RENAMO pede inquérito para investigar ataques armados
30 de dezembro de 2019"Desafiamos o Governo a criar urgentemente uma comissão de inquérito composta por várias sensibilidades para no terreno averiguar a origem destes ataques e identificar os seus agentes", declarou o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, durante uma conferência de imprensa em Maputo.
Em causa está a situação de insegurança que afeta dois dos principais corredores rodoviários moçambicanos, a Estrada Nacional 1 (EN1), que liga o norte ao sul, e a Estrada Nacional 6 (EN6), que liga o porto da cidade da Beira ao Zimbabué e restantes países do interior da África Austral.
Desde agosto, pelo menos 21 pessoas morreram em ataques de grupos armados que deambulam pelas matas nas províncias de Manica e Sofala e as autoridades moçambicanas têm responsabilizado os guerrilheiros da RENAMO liderados por Mariano Nhongo, general dissidente do partido e que exige a renÚncia de Ossufo Momade.
O presidente do principal partido de oposição reitera o distanciamento do partido, considerando Mariano Nhongo um desertor e afirmando que a RENAMO está comprometida com o Acordo de Paz e Reconciliação assinado a 06 de agosto com o Governo moçambicano. "Voltamos a reiterar que as forças residuais da RENAMO aguardam serenamente nas bases e sob comando do seu Estado Maior General o desfecho do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração", referiu Momade..
"Acusações infundadas"
A RENAMO considera que as autoridades moçambicanas estão a tentar desestabilizar o partido com acusações infundadas através de meios de comunicação públicos, acrescentando que foi "o regime da FRELIMO [partido no poder] que acarinhou o surgimento dos atacantes".
"O regime aplaudiu quando o cabecilha dos atacantes [em alusão a Mariano Nhongo] disse publicamente que quer assassinar o presidente da RENAMO. Facto curioso, este pronunciamento não mereceu a condenação de ninguém", declarou Ossufo Momade.
As novas incursões no centro de Moçambique acontecem num reduto da RENAMO e onde os guerrilheiros daquele partido se confrontaram com as forças de defesa e segurança moçambicanas e atingiram alvos civis até ao cessar-fogo de dezembro de 2016.
Governo reforça medidas de segurança
Na semana passada, o ministro do Interior de Moçambique, Basílio Monteiro, anunciou o reforço de medidas de segurança em Manica e Sofala, que incluem o reforço do policiamento e a escoltas militares em alguns troços, um cenário que remonta ao pico, entre 2014 e 2016, das confrontações militares na crise política entre o Governo moçambicano e a RENAMO.
Apesar de não assumir autoria direta dos ataques que se registam no centro de Moçambique desde agosto, Mariano Nhongo avisou, na sexta-feira, que o centro do país só terá o fim da violência armada com a renúncia do atual presidente da RENAMO.
"Se o Governo reconhecer que Ossufo não representa a RENAMO não haverá mais tiros aqui", disse Mariano Nhongo, numa teleconferência para jornalistas na cidade da Beira a partir de um ponto incerto no centro de Moçambique.
Este é o episódio mais recente das divisões no partido após a morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, ocorrida a 03 de maio de 2018.
A guerra civil de Moçambique causou dezenas de milhares de mortos nos anos 1980 e 1990. No entanto, apesar dos vários acordos de paz que levaram o país ao multipartidarismo, a reintegração dos guerrilheiros nunca ficou resolvida e a RENAMO manteve sempre um braço armado, ativo no centro do país.