Maior partido da oposição em Moçambique elegeu as figuras que vão concorrer nas eleições gerais de 15 de outubro. RENAMO faz marchas em várias províncias e porta-voz diz que "vitória" é a palavra de ordem.
Ricardo Tomás (ao centro) foi eleito candidato a governador provincial em TeteFoto: DW/A.Zacarias
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O maior partido da oposição em Moçambique, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), fez marchas em várias províncias este sábado (29.06) para comemorar a escolha dos candidatos aos governos provinciais que vão concorrer nas eleições gerais de 15 de outubro.
A eleição interna dos membros da RENAMO nas respetivas províncias começou esta sexta-feira (28.06). Para a província da Zambézia, Manuel de Araújo, atualmente presidente do conselho autárquico de Quelimane, foi escolhido como candidato a governador, eleito num clima de agitação depois de sua candidatura ter sido retirada sem o seu consentimento. O seu nome voltou a constar na lista de candidatos só depois de o líder da RENAMO, Ossufo Momade, ter intervido a favor de Araújo.
RENAMO anuncia candidatos a governadores provinciais
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Além do líder do partido, centenas de cidadãos estiveram presentes na sede do partido no momento da votação para apoiarem Manuel de Araújo na sua corrida para o cargo de governador. Manuel de Araújo foi eleito com 37 votos dos 40 delegados. José Manteigas teve três votos e Maria Inês não obteve nenhum apoio.
Em declaração à imprensa, Manuel de Araújo disse que vai vencer as eleições em outubro. "Esta terra é nossa e nós temos o direito de governar esta terra. Eu não prometo nada. A única promessa que faço é muito trabalho, e o resultado dependerá da nossa entrega, do nosso esforço, e também da nossa capacidade. Eu quero que no dia 15 de outubro, onde está o presidente Dhlakama [antigo líder do partido], que ele diga que 'os meus miúdos estão a dar conta do recado'", afirmou a seus apoiantes.
Resultados nas outras províncias
Na província de Manica, foi eleito Alfredo Magumisse, porta-voz da Comissão Política Nacional da RENAMO. Apoiantes marcharam em ruas e avenidas da capital Chimoio em saudação do recém-eleito cabeça de lista a governador. Na província de Tete, será Ricardo Tomás, que já foi ex-candidato a presidente do município de Tete em 2013 pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a concorrer ao cargo de governador provincial.
Apoiantes comemoram escolha de Manuel de Araújo como candidato na ZambéziaFoto: DW/Marcelino Mueia
Na província de Sofala, a RENAMO elegeu Noé Marimbique depois de Elias Dhlakama, o irmão do falecido Afonso Dhlakama, ter declinado o convite para ser candidato a governador alegando ter sido "surpreendido" com a proposta.
Elias Dhlakama disse que só soube que o seu nome era o preferido para se candidatar a governador da província de Sofala na sessão do Conselho Provincial do partido, não tendo tido tempo para informar a sua família sobre essa decisão.
Na província de Nampula, foi indicado o nome de Luís Trinta Mecupia, enquanto para a província de Cabo Delgado foi escolhida Angela Maria Eduardo. Na província do Niassa, foi nomeado o deputado Hilario Waite. Em Inhambane, o candidato é Daniel Machamale e, em Gaza, Mouzinho Gama. Na província de Maputo, foi escolhido o deputado António Muchanga.
Vitória, palavra de ordem
José Manteigas foi claro ao destacar o que espera o seu partido dos novos governadores provinciais. "Espera-se quadros à altura para uma governação não-corrupta, não-clientista, uma governação ao serviço dos moçambicanos", afirmou.
Para o porta-voz da RENAMO, a palavra de ordem nos próximos meses é a vitória nas eleições gerais. "Olhamos para o dia 15 de outubro como o dia da vitória, como a meta da vitória", disse.
"Queremos colocar o presidente Ossufo Momade na ponta vermelha, queremos governar este país. Queremos a maioria na Assembleia da República para podermos aprovar leis que devem catapultar o desenvolvimento do nosso povo", acrescentou.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.