RENAMO responsabiliza FRELIMO pela morte de observador
Lusa
10 de outubro de 2019
"Quando nós dizemos que a FRELIMO é um grupo de criminosos, muitos não nos entendem: mataram um cidadão que fazia parte da sociedade civil e que podia ajudar Moçambique", disse Ossufo Momade, num comício em Namapa.
Publicidade
Para o líder do principal partido de oposição em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder desde a independência do país, em 1975, não está interessada na democracia.
"Aqueles [a FRELIMO] não querem democracia em Moçambique. Eles mataram o nosso irmão, mas não mataram os moçambicanos. Os moçambicanos querem a democracia", frisou Ossufo Momade, falando esta quarta-feira (09.10) num comício no posto administrativo de Namapa, na província de Nampula, norte de Moçambique, no decurso da campanha eleitoral.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) anunciou na terça-feira (09.10), numa declaração à imprensa pelo seu porta-voz, em Maputo, que o homicídio de Anastácio Matavel terá sido perpetrado por um grupo de quatro agentes e um civil, referiu, sem adiantar as possíveis motivações.
Cinco suspeitos envolvidos
Segundo o boletim da organização não-governamental Centro de Integridade Pública (CIP), dois dos suspeitos morreram num acidente que envolveu a viatura em que os cinco fugiam do local do homicídio, na cidade de Xai-Xai, capital da província de Gaza.
Moçambique: "Sala da Paz" classifica de cruel e intimidador assassinato de Matavel
01:49
O comandante-geral da PRM suspendeu os comandantes da subunidade de Intervenção Rápida e da Companhia do Grupo de Operações Especiais, em Gaza, a que pertenciam os suspeitos e foi criada uma comissão de inquérito para, no prazo, de 15 dias "apresentar um relatório pormenorizado sobre o facto".
Anastácio Matavel foi baleado mortalmente por um grupo que o perseguiu, na segunda-feira, quando conduzia a sua viatura. A ocorrência foi registada pelas 11:00, depois de o ativista sair de uma formação de observadores onde fez a abertura da sessão.
Numa conferência de imprensa hoje em Maputo, através de André Magibire, secretário-geral do partido, a Renamo repudia de forma "veemente o assassínio bárbaro" de Anastácio Matavel, exigindo demissão do ministro do Interior face aos indícios de envolvimento de agentes da polícia no assassínio.
Além da RENAMO, vários países e organizações não-governamentais moçambicanas e estrangeiras repudiaram o assassínio do observador.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.