Secretário-geral da RENAMO, André Madjibire, diz que há "conflito de competências" entre Secretários de Estado e Governadores provinciais. Entretanto, anuncia um plano para resgatar províncias onde a RENAMO terá vencido.
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Para o secretário-geral da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), André Madjibire, reina a desordem nas províncias com duas figuras no poder: os Secretários de Estado e os Governadores provinciais.
"Há um despacho que diz que o palácio e a escolta é para o Secretário de Estado… Duas semanas depois já não, o palácio e a escolta é para o Governador. Estão a ver isso? É uma desorganização", comentou Madjibire esta sexta-feira (31.01), de visita à província da Zambézia.
"Conflito de competências"
Na sequência do processo de descentralização, os governadores provinciais passaram a ser eleitos e foi criada a figura do Secretário de Estado da província, nomeado pelo Presidente moçambicano. Muitos viram a mudança como uma forma de Maputo continuar a controlar as províncias, caso a oposição vencesse em algumas delas. Mas a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) venceu em todas as províncias nas eleições de 15 de outubro. E agora, de acordo com o secretário-geral da RENAMO, é difícil distinguir as competências de cada um dos cargos.
Madjibire afirma que a FRELIMO deu um tiro no próprio pé: "Eles criaram a figura do Secretário de Estado, porque sabiam que nós íamos ganhar. Era para fazer sombra ao nosso Governador. Agora há uma grande clivagem, um conflito de competências".
Esta semana, a plataforma de observação eleitoral Sala da Paz chamou a atenção para um outro caso de "confusão" entre o Secretário de Estado e o Governador Provincial em Nampula: duas cerimónias oficiais de abertura do ano letivo em dois distritos diferentes, uma dirigida pelo Secretário de Estado e outra pelo Governador. O mesmo aconteceu na província da Zambézia. Só uma sugestão: ao invés de Nampula não podemos citar apenas Zambézia?? Hoje aconteceu o mesmo. O Governador Pio Matos esteve em Nicoadala e a Secretária de Estado Judite Faria esteve na cidade de Mocuba.
Entre "plano" e "dilema"
O secretário-geral da RENAMO está desde quinta-feira (30.01) na província, onde o partido continua a reivindicar vitória nas eleições de outubro.
Madjibire diz que a RENAMO tem de elaborar um plano para resgatar todas as províncias em que teria vencido.
RENAMO queixa-se de "desorganização" nas províncias
"O verdadeiro vencedor das eleições na província é o [Manuel de] Araújo e o partido RENAMO", sublinha. "Nós temos que desenhar uma estratégia aqui para ganharmos as eleições nas circunstâncias em que o país está… Eles [FRELIMO] usam a polícia… Temos que sentar e [ver] como fazer face a isso."
Questionado pela DW sobre o plano que a RENAMO iria delinear, tendo em conta que os Governadores provinciais da FRELIMO já tomaram posse há duas semanas, Madjibire não deu detalhes.
"Para que uma estratégia tenha sucesso, é necessário que a mesma não seja divulgada", disse apenas.
Segundo o analista político Ricardo Raboco, a RENAMO está "num dilema".
"Os eleitores da RENAMO estão quase cansados de ouvir a mesma música… 'Nós vamos delinear estratégias'… E estas estratégias' nunca são delineadas. Qualquer estratégia vai ser uma estratégia falhada, ou ela será obrigada a violar o Acordo de Paz, e aí o Estado vai agir, porque não haverá uma espécie de amnistia", conclui Raboco.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.