A cerimónia de exumação e recolha de amostras dos restos mortais do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, realizou-se esta quinta-feira no Luena, província do Moxico. Funeral deve acontecer na primeira semana de abril.
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A informação é do porta-voz do maior partido da oposição angolano. Alcides Sakala referiu que o ato teve lugar na manhã desta quinta-feira (31.01) na presença de uma delegação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e do Governo.
Segundo Alcides Sakala, realizou-se a exumação e a recolha das amostras dos restos mortais de Savimbi para o exame de DNA, a ser feita por técnicos portugueses, sul-africanos e angolanos, nos respetivos países.
"Penso que a partir de agora os técnicos vão começar a trabalhar e vamos ver a evolução desse processo", salientou o porta-voz da UNITA, acrescentando que não há ainda uma previsão para a divulgação dos resultados.
Em declarações à imprensa, Sakala disse ainda tratar-se de "um ato histórico para a família, para o partido e para o país".
Restos mortais de Jonas Savimbi exumados no Luena
"Pode representar um passo importante naquilo que é a perspetiva do reencontro dos angolanos. É uma figura incontornável para a história de Angola pela sua contribuição durante a luta de libertação nacional e participou também na fase importante para o aprofundamento do processo democrático no nosso país", complementou.
Funeral condigno
Para o analista político Agostinho Sicatu, o ato é um passo importante para o funeral condigno de Jonas Savimbi. "Felizmente, pela primeira vez na história, um líder político na oposição merece esse funeral condigno. Angola não nos habituou a isto. Não nos habituou a conceder a dignidade aos mortos", disse.
No governo do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, o processo de reconciliação nacional foi, por muitas vezes, questionado. Agostinho Sicatu espera que a exumação dos restos mortais de Jonas Savimbi seja um sinal de retomada do processo de unidade nacional.
"Angola não está reconciliada. É preciso que se diga isso de bom tom. Tem ainda feridas que estão bastante abertas. Estas feridas abertas precisam, claramente, de um espaço de reconciliação, por isso, seria bom que Angola criasse um Conselho Nacional de Reconciliação", sugere.
Cerimónia fúnebre esperada para abril
No ato desta quinta-feira participaram da parte da UNITA, o coordenador da comissão organizadora das exéquias de Jonas Savimbi, Joaquim Ernesto Mulato, Rafael Massanga Savimbi, Durão Savimbi e Kanganjo Savimbi, filhos do primeiro presidente do partido, um sobrinho, o porta-voz do partido e deputado Maurílio Luiele.
Da parte governamental, avançou Alcides Sakala, esteve presente uma delegação bastante vasta, chefiada pelo general Cequeira, ligado à Casa Militar do Presidente da República.
Na terça-feira, o vice-presidente da UNITA, Raul Danda, avançou à Lusa que as cerimónias fúnebres do fundador do partido deverão acontecer na primeira semana de abril.
Jonas Savimbi foi morto em combate no dia 22 de fevereiro de 2002 e os seus restos mortais foram sepultados no cemitério de Luena, capital do Moxico.
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
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Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)