É o quinto nível mais grave numa escala de seis, segundo o mais recente Mapa de Risco Político da consultora AON.
Publicidade
O risco político severo em Angola deverá manter-se, pelo menos a curto prazo. Isto porque os problemas do país deverão continuar. "Os principais fatores continuam a ser a dependência muito grande do preço do petróleo. O preço do petróleo continua baixo. Além de que [o país] carece de desenvolver infraestruturas para potenciar outros sectores de atividade", explica Pedro Pinheiro, diretor do departamento da AON Financial Solutions, em Portugal.
A depreciação do kwanza, os problemas em termos de regulação, a corrupção e a falta de mão-de-obra qualificada pesam também na avaliação do risco político. Esta avaliação tem impacto no investimento estrangeiro: ou seja, as empresas vão pensar duas vezes antes de investirem num país de elevado risco político.
Risco político em Angola e Moçambique é "severo"
Num clima de expetativa em relação ao rumo político de Angola, em fase transição de regime, Pedro Pinheiro, da consultora AON, vê alguns sinais no sentido de se eliminar obstáculos à diversificação e ao crescimento da economia.
O mercado está num "jogo de esperar para ver o que se vai passar". A alteração política em Angola "cria alguma expetativa no sentido saber se vamos ter mudanças”, esclarece Pedro Pinheiro.
Sinais positivos
No entender do responsável da corretora de seguros especializada em risco político, o novo Governo angolano "já começou a tentar fazer alguma coisa, com incentivos ao investimento, através da redução das taxas de impostos, só que ainda não teve tempo de ter qualquer resultado". Mesmo assim, considera "um sinal positivo, porque efetivamente estão a olhar para formas de potenciar o investimento estrangeiro”, acrescenta o responsável da AON.
Também Manuel Muanza, analista angolano e docente no Instituto de Ciências da Educação, considera haver indícios que poderão levar a uma diminuição do risco político.
"Claro que ainda é cedo para se fazer o balanço do novo Governo, que só está a gerir há 30 dias, mas o discurso político demonstra que há alguma mudança de paradigma em relação ao pensamento que existe sobre a forma de conduzir a prática governativa. Por exemplo, essencialmente, podemos apontar o facto de ter uma consciência de que é preciso combater a prática da corrupção, o nepotismo e contar no país com as pessoas independentemente da sua cor política – o que na prática ainda se verá", afirma Manuel Muanza.
Manuel Muanza e Pedro Pinheiro estão de acordo: a aposta no capital humano e em infraestruruas de saúde, educação e rodoviárias são a receita para diminuir o risco político em Angola.
Radicalismo islâmico: novo desafio em Moçambique?
Também em Moçambique, o risco político deverá manter-se severo, segundo a AON, consultora de seguros especializada em risco político. No país, que continua muito dependente da variação dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais, surge um novo desafio: o radicalismo islâmico.Os recentes ataques em Mocímboa da Praia, na província norte de Cabo Delgado, onde estão instaladas multinacionais para a exploração do gás natural, podem significar maior risco para as empresas, alerta Pedro Pinheiro, diretor do departamento da AON Financial Solutions, em Portugal.
"Se a violência for muito maior, pode pôr em risco a própria atividade dessas empresas. No caso de um gasoduto, podemos estar a falar numa falha de fornecimento de um dia para o outro com algum tipo de ataque. Também temos de olhar para a questão dos recursos humanos, porque cada vez existem mais situações de raptos", aponta o especialista.
Pedro Pinheiro defende uma resposta mais "ponderada" do Governo, "para que estes movimentos não se radicalizem e assumam proporções muito grandes, como foi o caso da Nigéria", acrescenta.
Além disso, a crise da dívida em Moçambique fez disparar a inflação, assim como aumentou o risco de transferência de capitais e de incumprimento.
De um modo geral, as ameaças de grupos terroristas no continente africano assim como o baixo preço das matérias-primas contribuem igualmente para um risco político elevado em África, de acordo com o relatório da consultora AON.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".