhorar. Esta loja, por exemplo, ainda apresenta marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Coluna militar
A guerra abateu-se muito sobre Maluana. Este posto administrativo do distrito de Manhiça ficou conhecido pelos ataques que sofria. A coluna militar era a única que ajudava as pessoas a passar por esta zona. Pouco depois da guerra, as marcas eram ainda visíveis - como carcaças de viaturas queimadas. Agora, está a registar um desenvolvimento, com o comércio informal a ganhar força.
Foto: DW/R. da Silva
Centro de tecnologias
O Governo de Moçambique criou um centro de tecnologias nesta região severamente afetada pela guerra, o que antes era impensável. É um edifício que foi instalado no meio da mata, precisamente numa estrada de terra que dá acesso ao centro de formação de militares de Munguine, mais a leste da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
De cenário de guerra a pólo económico
A região de Bobole, no distrito de Marracuene, também foi uma zona de guerra. Aliás, as atrocidades começavam nesta região e o cenário era de "cada um por si e Deus por todos". As colunas militares começavam ou descansavam neste ponto. Hoje, a multinacional Heineken instalou aqui a sua empresa e Bobole está a ter novo rosto económico.
Foto: DW/R. da Silva
Estância turística
Esta é a entrada para a aldeia de Taninga. Tal como a 3 de Fevereiro, esta aldeia testemunhava frequentemente mortes e muitos dos residentes destas duas aldeias vizinhas acabaram por se refugiar na vila da Manhiça e outros na cidade de Maputo. Hoje, há uma estância turística que faz esquecer as marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Proteção dos corredores ferroviários
Os que viveram os momentos de instabilidade e que precisavam frequentemente se deslocar contam que o comboio de passageiros era igualmente atacado. O corredor do Limpopo era crucial para o transporte de mercadorias para países vizinhos. A RENAMO e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) acabaram por assinar um acordo para não atacar corredores ferroviários de todo o país.