Retomada dos comboios em Lichinga reflete-se nos preços
Manuel David (Lichinga)
6 de julho de 2017
No mês passado, os comboios de mercadorias voltaram a circular em Lichinga, em Moçambique. Alguns habitantes relatam maior disponibilidade de produtos, a preços mais baixos. Outros avisam que ainda é cedo para celebrar.
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Os altos preços dos produtos de primeira necessidade têm sido uma dor de cabeça constante para a população de Moçambique.
Só no ano passado, a inflação no país subiu até 25% e isso dificultou bastante a vida das pessoas. Agora, vários preços estão a baixar ligeiramente e alguns moçambicanos já começam a respirar de alívio, especialmente os moradores de Lichinga, na província do Niassa, norte do país.
Depois de sete anos de interrupção, os comboios de mercadorias voltaram a circular na cidade, o que terá ajudado a diminuir os preços dos alimentos, diz Nelson Baptista, um residente de Lichinga.
"Nos últimos tempos, a tendência dos preços dos produtos de primeira necessidade é de decrescer - considerando que temos essa via de acesso, que está a facilitar, que é a linha férrea," afirma.
A circulação dos comboios já melhorou a vida dos niassenses, confirma o habitante Cipriano Lucas: "Muitas coisas que entram aqui em Lichinga estão a vir de comboio, porque há muito tempo era difícil conseguir arroz".
Há pouco tempo, um saco de 25 kg de arroz custava cerca de 1300 meticais (cerca de 19 euros). Agora, ronda os 800 meticais (à volta de 11 euros). Antes, um garrafão de cinco litros de óleo custava 530 meticais (pouco mais de sete euros) e agora caiu para 430 meticais (cerca de seis euros).
Expectativas de mais queda nos preços
Para Andilo Jumo, um empresário na cidade de Lichinga, a tendência decrescente dos preços tem outras causas, além da retomada da circulação dos comboios.
"Isso iniciou do mês passado para este mês, através do transporte - que é o comboio - e outra coisa é [a concorrência] dos mercados," avalia.
7.07 Retoma dos combois no Niassa reflecte-se nos preços - MP3-Mono
Nos últimos meses, vários analistas anunciaram que o pior da crise económica em Moçambique já passou. Os indicadores estão a melhorar: a moeda moçambicana está mais estável e a inflação tem abrandado.
Ainda assim, há residentes que dizem que pouco mudou – muitos outros produtos continuam caros. É o que diz, por exemplo, Elvira, outra moradora de Lichinga.
"Os preços dos produtos ainda continuam altos. Há um ou outro produto cujo preço desceu, mas não foi tudo. Por exemplo, o açúcar continua no preço de 65 meticais [cerca de 0,90 euro]. Antigamente nós comprávamos por 35 meticais [0,50 euro]. Então tem que baixar, porque nem todos têm acesso ao açúcar," defende.
Alberto Soares, membro do Conselho Empresarial do Niassa, também diz que, apesar desta ligeira descida no preço de alguns produtos, sobretudo nos locais, é preciso que os preços baixem mais – só assim é que os habitantes poderiam começar a ver mudanças.
"Essa questão de arroz, o sabão e o óleo, esses produtos continuam praticamente a um certo preço que não ajudam realmente a população do Niassa," critica.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.