RENAMO quer reforçar aliança com MDM para viabilizar o programa do seu candidato, Paulo Vahanle, que venceu a segunda volta das eleições intercalares em Nampula. Analista saúda a cooperação. Será que aliança fará escola?
Publicidade
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) procura formas de cooperar com o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o partido que detém a maioria na Assembleia Municipal de Nampula.
Dos 45 membros da assembleia, 24 são do MDM, 20 da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e um do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO). Por isso, a RENAMO precisa de ajuda para viabilizar o programa do edil Paulo Vahanle, eleito na eleição intercalar de 14 de março, em substituição de Mahamudo Amurane.
"Na nossa opinião, o bom senso do MDM vai falar mais alto", espera o deputado na Assembleia da República e mandatário nacional do maior partido da oposição em Moçambique, André Majibiri. "Tendo o próprio MDM apoiado a eleição de Vahanle em Nampula, não acreditamos que eles queiram inviabilizar o seu programa de governação".
Assessoria de Dhlakama
De acordo com Majibiri, para o cumprimento na íntegra do programa de governação de cinco meses, o novo edil será assessorado por Afonso Dhlakama, apesar de o líder da RENAMO residir na Serra da Gorongosa, em Sofala, muito distante de Nampula.
"Não estamos a dizer que Vahanle não tenha capacidade", sublinha o responsável. Mas "o manifesto [eleitoral] de Vahanle foi concebido com base na instrução da liderança do próprio presidente Afonso Dhlakama, daí que o presidente Dhlakama vai assessorar a governação, para evitar que o povo de Nampula seja defraudado."
MDM garante apoio "incondicional"
Entretanto, o MDM, através do delegado provincial em Nampula, Vasco Napua, garante que vai colaborar com o novo edil em tudo que for necessário.
"O apoio que o partido MDM deu ao candidato Paulo Vahanle foi incondicional, tal como dissemos [na campanha]. O MDM está disposto a servir os munícipes da cidade de Nampula", diz Napua.
"Nós temos a experiência dos cerca de 40 anos de governação da FRELIMO, em que nada mudou", acrescenta.
Bom para a democracia
O analista moçambicano Aunício da Silva entende que a cooperação entre a RENAMO e o MDM na gestão municipal revitaliza a democracia e é vantajosa não só para o povo, como também para o próprio MDM, que viu a sua governação interrompida na sequência do assassinato do autarca Amurane.
RENAMO e MDM de mãos dadas em Nampula
"É um procedimento excelente e uma questão de maturidade politica", comenta o académico e diretor-editorial do Jornal Ikweli.
"Saímos das politiquices e dos marasmos a que nos habituaram e que até acontecem na Assembleia da República, onde grandes projetos não são viabilizados porque vêm da oposição. Nampula vai sendo uma escola nessa perspetiva."
Paulo Vahanle, da RENAMO, venceu a segunda volta da eleição intercalar com 58% dos votos, enquanto o seu opositor, Amisse Cololo, candidato da Frelimo, obteve 41% dos votos. Neste momento, aguarda-se apenas a validação dos resultados por parte do Conselho Constitucional, ainda sem data marcada, para a tomada de posse do novo edil.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.