A RENAMO diz que um suposto agente da Polícia moçambicana na Zambézia infiltrou-se na caravana do maior partido da oposição para atentar contra a segurança do cabeça-de-lista Manuel de Araújo. PRM não comenta a denúncia.
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A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) denunciou um caso insólito ocorrido durante a campanha para as eleições autárquicas em Quelimane. Esta quinta-feira (27.09), no mercado de Namuinho, um dos bairros periféricos da autarquia de Quelimane, um alegado agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) na Zambézia ter-se-á infiltrado na caravana do maior partido da oposição para, alegadamente, atentar contra a segurança de Manuel de Araújo.
Segundo o porta-voz da RENAMO, Latifo Charifo, o alegado agente foi rapidamente neutralizado por seguranças particulares do candidato. Manuel de Araújo confirma o sucedido, mas sem avançar muitos detalhes. "Decidi não entrar em assuntos que não têm que ver com o corpo da campanha, essa é a minha estratégia. Estou concentrado na campanha", declarou.
RENAMO denuncia tentativa de ataque contra Manuel de Araújo
Latifo Charifo, que também é porta-voz da campanha eleitoral em Quelimane, diz que a ameaça contra a segurança de Araújo teve como promotor um agente da PRM, que se infiltrou no grupo dos apoiantes da RENAMO com objetivos ainda desconhecidos. "Durante a campanha, verificamos um movimento estranho de um indivíduo. Descobrimos que é um polícia vindo de Milange, que foi recolhido pelo nosso pessoal de segurança, que o levou até ao posto policial de Namuinho", esclareceu.
"Nunca aconteceu isso em nenhuma campanha, um polícia vestido à paisana aparecer na caravana da RENAMO", sublinha Latifo Charifo. "Temos brigadas em todos os bairros dos cinco postos administrativos desta cidade, ele simplesmente aparece onde vai o nosso cabeça de lista e isso deixa-nos indignados".
RENAMO dispensou proteção policial
O porta-voz da RENAMO considera que a neutralização do suposto agente foi "uma sorte". Segundo Charifo, o partido dispensou a proteção policial na campanha porta a porta desta quinta-feira, alegadamente porque não havia necessidade, uma vez que não houve comício.
"Precisamos de protecção quando é caravana, mas quando é porta a porta não precisamos de proteção porque não há euforia dos eleitores", justifica.
A polícia, que não foi contactada pela RENAMO para vigiar a ação de campanha, não comenta a denúncia, afirmando apenas que, desta forma, é difícil fazer o controlo. "Quando surgem situações, é difícil controlar porque as atividades todas deviam ser desencadeadas com a presença da polícia", explica o porta-voz da PRM, Miguel Caetano.
Para Latifo Charifo, a campanha eleitoral da RENAMO na cidade de Quelimane está ameaçada. "Já vimos episódios deste género em algumas províncias que terminaram em tragédia", recorda o porta-voz.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.