Rio 2016: Atletas paralímpicos sul-africanos apostam no ouro
9 de setembro de 2016Numa manhã de domingo, no final do mês de agosto, Jonathan Ntutu preparava-se para correr na pista do clube de atletismo Tygerberg, na Cidade do Cabo, África do Sul. Era apenas um aquecimento, pois Ntutu precisava guardar energia e não podia machucar-se antes dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, no Brasil.
Ntutu é um dos 44 atletas da África do Sul que competem em 10 modalidades paralímpicas no Rio de Janeiro. Aos 32 anos, o atleta com deficiência visual é especialista nas categorias de 100 metros e 200 metros rasos do atletismo. Em Londres 2012, ele ganhou medalha de bronze pelos 100 metros. Desta vez, ele pretende chegar à medalha de ouro.
A deficiência visual, para Jonathan Ntutu, não é um impedimento: “Eu não me vejo como um atleta deficiente. Há muitas vezes que eu tenho de competir com atletas fisicamente capazes em competições locais, e eu sempre dou o meu melhor”.
Ntutu nasceu no distrito de Gugulethu, na Cidade do Cabo. De família pobre, as circunstâncias sociais não o impediram de se tornar um atleta profissional. Os pais de Jonathan mandaram-no para estudar numa escola fora do país, que é especialista em educação para pessoas com deficiência visual. Aos seis anos de idade, ele começou a correr, e pouco tempo depois já participava das primeiras competições a nível escolar.
Obstáculos para o desporto profissional
Muitos dos jovens atletas, com alguma deficiência física ou intelectual, nascidos nos distritos da Cidade do Cabo ou na zona rural do país, no entanto, enfrentam grandes dificuldades. Ernesta Strydom, da Free State Sport Association for the Physically Disabled or Visually Impaired (FSSAPD), conhece muito bem estas dificuldades.
“Há um monte de obstáculos, como o transporte, a falta de dinheiro. Às vezes temos de oferecer algum suporte a eles (os atletas), porque algumas vezes não há comida na suas casas”, revela Ernesta, que trabalha na assoicação que ajuda os atletas com deficiência na África do Sul.
Strydom é também técnica oficial da África do Sul para o Comité Paralímpico Internacional (IPC). Ela está ciente dos problemas que os atletas sul-africanos com deficiência enfrentam. Segundo Strydom, os atletas deficientes têm de lidar, principalmente, com a falta dinheiro e infraestrutura, especialmente ao nível da comunidade. Strydom frequentemente aconselha seus atletas para treinar nos clubes desportivos convencionais, mas muitos instrutores não são treinados para trabalhar com pessoas com deficiência.
Moekki Grobberlaar, ex-atleta paraolímpica no levantamento de peso e presidente da Associação de Desporto Sul-Africano para Deficientes Físicos e Deficientes Visuais (SASAPD), por outro lado, pensa que o desporto para pessoas com deficiência está a se desenvolver na África do Sul. Mas ela também vê seus déficits: "Eu não acho que a África do Sul neste momento está np nível em que eu poderia dizer que todas as instalações são facilmente acessíveis para as pessoas com deficiência pratiquem o desporto".
Voluntários desempenham importante papel
Voluntários como Strydom têm grande importância. Em seu dia a dia, ela trabalha como fisioterapeuta. "É difícil, mas olhando por outro lado, não é tão mau assim, se você tem em mente que somos apenas voluntários na condução deste processo", explicou.
Em termos continentais, a África do Sul lidera a tabela paralimpíca. Os atletas sul-africanos já ganharam 280 medalhas até hoje. Isso não é muito em comparação com os campeões paralímpicos nos Estados Unidos, que somam pelo menos 2.300 medalhas, mas é muito mais do que as 43 medalhas conquistadas por atletas quenianos, por exemplo.
Uma nova geração de estrelas paralímpicas
Nos últimos anos, Oscar Pistorius, ou o "Blade Runner", como era conhecido, era um dos destaques paralimpícos da África do Sul - até que ele foi acusado de homicídio culposo pela morte de sua namorada Reeva Steenkamp. A “queda” de Pistorius, no entanto, não prejudica a imagem do desporto paralímpico sul-africano, de acordo com Strydom e Grobberlaar.
“Há outras estrelas paralímpicas”, apontou a presidente da SASPD, como, por exemplo, “a nadadora Natalie du Toit ou a atleta Ilse Hayes Carstens”. Ntutu fala do papel Pistorius como um campeão paralímpico: “Ele foi um ídolo para todo mundo, provavelmente. Ele ajudou a colocar a África do Sul no mapa para o desporto paralímpico. O que aconteceucom Pistorius não pode nos prejudicar”.
Para atletas como Ntutu, chegar à Paralimpíada é muitas vezes uma longa e difícil jornada - especialmente financeiramente. Encontrar os patrocinadores certos é difícil para ambos os atletas deficientes e não deficientes.
Ntutu espera que o sucesso da equipa sul-africana nos Jogos Olímpicos contagie a equipa para as Paraolímpicos: "Atletismo na África do Sul, em geral, não tem tanto destaque, mas agora com Wayde van Niekerk e Caster Semenya, grandes empresas da África do Sul estão começando a enxergar o atletas. Por isso espero que o desporto paralímpico se beneficie com isso também". E um desenvolvimento positivo já ocorreu: o Comité Olímpico Sul-Africano anunciou que os atletas paralímpicos ganhadores de medalhas vão obter os mesmos bônus que os seus colegas olímpicos.