Retirada das tropas europeias compromete segurança no Mali
Martina Schwikowski | rl
21 de fevereiro de 2022
A retirada repentina das tropas europeias do Mali pode colocar em causa a segurança, não só do país, mas também de toda a região do Sahel. Um alerta repetido nos últimos dias por analistas que apelam a saída estruturada.
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"Gostaria de advertir contra a retirada do Mali a curto prazo, como fizemos no Afeganistão. Isso só desestabilizaria ainda mais o país", sublinha Ulf Laessing, da Fundação Konrad Adenauer. Em entrevista à DW, o analista explica que, apesar da atuação das tropas estrangeiras não ter sido um sucesso no Mali, sem elas o país poderia ter desabado.
O especialista na região do Sahel não tem dúvidas de que a retirada dos franceses e dos seus aliados europeus é sem sobra de dúvida "um golpe" para o exército alemão e para toda a missão da ONU no Mali.
"Os franceses como força de combate, uma unidade anti-terrorista, não podem ser substituídos pela unidade da ONU, que tem um mandato defensivo, e não está equipada com meios para deter o terrorismo", lembra.
Futuro da missão da ONU no Mali?
Esta foi também uma preocupação levantada pelo Preidente senegalês, Macky Sall, que preside atualmenteà União Africana (UA), e que questionou, em Bruxelas, qual o futuro da missão da ONU no Mali e quem garantiria daqui para a frente a sua segurança no país.
Como vai ficar o combate ao terrorismo no Sahel?
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou na semana passada que devido à deterioração das relações com a junta militar no poder no Mali, a França e os seus aliados iriam iniciar a retirada das suas tropas do país.
No entanto, Macron garantiu que o fim das operações especiais Barkhane e Takuba não representa o fim do combate ao terrorismo na região do Sahel, tendo explicado que é intenção da França reposicionar a sua operação no Níger. O que também levantou preocupações.
Risco para a estabilidade da região
À DW, o ativista nigerino Moussa Tchangari afirma que a chegada de mais soldados estrangeiros pode ser um risco para o Presidente Mohamed Bazoum. "[Aceitar as tropas francesas é] um risco para a estabilidade do Níger e a sua sobrevivência, numa altura em que estamos a assistir ao regresso dos militares ao poder nos países do Sahel e na África Ocidental em geral", alerta.
A mesma opinião tem Mahamadou Idder Algabid, da organização não-governamental "Agir para a paz e a segurança no Sahel". "O destacamento destas tropas poderia inflamar ainda mais a atmosfera política já tensa e envenenada pela desinformação", considera.
De acordo com estes ativistas, à semelhança do que acontece no Mali, também no Níger tem sido crescente a frustração da população em relação à presença de forças internacionais.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.