Governo da RCA chega a acordo de paz com grupos armados
Reuters | DPA | AP | Lusa | tms
2 de fevereiro de 2019
Governo da RCA e 14 grupos armados alcançaram acordo de paz, anunciaram as Nações Unidas e a União Africana. Porta-voz de um dos grupos diz que há consenso sobre um Governo inclusivo.
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A República Centro-Africana (RCA) e 14 grupos armados chegaram a um acordo de paz durante as negociações em Cartum neste sábado (02.02), informou no Twitter o comissário da União Africana (UA) para a Paz e Segurança.
"Um acordo de paz foi obtido há momentos em Cartum" - a capital do Sudão, onde decorrem negociações entre as duas partes - e "deverá ser rubricado" no domingo e assinado "em Bangui nos próximos dias", segundo Smail Chergui, no mesmo texto publicado no Twitter.
"Estamos a afinar o projeto de acordo, do qual a quase totalidade das disposições é aceita pelas partes", acrescentou o comissário da UA, sem avançar mais detalhes.
O porta-voz de um dos principais grupos armados, a Frente Popular para o Renascimento da RCA (FPRC), Aboubakar Sidik, também saudou o acordo. "Nós felicitamo-nos por ter sido encontrado um consenso nos pontos de bloqueio que eram a amnistia e um Governo inclusivo", referiu.
Negociações
Iniciadas em 24 de janeiro na capital do Sudão, estas negociações, sob a égide da União Africana, pretendem um acordo e a criação de uma comissão de acompanhamento, para procurar instalar a paz na RCA, um país devastado pela guerra desde 2012.
Na quinta-feira, as negociações de paz tinham sido suspensas devido a desacordos, principalmente sobre a questão da amnistia dos responsáveis por crimes, segundo disse uma fonte governamental à AFP.
Este cara-a-cara, inédito para a RCA, reuniu uma delegação do Governo, liderada pelo chefe de gabinete do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, com os principais chefes dos grupos armados da RCA.
No entanto, a iniciativa de paz de Cartum não acabou com a violência no terreno. Desde 24 de janeiro, a UPC fez vários ataques na prefeitura de Ouaka, no centro do país.
Crise
Desde o início da crise na RCA já foram assinados sete acordos de paz, sem que algum tivesse conseguido trazer a estabilidade ao país. Só este ano, por exemplo, mais de 63% da população, 2,9 milhões de pessoas, precisarão de ajuda humanitária e assistência, de acordo com a ONU.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos unidos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.