RENAMO não governa províncias onde diz ter vencido eleições
4 de abril de 2016 O mês de março já terminou e a RENAMO não começou a governar à força as seis províncias moçambicanas onde diz ter obtido a maioria nas eleições de outubro de 2014.
Por outro lado, a guerra não assumida oficialmente prossegue e não há sinais de pressa na resolução da crise política entre este partido e o Governo da FRELIMO. A DW África entrevistou sobre o assunto o especialista moçambicano em boa governação Silvestre Baessa.
DW África: A imagem da RENAMO "fica por terra" por não ter cumprido com a ameaça de governar, a partir de março, as seis províncias moçambicanas?
Silvestre Baessa (SB): Convém notar que esta não é a primeira vez que a RENAMO estabelece prazos e faz promessas com prazos muito específicos em relação às suas exigências e creio que na grande maioria das situações nunca foi capaz de as concretizar. Neste caso em particular era uma exigência gigantesca de tal modo que tendo em conta a experiência da RENAMO isso configura e enquadra-se dentro daquilo que podemos considerar a estratégia de propaganda da RENAMO que tem feito parte de todo esse processo politico-miolitar que está a ocorrer e a RENAMO vai utilizando os argumentos que tem a seu favor. Por um lado, tendo em conta os níveis de popularidade e por outro, a necessidade de apresentar a todos os seus seguidores algo que lhes dê alguma confiança em relação à esta pretensão pós-eleitoral.
DW África: A RENAMO tem vindo a público denunciar ataques violentos e constantes por parte do exército governamental. Isto significa que a RENAMO está fragilizada?
SB: Quanto mais este conflito perdurar mais confiança a RENAMO vai ganhar. Esse é o ponto. Toda estratégia do Governo foi de uma inclinação muito rápida. Depois do cerco ao líder da RENAMO na cidade da Beira o Governo tinha anunciado uma campanha generalizada visando desarmar a RENAMO e conquistar as chamadas bases daquele partido. Até agora tudo que se tem visto é apenas um conjunto de eventuais ex-guerrilheiros da RENAMO que estão a entregar-se às autoridades. Mas muito pouco se fala em relação às grandes descobertas de equipamentos militares e grandes ações no âmbito das atividades operacionais da RENAMO. Isso pressupõe que a máquina militar da RENAMO, que já era fragilizada uma vez decorrentes do Acordo Geral de Paz e de muitos anos de paz, esta máquina militar é ainda efetiva . Daí, os contantes ataques que a RENAMO vai levando a cabo um pouco por todo o país. Por outro lado, quanto mais tempo essas operações decorrerem e quanto maior for a dificuldade do Governo conseguir uma vitória total em relação aos homens armados os níveis de confiança na RENAMO vão aumentar. Então vamos ter ações militares em muitas partes do território enquanto neste momento estão localizadas na zona centro do país com algumas atividades na zona sul de Moçambique. Mas note-se que o norte, sobretudo Nampula e Zambézia, poderão ser no futuro atingidos, caso as forças governamentais não consigam parar definitivamente com a RENAMO. É preciso dizer que a RENAMO não necessita de muita coisa para ser militarmente ativa. É uma guerrilha experimentada liderada por oficiais experientes e por outro lado é um ícono de popularidade significativa nas zonas rurais e qualquer movimento com apoio popular é dificilmente derrotado.
DW África: As negociações no Centro de Conferências Joaquim Chissano foram interrompidas. Um diálogo entre o líder da RENAMO e o Presidente de Moçambique também não tem data marcada. O que deve acontecer para que se saia desta fase de estagnação que já dura há muito tempo?
SB: Neste momento tendo em conta as evidências a opção continua a ser a militar. E enquanto os generais de ambos os lados continuarem a acreditar que esta opção tem um efeito significativo, como algum enfraquecimento do adversário, esta vai continuar a ser defendida. Porque, por um lado, sobretudo do lado do Governo parece-me que o Nyusi pacificador, o Nyusi homem da paz, começa a perder alguma capacidade de impor o seu discurso dentro do Governo. Finalmente e tendo em conta a experiência não só de Moçambique mas de muitos outros países, a paz não tem de ser necessáriamente a primeira opção para a resolução de conflitos. O diálogo tende a ser não a primeira mas a última opção.