RENAMO está a entregar menos armas em Moçambique
10 de janeiro de 2014Desde o final de 2012, Albino Forquilha nota uma diminuição no fluxo de entrega de armas da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique e o único a deter armamento. De acordo com o responsável da FOMICRES - Força Moçambicana para a Investigação de Crimes e Reinserção Social-, dentro do próprio partido há ordens para que isso não aconteça.
"Ainda existe elementos da RENAMO que nos transmitem informação e que colaboram connosco, embora já não recebamos armas nas quantidades que recebíamos", sublinha Albino Forquilha, em entrevista à DW Africa.
"Existem elementos da RENAMO que estão interessados em entregar o armamento e em reintregrar-se na sociedade, não querem tiroteios, nem ataques, mas parece que há controlo dentro do partido, vigiam-se uns aos outros", suspeita o responsável da FOMICRES.
Aos 12 anos, Albino Forquilha foi raptado pela RENAMO para servir como criança-soldado. Mais tarde combateu pela FRELIMO e assim a guerra roubou-lhe parte da vida. Com o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992, julgou que a guerra em Moçambique não voltaria. Porém, 2013 foi um ano marcado pela escalada da tensão político-militar entre a maior força da oposição e o Governo de Maputo.
Em 1995, fundou a FOMICRES, na altura um movimento cívico, cujo objetivo prende-se com a manutenção da Paz e estabilidade social. Para tal, dedica-se à recolha de armas e à promoção da paz no país. Em 2007, este movimento ganhou estatuto de organização não governamental.
Ataques como estratégia
Segundo Albino Forquilha, a RENAMO continua a utilizar as armas para aparecer na vida política do país.
"Não acredito que a RENAMO esteja interessada em fazer uma guerra, mas vê na guerra um meio para aparecer na cena política, porque não consegue colocar ideias claras nos jornais", lamenta o fundador da FOMICRES.
"Assim faz um pressão indireta para que o Governo ceda às exigências", defende Albino Forquilha.
De acordo com o fundador desta organização para a paz, outros partidos em Moçambique já conseguiram provar através da democracia que é possível ter lugar na vida política do país. Em relação à RENAMO, Albino Forquilha defende uma remodelação dentro do partido.
"A RENAMO não faz nenhum congresso há vários anos, não se reúne nas províncias, e sempre que fala recorda a guerra. Não há pensamento, não há massa cinzenta para ir ao encontro daquilo que são as necessidades do povo, fazer uma estratégia de governação e apresentar ao povo nas eleições", explica.
Reintegração social e educação cívica como prioridades
Reintegrar os homens da RENAMO na sociedade é, segundo Forquilha, o caminho para a estabilização política, social e militar no país, um processo que não foi executado em pleno depois do fim da guerra.
"Nós precisamos de reintegrar rapidamente esses homens que reclamam a sua reintegração", sugere o especialista. "Penso que o Estado poderia fazer isto em nome da paz, porque promover o regresso do cidadão à sociedade é algo que traz paz ao seio da comunidade e ao coração dele", acrescenta.
Por outro lado, Albino Forquilha propõe também a aposta na educação cívica dos partidos. "Com o apoio da comunidade internacional, devíamos educar civicamente os nossos partidos políticos para que não detenham armamento", defende.
"E devíamos mostrar-lhes que a democracia é um trabalho constante e que se ganha o voto através das novas ideias que vamos colocando permanentemente dentro das comunidades".