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Agressão policial espelha medo da FRELIMO de revolta popular

Arcénio Sebastião
22 de março de 2023

Multiplicam-se críticas às autoridades que reprimiram marchas em homenagem a Azagaia. Polícia diz ter sido obrigada a agir por indícios de violência. Analistas acreditam que revolta popular pode levar a golpe de Estado.

Foto: Da Silva Romeu/DW

As cidades de Maputo, Beira, Quelimane, Nampula tomaram conhecimento da realização das marchas e responderam positivamente por escrito que, por serem pacíficas, poderiam ter lugar.

No entanto, logo às primeiras horas da manhã de sábado (18.03), várias especialidades de polícia cercaram locais de partida das marchas. Em Maputo, a capital, foi até lançado gás lacrimogêneo contra os manifestantes, causando vários feridos.

Os esclarecimentos das autoridades tardaram. Só esta terça-feira (21.03) é que o vice-comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Fernando Tsucana, quebrou o silêncio.

Polícia quebra o silêncio

Veio a público acusar alguns órgãos de comunicação de estarem a fomentar indisciplina e sublevação para um golpe de Estado. Acusou ainda os jovens organizadores da marcha de pretenderem fazer uma ação obscura.

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"Os organizadores do ato pretendiam fazer um aproveitamento obscuro forçando a passagem do cortejo fúnebre por uma rota inicialmente prevista, a Polícia da República de Moçambique constatando a existência de indício de transição de uma manifestação pacífica para violenta decidiu tomar medidas de polícia desdobrando se aos locais de concentração", justificou.

A comissão organizadora da marcha ao nível nacional desmente. Numa conferência de imprensa em Maputo, também esta terça-feira (21.03), Cídia Chitsungo, negou que tenham sido praticados atos de vandalismo.

"Surpreendentemente nenhum jovem, nenhum cidadão um que seja reagiu com violência, se tiverem algum registo que esse registo apareça, nossa bandeira é e sempre será de não violência", garantiu.

Golpe de Estado é possível?

Ouvido pela DW, o analista Wilker Dias diz que a revolta da sociedade civil, principalmente dos jovens, pode demonstrar a fragilidade da segurança do Estado e culminar mesmo num golpe de Estado, devido à má governação e ao elevado índice de desemprego no país.

Analista político Wilker DiasFoto: Arcénio Sebastião/DW

"O medo maior é que isto se transforme numa manifestação de proporções maiores. Talvez este seja o medo, mas é importante referenciar que torna-se um medo e preocupação, quando estamos perante um regime fechado, isso torna-se uma consequência de um regime fechado", defende.

Já o analista Tobias Zacarias frisa que o sucedido pode prejudicar a imagem de Moçambique nas Nações Unidas: "Isto infelizmente vem denegrir mais a imagem do nosso país, é só lembrar que Moçambique não goza de simpatia da parte dos países que fazem pressão pela paz democracia e direitos humanos. Estamos a falar num momento que Moçambique assume lugar de destaque no Conselho de Segurança da ONU."

Wilker Dias concorda "que Moçambique acaba, de uma certa forma, trazendo ao mundo uma imagem negativa", numa altura em que está no Conselho de Segurança, visto "como um ponto de preservação principalmente da paz e dos direitos humanos."

O analista diz que houve violação dos direitos quando houve agressão de manifestantes, mencionando o caso de "um jovem que foi brutalmente agredido em Nampula", que a seu ver "reflete um pouco o regime totalitarista".

Moçambique, acrescenta, pode até "descer no ranking de preservação de democracia e direitos humanos. "E isto pode nos fechar as portas de acesso a outros mecanismos de financiamento de apoio", alerta Dias.

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