RENAMO denuncia violência política na província de Manica
Bernardo Jequete (Manica)
19 de abril de 2018
RENAMO fala em irregularidades, desde casos de perseguição, raptos, tortura e mortes. Chefe de bancada do partido em Manica considera situação "preocupante". FRELIMO diz que também há vítimas entre os seus membros.
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O chefe da bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na Assembleia Provincial de Manica, Celestino Manuel Jó, diz que a situação é preocupante. Os membros do partido têm enfrentado grandes dificuldades na província de Manica - sobretudo nos distritos de Barué, Gondola, Chimoio, Mossurize e Machaze.
"No distrito de Barué é frequente. Logo no princípio deste ano perdemos um delegado e outros foram torturados. Um delegado no posto de Honde foi barbaramente torturado e depois veio perder a vida. No dia 13 do mês passado, os delegados de Nhabuto foram torturados gravemente", relata.
RENAMO denuncia violência política na província de Manica
O chefe da bancada da RENAMO já transmitiu estas preocupações ao governador de Manica, Alberto Ricardo Mondlane e explica que o que quer é preservar a paz.
"Para nós, isso é uma violação grosseira da trégua, porque neste momento cada partido está livre para fazer as suas atividades políticas. Mas de uma maneira ou outra, vamos continuar a conter-nos para não respondermos às provocações porque o que nós queremos é a paz", diz..
Garantir a paz
Estes episódios acontecem numa altura em que o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, continuam as conversações. Na terça-feira o chefe de Estado o chefe de estado afirmou que o Governo e o principal partido de oposição estão a finalizar um acordo para o desarmamento, desmobilização e reintegração dos combatentes da RENAMO nas forças de segurança.
O chefe da bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), José Manuel Cebola, que tem maioria na Assembleia Provincial de Manica, prefere não entrar em detalhes sobre os confrontos de que são acusados. Acrescenta ainda que também há membros da FRELIMO alvo de ataques, um pouco por todo o país.
"Nós também temos relatos de alguns pontos do país, mas sabendo que existe uma comissão mista, entre RENAMO e FRELIMO, que trata desses assuntos, cada parte informa o que está a acontecer e a comissão mista vai para o local e trata destes assuntos", conta Manuel Cebola.
Alberto Ricardo Mondlane, já se encontrou com o delegado provincial da RENAMO em Manica, Sofrimento Matequenha, para falar da violência em que têm estado envolvidos membros das duas formações políticas. O governador diz estarem a trabalhar para terminar com a violência nesta província.
"Continuamos a trabalhar com os responsáveis dos partidos políticos, particularmente com os responsáveis do partido RENAMO, para garantir a paz, a tranquilidade o sossego das nossas populações na nossa província", assegurou o governador.
Moçambique: Guerra civil com pausas de paz
A paz nunca foi uma certeza em Moçambique. Ela apenas tem intercalado confrontos militares desde a independência. Acordos de paz mal concebidos parecem estar na origem dos conflitos. Mas há novos bons sinais à vista.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
O começo da guerra civil
A guerra entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO começou em 1977, isso cerca de dois anos após a proclamação da independência do país. A RENAMO contestava a governação da FRELIMo e queria democracia. Este movimento tinha o apoio da ex-Rodésia e da África do Sul, dois vizinhos de Moçambique. A guerra matou milhões de moçambicanos e quase paralisou a economia do país.
Acabar com a guerra era o obetivo deste acordo, alcançado em 1984. Foi assinado entre os antigos Presidentes de Moçambique e da África do Sul, Samora Machel e Peter Botha, respetivamente. Ficou acordado que Pretória deixava de apoiar a RENAMO e Maputo parava o apoio ao ANC. Este último que lutava contra o Apartheid. Mas ninguém respeitou o acordo.
Foto: Avant Verlag/Birgit Weyhe
Acordo Geral de Paz de Roma
Colocou finalmente fim a guerra em 1992. Foi patrocinado pela Comunidade Santo Egídio, instituição católica italiana. Nessa altura o país já estava devastado e tinha transitado do sistema socialista para o da economia de mercado. Afosno Dhlakama, líder da RENAMO, e Joaquim Chissano, ex-Presidene de Moçambique, assinaram um acordo que pôs fim a uma guerra de 16 anos.
Eleições: nova era de desentendimentos
Em 1994 o país dava os seus primeiros passos rumo a democracia: início do multipartidarismo e realização das primeiras eleições, patrocinadas pela ONU. O primeiro Presidente eleito do país foi Joaquim Chissano. A RENAMO contestou, mas acabou por aceitar os resultados eleitorais.
Foto: Getty Images/AFP/Gianluigi Guercia
Eleições 1999: RENAMO revolta-se
Nas segundas eleições, em 1999, Joaquim Chissano e a FRELIMO voltaram a ganhar. Mas o processo foi novamente marcado por graves irregularidades, a RENAMO diz que houve fraude e contestou com mais veemência. E no ano 2000 apoiantes da RENAMO manifestaram-se em Montepuez província de Cabo Delgado, contra os resultados. Cerca de 700 manifestantes terão sido detidos e mortos por asfixia nas celas.
Foto: Marc Dietrich-Fotolia.com
Rastilho para o barril de pólvora já arde
As sucessivas irregularidades nas eleições, a lei eleitoral desajustada e difícil integração dos ex-guerrilheiros da RENAMO no exército nacional foram os principais pontos que aumentaram a tensão com o Governo. A falta de confiança que caracteriza a relação entre as partes aumentou.
Foto: Gerald Henzinger
As armas falam novamente
Em 2013 a polícia e homens da RENAMO confrontaram-se. Era o início dos conflitos armados. Nesse ano a RENAMO recusa a aprovação da Lei Eleitoral e não participa nas autárquicas. Há um interregno no conflito para a realização de eleições gerais em 2014. A RENAMO perde e acusa a FRELIMO de fraude. O país volta a ser palco de guerra. RENAMO exige governar as seis províncias onde diz ter ganho.
Foto: Fernando Veloso
Guebuza e Dhlakama: o braço de ferro até ao fim
Em setembro de 2014 o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO chegam a acordo para por fim ao conflito armado. Abriu-se assim caminho para as eleições gerais, onde a RENAMO participou. Mas as negociações entre os dois homens nunca foram fáceis. Para começar os encontros foram poucos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Na guerra vale tudo
Em Setembro de 2015 Dhlakama sofreu dois atentados. Um deles contra a coluna em que viajava, de Manica a Nampula. Afonso Dhlakama saiu ileso, mas segundo relatos morreram várias pessoas. Mais tarde várias viaturas da comitiva do líder da RENAMO foram queimadas. Dhlakama acusou a FRELIMO pelos atentados.
Foto: DW/A. Sebastião
Cerco a casa de Afonso Dhlakama
Em outubro de 2015 a guarda pessoal do líder da RENAMO foi desarmada pelas forças governamentais durante um cerco à sua residência na cidade da Beira. O Governo pretendia um desarmamento forçado dos homens da RENAMO. O desarmamento da maior força da oposição é um dos pontos controversos nas negociações de paz.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Diálogo de paz pouco frutífero
Infindáveis rondas marcaram as negociações de paz. E em paralelo as armas falavam nas matas, membros da RENAMO eram assassinados a média de um por mês em 2016. Observadores e mediadores, nacionais e internacionais, entraram e saíram do barulho sem conseguir muito. Houve também adiamentos de rondas e algumas pausas no processo.
Foto: Leonel Matias
Dhlakama e Nyusi: maior proximidade, bons sinais
Em agosto de 2017 o Presidente Nyusi deslocou-se à Gorongosa, bastião da RENAMO, para se encontrar com Dhlakama. Os dois líderes acordaram sobre os próximos passos no processo de paz. Esperavam um acordo de paz até ao final de 2017, mas tal não deverá acontecer. Entretanto, Dhlakama está satisfeito com o andamento das negociações. O sigilo entre os dois parece ser o segredo de um bom entendimento.