Cuando e Cubango: Risco de cólera expõe problema nas escolas
Adolfo Guerra (Menongue)
23 de janeiro de 2025
Angola está a braços com um surto de cólera. Nas províncias do Cuando e Cubango, pais e professores no pedem melhorias nas condições de higiene escolar para prevenir o avanço da doença e proteger as crianças.
O surto expôs as fragilidades das condições de higiene em várias escolas da região. De acordo com Mwene Bailundo, encarregado de educação, muitas escolas enfrentam uma grave falta de infraestruturas básicas.
"A falta de casas de banho em determinadas escolas leva os alunos a fazer necessidades nos arredores dos recintos escolares, procurando algumas matas para defecar e urinar. Isto é um verdadeiro atentado contra a saúde", afirmou.
O Ministério da Saúde revelou que o grupo etário dos 2 aos 9 anos contabiliza mais de 150 casos confirmados e, até ao momento, pelo menos 10 óbitos.
António Correia, outro encarregado de educação, destacou que não apenas os alunos, mas também os professores enfrentam condições insalubres. "Numa altura em que ocorre a proliferação do surto de cólera no nosso país, é lamentável", lamentou.
Higiene nas escolas
O professor Piedoso Nkeke atribui grande parte da responsabilidade ao Estado, devido à falta de condições de higiene nas escolas. "É obrigatório que as entidades legais e legítimas criem políticas para o cuidado da saúde pública", apela.
Contudo, Nkeke sublinha também a necessidade de uma mudança de comportamento por parte das comunidades, alertando para os riscos de sobrecarga nas instituições de saúde.
"Aliás, a saúde não mora nos hospitais, mas sim nas comunidades, e a escola é uma comunidade, sob pena de declinarmos uma catástrofe de saúde e um desencorajamento em relação às escolas por parte das crianças", destaca.
O Governo angolano comprometeu-se a controlar o surto até março, tendo já implementado centros de tratamento e hidratação nas áreas mais afetadas. Entre as medidas anunciadas estão o abastecimento de água potável, a remoção de focos de lixo e a realização de campanhas de sensibilização para a saúde nas comunidades.
Apesar destas promessas, André Hossi, funcionário público, insiste na necessidade de ações mais céleres e eficazes. "Para que esta situação seja ultrapassada, o governo local deve criar condições para resolver estas debilidades nas escolas, uma vez que estamos confrontados com a ameaça da proliferação da cólera, que se torna mais alarmante a cada dia", alerta.
Os locais mais propensos à ocorrência de cólera
A cólera é uma doença bacteriana grave, contraída através do consumo de água e alimentos contaminados. A falta de saneamento básico e as fortes chuvas têm causado surtos desta doença em Moçambique.
Foto: Romeu Silva/DW
Chuvas propiciaram a cólera
As chuvas intensas que caíram em fevereiro e março causaram enchentes. As autoridades já previam a eclosão da cólera em alguns bairros, sobretudo periféricos. Foram estas chuvas que provocaram a estagnação de águas que propiciaram a eclosão da cólera, não só na cidade de Maputo, mas também em outras cidades de Moçambique.
Foto: Romeu Silva/DW
Lama e lixo perto de casa
O lixo e a lama propiciam a eclosão da doença. Estes ambientes com resíduos acumulados geralmente estão próximos das residências.
Foto: Romeu Silva/DW
Condições de saneamento nos mercados
Nos mercados, o perigo da eclosão da cólera é visível. Na Praça dos Combatentes, popularmente conhecida por Xiqueleni, não há infraestrutura de saneamento. Esta é um dos maiores mercados informais de Maputo e, também, um dos locais mais perigosos para a eclosão da doença já que se acumula água suja nos mesmos locais onde se vendem alimentos para consumo.
Foto: Romeu Silva/DW
Alimentos vendidos em locais impróprios
Os alimentos são, muitas vezes, expostos no chão ou em locais que as pessoas podem facilmente pisar. Tal torna necessário uma boa higiente na preparação dos ingredientes, o que também é dificultado pela falta de saneamento.
Foto: Romeu Silva/DW
Águas negras em prédios
Em alguns prédios mais antigos de Maputo é comum sentir-se o cheiro nauseabundo das águas que brotam dos esgostos improvisados. Estes são locais muito propícios à propagação da doença.
Foto: Romeu Silva/DW
Sanitários públicos
Em alguns sanitários públicos é notória a falta de higiene, sobretudo em escolas e hospitais muito frequentados por cidadãos. Neste sanitário de uma escola, denotam-se esforços para manter o local limpo.
Foto: Romeu Silva/DW
Falta de água
Nos locais públicos, algumas pessoas também têm dificultado as ações das autoridades quando roubam torneiras, dificultando assim a higiene individual. Apesar do esforço em manter o local limpo, nota-se nesta imagem que as torneiras foram retiradas.
Foto: Romeu Silva/DW
Lixeira de Hulene
Há residentes nas imediações da maior lixeira do município de Maputo. Várias vezes ao dia são despejados resíduos no local. Nos arredores, veem-se residências de pessoas que convivem diariamente com esta situação.
Foto: Romeu Silva/DW
Comunidades na recolha de lixo
As comunidades nos distritos municipais de Maputo desdobram-se em ações de limpeza para evitar a propagação da cólera. Todas as manhãs é visível o transporte de resíduos sólidos para os contentores de lixo.
Foto: Romeu Silva/DW
Água canalizada
Nem todos cidadãos têm acesso a água potável na cidade de Maputo. Contudo, fontanários têm sido bastante importantes no abastecimento do população com todas as medidas de higiene respeitadas.
Foto: Romeu Silva/DW
Saneamento do meio
Valas de drenagem como esta são raras nos guetos de Maputo. Em tempos de chuva, a vala escoa água para zonas baixas. Isso evita as enchentes que provocam cólera.