Marcha pacífica da oposição foi interrompida pela polícia, que proibiu manifestações devido ao estado de emergência em vigor no país. Manifestantes pediam transparência nas eleições do mês que vem.
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Em Bamako, capital do Mali, pelo menos 16 pessoas ficaram feridas este sábado (02.06), vítimas da repressão policial contra a marcha convocada pela oposição, que pretendia reivindicar transparência nas eleições presidenciais do mês que vem, segundo informaram testemunhas a autoridades.
A manifestação organizada por uma coligação de partidos da oposição havia sido proibida pelo Governo, que alertou para o estado de emergência em vigor desde 2015 no país.
Segundo apurou a agência de notícias Reuters, os manifestantes, que se reuniram do lado de fora da sede de um dos partidos da oposição, no centro da cidade, foram recebidos pela polícia com escudos e cassetetes. "Centenas de polícias vieram e cercaram a sede, depois entraram, espancaram-nos e dispararam gás lacrimogéneo", disse Alou Niang, um manifestante.
Já a agência de notícias AFP informou que a polícia tentou interromper uma manifestação de centenas de pessoas do lado de fora da sede da Aliança Democrática pela Paz - o partido do atual Presidente Ibrahim Boubacar Keita - atirando gás lacrimogéneo e espancando os manifestantes com cassetetes.
"A nossa marcha foi pacífica. E foi um poder antidemocrático que nos atacou. A ditadura não passará", disse Ousmane Kone, um pedreiro que participou da manifestação no centro da cidade.
Feridos
Várias pessoas foram levadas para o hospital após os confrontos. "Foram 16 feridos evacuados para o hospital, 10 deles já foram liberados. Um polícia foi ferido", disse Amadou Sangho, porta-voz do Ministério da Segurança, acrescentando que um veículo da polícia foi danificado e oito pessoas foram detidas.
Funcionários do hospital recusaram-se a falar com a reportagem da Reuters, mas um funcionário do hospital, que pediu para não ser identificado, confirmou que 14 pessoas tiveram ferimentos leves, enquanto dois foram casos mais graves.
"Fui levemente ferido quando participava da marcha para pedir eleições justas e transparentes. Graças a Deus, consegui ajudar algumas das mulheres e jovens feridos", escreveu Mamadou Igor Diarra, candidato à Presidência da oposição, em sua conta no Twitter.
Eleições e violência
Cerca de uma dúzia de candidatos anunciaram sua candidatura às eleições presidenciais. Entre os nomes mais fortes está o do líder da oposição Soumaila Cisse, ex-ministro das Finanças. O Presidente maliano, Ibrahim Boubacar Keita, de 73 anos, anunciou sua candidatura para um segundo mandato a 28 de maio.
Entretanto, a crescente violência em todo o Mali levantou dúvidas sobre a viabilidade de eleições em algumas partes do país, especialmente no norte, onde ainda atuam grupos jihadistas. Dezenas de cidadãos das etnias Tuareg e Fulani também foram mortos em conflitos no norte, enquanto insurgentes mataram dezenas de soldados da ONU e soldados do Governo.
Presidentes para sempre
Vários líderes africanos já com muitos anos no poder, se não décadas, procuram prolongar a estadia no cargo através de mudanças na Constituição. Alguns deles são o único Presidente que muitos dos seus cidadãos conhecem.
Foto: picture-alliance/P.Wojazer
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika tem 81 anos, conta com 19 no poder e tudo indica que vai tentar a reeleição em 2019, num país onde não há limite de mandatos. Em 2013 sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde parecem travar o Presidente.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
Camarões: Paul Biya
Aos 85 anos, Paul Biya é o Presidente mais velho do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Este ano, deverá concorrer novamente às eleições, depois de uma revisão à Constituição, em 2008, retirar os limites aos mandatos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Guiné-Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Nas últimas eleições do país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Depois de vencer eleições em 2017, poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/G. Dusabe
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder. Em dezembro de 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Com 73 anos, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: Getty Images/AFP/G. Grilhot
Burundi: Pierre Nkurunziza
O terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o TPI, terá causado cerca de 1200 mortos e 400 000 refugiados. Em maio de 2018, terá lugar um referendo para alterar a Constituição que permitirá ao Presidente continuar no cargo que ocupou em 2005 até 2034.
Foto: Imago/photothek/U. Grabowski
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Recentemente, a Constituição do Gabão foi revista e além de acabar com o limite de mandatos, também permite ao Presidente tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/G. W. Obangome
Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016. Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/K.Tiassou
Républica Democrática do Congo: Joseph Kabila
Joseph Kabila sucedeu ao pai no poder em 2001, após o seu assassinato. Deveria ter terminado o segundo e último mandato no final de 2016. Através de um acordo com a oposição, continuou à frente do país. Este prolongamento seria de apenas um ano, mas as eleições que deveriam ter acontecido em dezembro de 2017 não se realizaram. Estão agora previstas para o final de 2018. Será desta?
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Zâmbia: Edgar Lungu
Edgar Lungu é dos que está no poder há menos tempo, apenas desde 2015, mas já vai no segundo mandato - que deveria ser último. Contudo, Lungu pretende recandidatar-se em 2021. Alega que o seu primeiro mandato não contou, uma vez que apenas substituiu o anterior presidente, Michael Sata, que faleceu em 2014, além de ter sido por um curto período, longe dos cinco anos previstos para um mandato.