República Democrática do Congo implementa nova lei de minas
Daniel Pelz | nm
29 de março de 2018
Promulgada este mês, a nova legislação prevê aumentos nos impostos sobre os preços de matérias-primas e vai doer no bolso das empresas mineiras que operam na RDC. Mudança preocupa investidores locais e estrangeiros.
Publicidade
Apesar de longas reuniões e discussões com representantes de grandes empresas mineiras, o Presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, manteve seu plano e assinou uma nova lei de minas. As corporações não conseguiram impedir a promulgação da lei, assinada no dia 9 de março.
Os impostos cobrados sobre o preço das matérias-primas passam de cerca de 2 para 3,5%. Se uma matéria-prima for classificada pelo Governo como "estrategicamente importante", então, o imposto será de 10%, como é o caso do cobalto. Além disso, ainda estão previstos impostos especiais de até 50% sobre matérias-primas que tiverem aumento acentuado de preço.
Só a elite beneficia
República Democrática do Congo implementa nova lei de minas
Até agora, as reclamações feitas pelas empresas do setor não surtiram efeito. "Estamos aguardando as reações das empresas mineiras", disse o ministro da Mineração da RDC, Martin Kabwelulu, em entrevista à DW. Apenas posteriormente mudanças poderão vir a ser analisadas.
A República Democrática do Congo é um dos países do mundo mais ricos em matérias-primas. Um terço do coltan e quase metade de todos os depósitos de cobalto do mundo podem ser encontrados no país.
A procura por cobalto tem crescido constantemente, pois o mineral é necessário na fabricação de telemóveis e carros elétricos. Em dois anos, o preço de uma tonelada de cobalto subiu de 18 mil e 500 euros para quase 63 mil.
Cobre, diamantes e ouro também podem ser encontrados no solo da RDC. O que representa um bom negócio para muitas empresas, mas não para a maioria das cerca de 83 milhões de pessoas que vivem no país, um dos mais pobres do mundo.
Estruturas mafiosas
Representantes da sociedade civil pedem há muito uma nova legislação no setor de matérias-primas, visto que a lei de minas anterior data de 2002. O aumento de impostos previsto pela nova lei pode a princípio beneficiar a população. Mas teme-se que não venha a ser eficaz.
"Em geral, a nova lei foi bem recebida pela população", diz Gesine Ames, da Rede Ecumênica da África Central. "Mas é como mas como é comum no Congo: existe uma boa legislação, mas muitas vezes ela simplesmente não funciona. Falta uma real implementação", explica.
O Congo é também um dos países mais corruptos do mundo. No índice de corrupção da Transparency International, o país se encontra na posição 161, num total de 180 países. "Todo o setor de commodities é moldado por estruturas semelhantes à da máfia, estruturas que foram construídas e reforçadas ao longo dos anos", afirma a especialista Gesine Ames.
Membros da família do Presidente também são repetidamente mencionados em conexão com casos de corrupção. Joseph Kabila deveria oficialmente ter deixado o cargo em dezembro de 2016.
A "maldição dos recursos" na República Democrática do Congo
O cobalto e o coltan são minérios abundantes na República Democrática do Congo. Mas, a par com a instabilidade regional, estes recursos atraem milícias, exploração e violência.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Recursos atraem violência e oportunistas
Nas províncias da região oriental da República Democrática do Congo (RDC), tesouros como ouro e estanho atraem milícias oportunistas. Estes grupos violentos exploram pessoas, incluindo crianças, na extração dos chamados "minerais de conflito" – como são o ouro, o cobalto e o coltan. Com as receitas angariadas, os grupos compram armas para conquistar mais territórios e assim, perpetuam o conflito.
Foto: picture alliance / Jürgen Bätz/dpa
Proteger os cidadãos e a exploração legal
A Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO), a maior e mais cara missão de paz da ONU, tem vindo a trabalhar na estabilização da situação nas províncias do norte e do sul de Kivu, que estão no centro da violência do país. As forças de segurança patrulham aldeias mineiras como Nzibira, localizada na margem da Zola Zola, uma mina legal de exploração de cassiterita.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Pagar “o preço humano” por telemóveis
A cassiterita é apenas um dos minerais usados na fabricação de telemovéis. Metade da produção mundial destes minerais vem da África Central. A exportação de estanho, ouro e outros minérios da RDC tem estado sob vigilância desde 2010, altura em que entrou em vigor, nos Estados Unidos da América, a lei que exige que as empresas americanas assegurem que não trabalham com "minerais de conflito".
Foto: picture-alliance/dpa/D. Karmann
Comprovar a legalidade dos minerais
Um cartaz em Nzibira explica como os sacos de minerais precisam de ser devidamente selados e rotulados por um inspetor de minas para que a sua origem legal possa ser provada às empresas dos EUA. No entanto, o sistema apresenta muitas falhas. As minas ilícitas podem simplesmente vender os seus "produtos" no mercado negro ou contrabande-á-los numa mina legal, embalando-os lá.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Exploração de crianças
Apesar dos esforços levados a cabo por organizações, as violações de direitos humanos continuam a existir na exploração de minérios na RDC. Crianças como Esperance Furahaare, que foi raptada e violada por uma milícia quando tinha 14 anos, são vítimas comuns da exploração e violência.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Impacto ambiental
As minas, que são difíceis de controlar, também podem prejudicar o meio ambiente e as comunidades vizinhas. Nas minas ilegais, acontece frequentemente, os esgotos misturarem-se com as águas locais, poluindo o abastecimento.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Futuro pouco claro para a legislação
Os responsáveis pelas leis nos EUA estão a tentar avançar com um projeto de lei que poderá eliminar a reforma de 2010 - que exige que as empresas assegurem que não trabalham com "minerais de conflito". Os legisladores argumentam que a Lei Dodd-Frank tem reprimido o desenvolvimento económico do país e não teve efeito prático na exploração na África Central.