RENAMO tem condições para apoiar o seu candidato?
4 de janeiro de 2024Moçambique vai novamente a eleições este ano, a 9 de outubro. Para além de eleger o novo Parlamento, os moçambicanos vão escolher o novo Presidente da República. E a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, já veio anunciar o seu candidato na corrida às presidenciais - o líder do partido, Ossufo Momade.
A RENAMO foi o único partido a avançar com um nome. A 10 meses para as eleições, o analista político Dércio Alfazema entende que já deviam ser conhecidos todos os candidatos. Para Alfazema, a demora na divulgação dos nomes que deverão disputar a Presidência é "reflexo da qualidade da democracia interna dos partidos, onde os membros têm cada vez menos espaço para se expressarem".
DW África: As eleições gerais acontecem em outubro. Como avalia a movimentação dos partidos políticos face a esse escrutínio?
Dércio Alfazema (DA): Estamos a falar de eleições presidenciais, eleições estruturantes, para escolher o chefe da Nação, alguém que tem poder definido constitucionalmente. Penso que este processo, quer seja a nível interno deveria ter iniciado há mais de um ano, até para permitir um maior excrutínio entre os membros do partido e testarem as águas, qual é o sentimento dos eleitores em relação aos diferentes candidatos do partido. Nós assistimos a isso em democracias mais consolidadas.
DW África: Qual pode ser a razão dessa aparente demora na escolha ou apresentação pelos partidos políticos dos seus candidatos às presidenciais?
DA: Isso demonstra que a nossa democracia interna nos partidos políticos ainda está muito fragilizada, é muito precária e muito fechada. Isso é um pouco o reflexo da qualidade da democracia interna dos partidos políticos, onde parece que os membros têm cada vez menos espaço para poderem se expressar.
DW África: A RENAMO já disse que Ossufo Momade será o seu candidato às presidenciais deste ano, uma decisão que será depois discutida ao nível da reunião do conselho nacional desse partido...
DA: Se a RENAMO entender que o candidato único está em conformidade com os estatutos, não vejo problemas. A questão parece ser mais interna, relacionada à oportunidade para outros se candidatarem. Se não houver consenso ou espaço para expressão, a crise interna na liderança pode persistir. Talvez essa posição tenha sido debatida internamente na RENAMO, e como cidadãos, só nos resta aceitar.
DW África: Num contexto de várias críticas, algumas até internas, sobre o papel de Ossufo Momade após as eleições autárquicas onde a RENAMO saiu apenas com quatro autarquias em todo o país, que cenário antevê ao se confirmar a candidatura de Momade?
DA: A questão não é a pessoa, mas sim a estrutura que a RENAMO vai ter para apoiá-lo e poder trazer uma narrativa que consiga convencer o eleitorado. Agora, a leitura que se faz em relação às eleições autárquicas nem sempre faz uma tradução fiel em relação à vontade do eleitorado. Sabemos que estas eleições foram muito problemáticas, não foram as eleições certas para se fazerem uma antevisão do ponto de vista de problemas que poderemos ter durante o processo eleitoral, mas não do ponto de vista de quem está em vantagem. Foram eleições problemáticas e muito contestadas.
DW África: Alguns consideram necessário incluir figuras mais jovens, destacando nomes populares como Venâncio Mondlane ou Manuel de Araújo. Qual é a sua opinião sobre isso?
DA: Essas são as ditas conversas de esquina. A questão é que eles estão lá, pelo menos Manuel de Araújo faz parte do conselho nacional, Venâncio Mondlane é um dos acessores de Ossufo Momade. Eles estão na posição certa para poderem, de acordo com os estatutos, se expressar, posicionarem-se e mostrarem o seu interesse em se candidatarem ao nível da RENAMO.