Entrega dos restos mortais do fundador da UNITA gera polémica. Familiares e membros do maior partido da oposição angolana esperavam chegada do corpo de Savimbi no aeroporto do Cuíto, mas Governo depositou-o noutro local.
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Esta terça-feira (28.05), membros da direção, familiares e militantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) foram ao aeroporto do Cuíto, capital do Bié, aguardar pela chegada restos mortais de Jonas Savimbi. Mas o Governo acabou por depositar o corpo numa unidade militar no município do Andulo, província do Bié, sem a presença de representantes familiares ou da direção da UNITA.
Segundo o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Pedro Sebastião, a direção do maior partido da oposição angolana "impediu os seus representantes na comissão [do partido, para as exéquias fúnebres] de estarem presentes no Andulo", para a receção dos restos mortais de Jonas Savimbi.
Restos mortais de Savimbi depositados no Andulo
O governante, que falava em conferência de imprensa em Luanda, proveniente do Andulo, no quadro da inumação dos restos mortais de Jonas Savimbi, morto em combate em 22 de fevereiro de 2002, recordou que a pedido da família e da UNITA, o Presidente angolano, João Lourenço, criou, em 15 de agosto do ano passado, a Comissão Multissetorial para o Processo de Exumação, Transladação e Inumação dos Restos Mortais do líder histórico do partido do 'galo negro'.
"Hoje, dia 28, estava prevista a transladação dos restos mortais do Luena (província do Moxico) para o Bié e mais concretamente para o Andulo, depois de termos tido uma reunião a nível da comissão e ter ficado assim decidido", disse Pedro Sebastião, que é também presidente da Comissão Multissetorial para o Processo de Exumação, Transladação e Enterro dos Restos Mortais do líder histórico do partido do "galo negro".
Questionado se não havia possibilidade de transferir os restos mortais do Andulo para o Bié, tal como reclama a UNITA, Pedro Sebastião respondeu negativamente, justificando com problemas de ordem logística, nomeadamente combustível, entre outros.
UNITA acusa Governo de falta de diálogo
Isaías Samakuva, líder da UNITA, acusa o Governo de falta de diálogo. Numa conferência de imprensa no Cuíto, Samakuva indicou que estava tudo preparado para receber os restos mortais na capital do Bié e que há "algo que se está a passar, que o partido não entende".
Segundo o presidente do partido, os restos mortais de Savimbi foram entregues na segunda-feira no Luena sem que a UNITA ou a família estivesse presente, pois não havia ninguém mandatado pelo partido ou pela família para o efeito.
"É preciso diálogo entre a comissão tripartida, entre o Governo, a UNITA e a família e desde dia 20 que, apesar dos nossos esforços, ninguém do Governo ligado direta ou indiretamente à comissão nos respondeu; apenas ontem [segunda-feira] soubemos que os restos mortais foram para o Luena", disse Samakuva, indicando que a urna estava numa pequena capela no cemitério local.
"O resultado é este; nem a família nem a UNITA vão andar para trás e para a frente à procura dos restos mortais", frisou o líder do partido, lembrando que deve haver respeito pela memória de Jonas Savimbi e pelos convidados do partido para a cerimónia que o Galo Negro' pretende realizar apenas no sábado. Segundo a UNITA, do lado governamental, ninguém se encontra no Cuíto para esclarecer a situação.
Cerca de 1.500 pessoas afetas à UNITA, que foram ao aeroporto do Cuíto para receber os restos mortais de Savimbi, criticaram, em declarações à agência de notícias Lusa, a falta de informação do Governo sobre o destino da entrega dos restos mortais do fundador do partido.
Segundo as explicações dadas ao final da tarde pelo ministro Pedro Sebastião, na segunda-feira (27.05) realizou-se uma última reunião com os familiares e elementos do partido, para acertar detalhes do processo, que deverá culminar no próximo sábado, 1 de junho, com as cerimónias fúnebres previstas para o cemitério de Lopitanga, no Bié.
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
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Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)