A nova presidente do Instituto Nacional de Estatística anunciou que os resultados da auditoria ao censo populacional na província de Gaza só serão conhecidos depois das eleições. RENAMO fala em "declaração de guerra".
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Será apenas em dezembro de 2019 que deverão ser desfeitas as dúvidas sobre a disparidade entre os resultados do recenseamento eleitoral na província de Gaza e os dados do Censo de 2017, de acordo com Eliza Magaua, a nova presidente do Instituto Nacional de Estatística (INE).
"Estamos a trabalhar, a verificar cada uma das etapas. O término previsto é dezembro de 2019. Nessa altura esclarecemos tudo", assegurou Magaua na terça-feira (03.09), depois de tomar posse.
Mas o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), rejeita a data. Segundo Venâncio Mondlane, porta-voz do partido, esta é uma questão que tem de ser resolvida antes das eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
"Este pronunciamento da nova presidente do INE representa, para nós, uma declaração de guerra", afirmou Mondlane esta quarta-feira (04.09) numa conferência de imprensa.
RENAMO: Nova presidente do INE "fez declaração de guerra"
Esperar até dezembro "não faz sentido absolutamente nenhum. Não podemos ir a votação sem o esclarecimento prévio da situação. É este o posicionamento do presidente da RENAMO [Ossufo Momade] que queremos passar a toda nação", acrescentou.
Disparidades
A polémica remonta a julho, quando o INE confirmou que havia discrepâncias entre os dados do Censo e os resultados do recenseamento eleitoral, uma vez que foram recenseados 300 mil eleitores a mais do que o número total de pessoas em idade de votar.
"Quando há lugar à sufocação da ciência e técnica por qualquer pressão, põe-se em causa as políticas públicas", justificou Fernandes.
CNE e PGR cúmplices?
Além de criticar a nova presidente do INE, a RENAMO acusa a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique de serem cúmplices na polémica.
"Sob o ponto de vista legal, os processos eleitorais têm prioridade em relação a todos os processos normais. A PGR recebeu uma queixa-crime há mais de um mês e, no mínimo, já devia ter notificado a RENAMO para dizer em que ponto se encontrava a queixa. A CNE recebeu um pedido da RENAMO para a realização de uma auditoria e, durante um mês, não disse absolutamente nada", lamenta Venâncio Mondlane.
"Portanto, é a PGR e a CNE que estão a servir como agentes da obstrução da justiça eleitoral. Esta é uma situação muito grave que nós queremos denunciar", concluiu.
Simango: "Uma lambe-botas"
A província de Gaza é um reduto "natural" da FRELIMO, o partido no poder. Mas os dados do recenseamento eleitoral polémico deste ano apontam para um aumento assinalável do número de eleitores.
Por isso, face às muitas vozes que pedem a realização de uma auditoria o mais cedo possível, Daviz Simango, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), também não poupa críticas às declarações da nova presidente do INE.
"Não se pode ir a eleições com uma dúvida clara de que houve irregularidades e má-fé por parte dos agentes do STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral] em relação ao recenseamento em Gaza. Penso que esta nova diretora deve ser mais uma daquelas lambe-botas, simplesmente para poder viver a vida privada em detrimento dos interesses públicos", afirmou o líder do segundo maior partido da oposição.
O analista político Ricardo Raboco admite que a morosidade no processo de auditoria pode ser motivada por interesses políticos. Contudo, também é preciso tempo para verificar todos os dados, sublinha Raboco.
"O discurso da nova presidente do INE é o correto, porque, de facto, tem que averiguar. Estamos a falar de dados eleitorais. Auditar uma base de dados onde consta o registo de mais de um milhão de eleitores não é um trabalho que vou fazer em um dia, dois dias ou sequer em um mês. Tem que levar tempo", diz.
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.