O Atlantic Music Expo, em Cabo Verde, é um espaço de intercâmbio entre fazedores e consumidores de música de todo o mundo. A maior feira da música da África Ocidental terminou na quarta-feira, mas os contactos ficam.
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Mais de 40 grupos e artistas cabo-verdianos e estrangeiros atuaram neste encontro internacional de profissionais da música, onde, além de concertos, também há conferências, formações, feiras e muita troca de experiências.
Este ano, na quinta edição, estiveram presentes representantes e músicos de Cabo Verde, Angola, Moçambique, Portugal, Brasil, Alemanha, Gabão, Mali, Gana, Marrocos, Comores, República Democrática do Congo, ilhas Reunião, Haiti, Espanha, Canadá, EUA e França.
O Atlantic Music Expo (AME) tem sido uma oportunidade para um maior intercâmbio entre artistas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e produtores alemães.
Até aqui, o mercado musical europeu tem dado espaço sobretudo a músicos africanos francófonos e anglófonos, mas o número de aficionados pelas músicas e géneros musicais dos PALOP está a aumentar, segundo Christine Semba, da Piranha Arts Womex, uma das parceiras do AME.
"Na Alemanha, a música de Moçambique, Angola e Cabo Verde é pouco conhecida", diz. "A nossa ideia é, através destes encontros de músicos, artistas e produtores conhecermos os seus trabalhos discográficos."
Digressão
Este intercâmbio entre músicos e produtores lusófonos e alemães deverá resultar numa digressão à Alemanha, daqui a poucos meses, admite Francis Gay, da rádio WDR Cosmo. "Acredito que a música lusófona tem muitas hipóteses de fazer parte dessa nova globalização musical", afirma Gay.
O plano resulta de um projeto denominado Lusafro, que promove o intercâmbio entre profissionais da lusofonia e da Alemanha, estão os Gato Preto de Moçambique, DJ Mavox de São Tomé de Príncipe, Tony Amado, uma referência do género Kuduro, Hélio Batalha, Batchart, Dino D’Santiago, Alberto Koenig, Fatú Djakite e Ceuzany de Cabo Verde.
A estes e outros artistas, Christine Semba tem passado a mensagem de que ter boa música é essencial, mas, acima de tudo, é preciso construir uma relação de confiança com os produtores e organizadores de eventos.
"Se os artistas ou o seu agente não fizerem um trabalho profissional, ter boa música não será suficiente. Há que perceber como funciona o mercado da música e o mais importante de tudo é construir uma relação de confiança", explica.
Um sucesso
Ritmos dos PALOP agradam a europeus
O jornalista alemão Francis Gay gostou da quinta edição do AME: "Cabo Verde não é um arquipélago normal, é um lugar de encontros, de muitas influências musicais, uma terra fértil."
No início do AME, diz, "as pessoas não entendiam o que é um mercado da música, agora já sabem que é muito mais do que artistas a tocarem nas ruas, pois consegue congregar muitos profissionais da música, representantes de festivais de todo o mundo, editoras, agentes, jornalistas."
Paulo Chibanga veio a Cabo Verde preparar o festival AZGO que acontece em 2018, em Moçambique e também gostou do que viu. "Para nós, Cabo Verde é cabeça de cartaz", diz Chibanga. O AME foi uma "oportunidade para estarmos com os artistas numa primeira fase antes de chegarem a Moçambique."
O som da Beira: djembês de Moçambique
Djongue é percussionista profissional na Beira e membro de várias bandas. Nos últimos cinco anos, Djongue ensinou a si mesmo como construir djembês, tambores originários da África Ocidental.
Foto: Gerald Henzinger
O construtor de djembês
Djongue é percussionista profissional na Beira e membro de várias bandas. Nos últimos cinco anos, Djongue ensinou a si mesmo como construir djembês. Para produzir esses tambores originários da África Ocidental, Djongue precisa de madeira, pele de cabra, três aneis de ferro, um pedaço de pano e uma corda resistente.
Foto: Gerald Henzinger
Busca por especialistas
Djongue procura alguém que saiba fabricar os tradicionais "pilões de milho", que têm formas parecidas com um djembê. Um vendedor que comercializa esses pilões leva o percussionista a um mestre da produção da ferramenta de moagem. O mestre mora no vilarejo de Macuacua, a 80 km da cidade da Beira, na mata da província central de Sofala.
Foto: Gerald Henzinger
Um marceneiro na floresta
Alberto é mestre marceneiro e especialista na produção dos trituradores "pilão". Sua oficina fica debaixo de uma árvore. Sua ferramenta é um machado de ferro. Com métodos simples, ele trabalha pedaços maciços de madeira, formando as bases para a produção de pilões e tambores.
Foto: Gerald Henzinger
Negócio fechado!
O marceneiro Alberto concorda em fornecer bases de madeira para a fabricação de tambores. Djongue combina o preço de três bases com Alberto, que este deverá entregar num prazo de duas semanas.
Foto: Gerald Henzinger
Nos fundos do açougue
A membrana esticada na parte superior do tambor é de pele de cabra, que Djongue compra nos fundos de um açougue na Beira. Uma cabra inteira custa entre 600 e mil meticais (entre 20 e 35 euros). Quase toda a cabra é destinada à alimentação. As tripas fazem sucesso entre os consumidores.
Foto: Gerald Henzinger
O valor de uma cabra
Em Moçambique, a pele de uma cabra não costuma ser reaproveitada. Portanto, Djongue paga apenas dez meticais (30 centavos de euro) pela pele, que ele vai limpar e esticar sobre o tambor, assim que os aneis de ferro estiverem prontos.
Foto: Gerald Henzinger
Primeiros ajustamentos
Uma serralharia e uma oficina mecânica funcionam neste mesmo local na Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. É aqui que Djongue encomenda os aneis de ferro para o djembê. São estes aneis que vão manter a pele de cabra esticada sobre o tambor.
Foto: Gerald Henzinger
Trabalho em equipa
A oficina é equipada com um maçarico e várias ferramentas de serralharia. Djongue precisa de comprar o material bruto para os aneis de ferro no mercado ou numa loja de materiais de construção, e trazê-lo para a oficina.
Foto: Gerald Henzinger
Paciência e precisão
Os três aneis são ajustados individualmente ao djembê. O ferro de dez milímetros de espessura precisa de ser encurvado. Se o anel ficar muito grande, é preciso cortar um pedaço dele. Se ficar muito pequeno, é preciso enxertar um pedaço no ferro. O processo é aplicado até que todos os três aneis caibam perfeitamente na base.
Foto: Gerald Henzinger
Mais um ingrediente
Djongue compra as cordas para o tambor no Mercado da Praia Nova, na periferia da Beira. Após negociar, ele compra dez metros de corda por 140 meticais (cerca de 4,50 euros).
Foto: Gerald Henzinger
Começa a montagem
Agora, Djongue tem todos os componentes do djembê. Só precisa de montar o tambor. Mas isso não é tão fácil quanto soa. A pele de cabra é ligeiramente esticada sobre a base – e precisa de secar durante uma semana.
Foto: Gerald Henzinger
Atenção ao detalhe
Ainda é preciso retirar os pelos da pele de cabra antes que se possa batucar no tambor. Com um caco de vidro, Djongue raspa minuciosamente a superfície da pele de cabra até que esta fique completamente lisa. Ele precisa de estar atento, porque a pele é fina e o caco, afiado.
Foto: Gerald Henzinger
Já tem dono
O djembê agora só precisa de ser completamente esticado para ficar pronto. Este djembê será vendido a uma funcionária europeia. Djongue vendeu-lhe tanto o tambor quanto uma aula de percussão.
Foto: Gerald Henzinger
Construindo o futuro
Djongue estabeleceu uma pequena rede de fornecedores e de entrega de djembês em Beira. Os djembês de Djongue são cobiçados especialmente pelos estrangeiros que trabalham na Beira. Um djembê custa 4 mil meticais, o equivalente a 130 euros. Djongue está a economizar para abrir uma loja na Beira.