A Resistência Nacional Moçambicana quer apostar na integração de mulheres nos cargos de direção nas eleições autárquicas previstas para outubro. O objetivo é “mostrar a sua capacidade de liderança”.
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A indigitação de mulheres como cabeças-de-lista para as eleições autárquicas será, numa primeira fase, uma forma de dar poder e visibilidade ao sexo feminino, mas também de reconhecer o seu mérito dentro do partido. Quem o diz é a presidente da Liga Feminina da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Maria Inês Martins, durante a marcha anual daquele organismo pelas artérias de Quelimane, a capital provincial da Zambézia.
No entanto, Maria Inês Martins não pronuncia nomes, nem avança para já o número de candidatas mulheres que encabeçarão as listas do partido.
A caminhada, realizada na quinta-feira (05.07), pretendeu assinalar os 38 anos da Liga Feminina do principal partido da oposição em Moçambique. "Esta marcha representa um avanço para a mulher da RENAMO. Hoje é o Dia do Destacamento Feminino da RENAMO, assim como é o dia da Liga Feminina. Em suma, é o dia de todas as mulheres que simpatizam com a RENAMO", disse Maria Inês Martins.
"Também estamos aqui para imortalizar o nosso presidente Dhlakama", recordou a responsável sobre o líder que sucumbiu em maio deste ano. "Como sabem, esta é a primeira vez que realizamos esta marcha sem a sua presença”, acrescenta.
"Quando Dhlakama morreu, pensava-se que a RENAMO iria acabar. Queremos aqui dizer que não, a RENAMO não acabou. Estamos aqui para dizermos que levaremos avante os ensinamentos do presidente Dhlakama e todos os projetos que ele desenhou desde a juventude até à sua morte", frisou a presidente nacional da Liga Feminina da RENAMO.
Prontas para governar
"Um dos projetos que nos alegra é a descentralização pela qual o presidente Dhlakama se debateu durante todo este tempo. Lutou para que o poder em Moçambique fosse descentralizado, para que cada província pudesse eleger os seus governadores. Nas eleições que se avizinham, nós - as mulheres - estamos prontas para acabar com a liderança da FRELIMO que durante 50 anos não fez nada", asseverou.
Maria Inês Martins explica que a escolha da província da Zambézia para a realização da marcha nacional da Liga Feminina da RENAMO prendeu-se com o facto desta região ter sido adorada por Afonso Dhlakama. "Tínhamos que escolher esta província", sublinhou.
Para além das centenas de mulheres, também homens de diferentes idades se juntaram à marcha feminina pelas avenidas da cidade de Quelimane. Um deles é Pedro Romeu Mussulumad, de 32 anos.
"Os 38 anos da criação da Liga Feminina da RENAMO representam uma grande valorização das mulheres. Estou feliz por fazer parte desta marcha. Vejo que existem muitas mulheres escondidas por aí que gostam da RENAMO. Digo isto, porque estou a ver muitas senhoras que não sei de onde vieram", comentou o simpatizante.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.