RENAMO defende diálogo com grupos armados em Cabo Delgado
Lusa
20 de outubro de 2021
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) defendeu no Parlamento o diálogo com os grupos que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado, visando o alcance de uma paz "duradoira e sustentável".
Militares moçambicanos em Cabo DelgadoFoto: Estácio Valoi/DW
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"Apoiamos aqueles que aconselham à necessidade de se desencadear mecanismos de diálogo com os agressores visando alcançar uma paz duradoira e sustentável", declarou o chefe da bancada da Renamo na Assembleia da República, Viana Magalhães.
Magalhães falava no discurso inaugural da quarta sessão ordinária da nona legislatura da Assembleia da República, que arrancou esta quarta-feira (20.10).
Um processo de diálogo com os rebeldes "é uma tarefa urgente, que o Governo não pode adiar por mais tempo ou mesmo dela furtar-se", acrescentou o líder da bancada parlamentar do principal partido da oposição.
Importância do diálogo
Viana Magalhães assinalou que as forças conjuntas de Moçambique, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Ruanda estão a registar progressos no combate aos grupos armados na província de Cabo Delgado, mas os avanços não podem levar à desvalorização da via do diálogo para o fim da violência armada
O deputado considerou "inevitável" o apoio militar internacional contra a insurgência, mas criticou a alegada "secundarização" das Forças Armadas moçambicanas na frente de combate e o facto de o Governo não comunicar ao Parlamento informação sobre o desdobramento de contingentes militares estrangeiros no teatro de operações.
Parlamento moçambicano, em MaputoFoto: DW/L. Matias
"A prepotência falou mais alto, o problema foi sendo empurrado com a barriga e tudo vem sendo feito com desprezo pela Assembleia da República e total ausência de cultura de Estado", disse.
O chefe da bancada parlamentar da RENAMO criticou igualmente o facto de o Governo moçambicano ter aceitado a presença de tropas estrangeiras apenas depois de os grupos armados terem atacado a vila de Palma, perto dos projetos de exploração de gás natural.
"Se não tivessem sido beliscados tais interesses [no gás natural], o discurso da soberania persistiria, com o Governo impávido a assistir à chacina dos nossos concidadãos pelos terroristas. Agora vem o mesmo Governo e de boca cheia dizer que está preocupado com o povo", declarou.
"Esse partido deve ser responsabilizado não só na BO [cadeia de máxima segurança, onde decorre o julgamento], como nas urnas, em 2023 e 2024", afirmou.
FMI recomenda:"Não escondam as dívidas como Moçambique"
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O chefe da bancada parlamentar da RENAMO acusou o Governo da FRELIMO de ser responsável pelo facto de alguns arguidos do processo principal das dívidas ocultas serem antigos dirigentes do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE).
"A secreta do Estado não pode ser misturada com política. Vejam só a vergonha que está a acontecer com a nossa secreta. Está escancarada", observou.
O escândalo das dívidas ocultas, prosseguiu, é o resultado da prepotência, arrogância e abuso de poder da FRELIMO, que resultou na contração de empréstimos sem autorização parlamentar nem do Tribunal Administrativo.
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Retomada dos trabalhos
A AR de Moçambique retomou hoje as sessões plenárias, depois de cinco meses de pausa, com uma ordem de trabalhos que tem a aprovação do Orçamento do Estado (OE) de 2022 como o ponto mais alto da agenda.
Além do OE de 2022, os 250 deputados da AR vão também debater o Plano Económico e Social (PES) do próximo ano.
A sessão plenária vai ainda abordar as propostas de lei da comunicação social, da radiodifusão, das regras e critérios que definem a fixação da remuneração dos funcionários e agentes do Estado e demais servidores públicos, bem como da saúde pública.
A FRELIMO, partido no poder há 45 anos, desde a independência, tem uma maioria qualificada de 184 dos 250 assentos que compõem a AR, a RENAMO tem 60 e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) seis.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.