O distanciamento do líder, Afonso Dhlakama, da política ativa é o principal motivo de um novo adiamento. Contudo, Dhlakama deverá voltar a ser candidato da RENAMO às próximas presidenciais.
Publicidade
Ao contrário de outros partidos políticos com assento parlamentar em Moçambique, nomeadamente a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e o MDM (Movimento Democrático de Moçambique), a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) poderá voltar a não realizar congresso, evento considerado fundamental na vida das formações politicas, sobretudo antes dos processos eleitorais.
O último congresso, o quinto desde a criação do partido, realizou-se em 2009, em Nampula. De acordo com os estatutos, a RENAMO deveria ter organizado o sexto congresso cinco anos depois, ou seja, em 2014.
O principal motivo do novo adiamento é o fato do líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, estar distante da política ativa. Devido ao conflito que se seguiu às eleições de 2014, Dhakama encontra-se em parte incerta, algures na serra da Gorongosa, no centro do país.
20.09.17 RENAMO deverá voltar a adiar congresso - MP3-Mono
Mas alguns membros do partido pedem a realização do congresso. "É importante que haja congresso, porque é um momento de reflexão da vida do partido", defende Braimo Ossufo, presidente provincial da Liga Juvenil da RENAMO em Nampula.
Mas, pelo menos oficialmente, os jovens da RENAMO desconhecem se vai ou não acontecer o sexto congresso antes próximo ciclo eleitoral, em 2018. "Em termos de detalhe, agora para nós jovens é muito prematuro, porque existe um órgão competente para fazer comentários à cerca desse evento"', acrescentou Braimo Ossufo.
Autoridade de Dhlakama mantém-se há mais de 20 anos
Sem congresso, o Conselho Político Nacional poderá indicar um candidato presidencial, garante o partido. A RENAMO deverá reconduzir Afonso Dhlakama para disputar as eleições presidenciais, garantiu em Nampula, Maria Angelina Inoque, antiga chefe da bancada parlamentar da RENAMO na Assembleia da República.
"Nós queremos ganhar, queremos governar Moçambique, queremos colocar o presidente Afonso Dhlakama a governar e a demonstrar que é possível governar um país", disse Maria Angelina Inoque.
A ex-parlamentar assegurou que a RENAMO está a trabalhar na preparação e a desenhar estratégias para vencer as próximas eleições municipais e presidenciais em 2018 e 2019, respetivamente. "Não estamos a ir para esses escrutínios com o voto vencido, estamos a ir com vitória", assegurou otimista Maria Angelina Inoque.
Afonso Dhlakama, que tradicionalmente se intitula como "o pai da democracia" em Moçambique, tem sido o único candidato da RENAMO às presidenciais desde as primeiras eleições multipartidárias em 1994.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.