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Restrições à circulação em Luanda podem gerar "revolta"

8 de setembro de 2023

O Governo provincial de Luanda suspendeu, esta semana, a circulação de mototáxis em algumas vias da capital angolana. Alertando para as graves consequências da decisão, associação do setor diz ter soluções.

Luanda
Foto: Borralho Nbomba/DW

O objetivo desta proibição, segundo o Governo de Luanda, é melhorar a circulação e reduzir os acidentes, que resultaram em 134 mortes e mais de 700 feridos nos primeiros seis meses deste ano.

Em entrevista à DW África, a Associação dos Mototaxistas de Angola (Amotrang) reconhece os problemas de segurança, mas teme a diminuição dos rendimentos dos mototaxistas, muitos dos quais dependem da circulação nas principais vias para sustentar as suas famílias.

Uma das sugestões para resolver os problemas de trânsito da capital angolana, defende o presidente da Amotrang, Bento Rafael, seria a divisão dos mototaxistas por classes.

DW África: Qual a atual situação dos mototaxistas em Luanda?

Bento Rafael (BR): O que se está a passar é que o Governo provincial proibiu a circulação dos mototaxistas em algumas avenidas de todos os municípios de Luanda, sobretudo aquelas avenidas de maior concorrência destes mototaxistas. Em alguns casos, como o da área agrícola do Cacuaco, as limitações que foram impostas não permitem que os mototaxistas de três rodas, os chamados motoqueiros de carga, tirem os produtos agrícolas e os transportem para os mercados de Luanda, porque foi proibida a circulação na Estrada Nacional 110, 100 e na via Fidel de Castro. Assim sendo, os mototaxistas ficam sem opções para irem aos mercados mais próximos. [Esta quinta-feira] um grupo de mototaxistas quis exercer a sua atividade e, asfixiados, quase fizeram uma grande manifestação na Estrada Nacional 100. Tivemos que conversar com eles e convencê-los [a dialogar com o Governo provincial].      

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04:19

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DW África: Qual seria a vossa proposta para o governo provincial de Luanda?   

BR: Temos uma [proposta] muito importante sobre dividir os dez mil mototaxistas em classes, como A, B, C… Assim sendo, quem seriam, por exemplo, os mototaxistas da classe A? Seriam aqueles com nível superior [de formação], que tivessem passado já pelas escolas de condução e que tivessem carta de condução, seriam aqueles que tivessem formação em áreas como o empreendedorismo, educação cívica, etc. Os outros mototaxistas seriam afastados para as vias secundárias. O indivíduo para vir para as vias primárias tinha que passar primeiro pela formação e subir de classe. É uma das condições. Temos outras que vamos revelar no encontro com o senhor governador.

DW África: Que consequências traz esta decisão à vida da população de Luanda e até mesmo aos próprios mototaxistas?

BR: Grandes. Primeiro, muitos destes mototaxistas são indivíduos com formação superior que não encontram emprego em outras áreas. Alguns deles até estavam desempregados e fizeram curso na atividade de mototáxi para a sua sobrevivência. Temos indivíduos que eram delinquentes e que, trabalhados por nós, preferiram vir para a via para terem uma vida digna e é daqui que tiram o seu pão. E temos também uma outra situação: estes mototaxistas são os únicos transportadores que tiram as pessoas dos bairros para os pontos de toma de outros transportes. Quer dizer que se a situação prevalecer, poderemos ter até uma revolta popular pelo facto das pessoas não terem um único transporte que lhes permita apanhar transportes públicos. Portanto, é uma situação que vai tocar na vida do cidadão. Lamento não termos sido ouvidos.

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