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Ruandês acusado de crimes contra a humanidade poderá ser libertado em breve

22 de dezembro de 2011

Os juízes do Tribunal Penal Internacional concluíram que as provas contra Callixte Mbarushimana são insuficientes. Ruandês, alto dirigente da milícia hutu FDLR, é acusado de crimes contra a humanidade no leste da RDC.

Callixte Mbarushimana, de 48 anos, disse que pretende voltar à França após libertação
Callixte Mbarushimana, de 48 anos, disse que pretende voltar à França após libertaçãoFoto: AP

O promotor chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Luis Moreno-Ocampo, acusa Mbarushimana de assassínio, tortura e violações, para além de outras violências contra a população civil no leste da República Democrática do Congo (RDC).

Alegadamente, Mbarushimana cometeu estes crimes em 2009, quando ocupava o cargo de secretário geral da milícia hutu Forças Democráticas da Libertação do Ruanda (FDLR). O ruandês foi detido em finais de 2010 em Paris e entregue ao tribunal em Haia, que agora ordenou a sua libertação. Seria a primeira vez que tal aconteceria na história do TPI. O promotor Moreno-Ocampo anunciou que vai recorrer da sentença.  

O procurador geral do TPI, Luis Moreno-Ocampo, afirmou que vai recorrer da sentençaFoto: Picture-Allianc/dpa

Massacres e violações sistemáticas

As FDLR agrupam os restos do exército hutu do Ruanda e de diversas milícias. A milícia é considerada responsável pelo genocídio no Ruanda em 1994, que custou a vida a mais de 800 mil tutsi e hutus moderados. No final do massacre, os perpetradores fugiram para o leste da RDC, onde formaram as FDLR em 2000.

O objectivo da milícia é derrubar o governo tutsi do presidente Paul Kagame no Ruanda. E não olha a meios para o conseguir, recorrendo a massacres e violações sistemáticas, segundo as Nações Unidas. O porta-voz do TPI, Fadi El Abdallah, salienta que a decisão do colectivo de juízes não representa uma exoneração das FDLR: "Os juízes não disseram que não foram cometidos crimes. Eles insistem que há indícios suficientes para crimes de guerra, provavelmente da autoria das FDLR", afirma.

"Mas a maioria dos juízes considerou que não se pode falar de uma participação ativa do senhor Mbarushimana nestes crimes, pelo menos na base das provas apresentadas", pondera o porta-voz do TPI.

Vítimas aterrorizadas

Ghislain Kabanga é o advogado de 95 vítimas dos ataques das FDLR no Leste do Congo democrático. Estes contaram-lhe os horrores que viveram: "Os meus clientes sofreram muito. A maioria teve que assistir à destruição das suas casas. Mulheres, homens e crianças foram violados à frente dos seus familiares. Outros familiares foram massacrados, alguns enquanto dormiam. Alguns foram queimados vivos nas suas casas", relata.

Kabanga acrescenta que desde a decisão do TPI os seus clientes vivem aterrorizados, temendo que, uma vez liberto, Callixte Mbarushimana, tente intimidar a vítimas e testemunhas, para as silenciar: "Ligaram-me assim que souberam da sentença. Um cliente acordou-me às cinco horas da manhã, em pânico, para perguntar o que vai acontecer agora. Ele tem medo que Mbarushimana e os seus homens regressem triunfantes e recomecem os ataques e crimes", afirma.

Apesar da sentença, Callixte Mbarushimana permanece detido – porque, até agora, as Nações Unidas não suspenderam a proibição de deslocação contra ele decretada. Mas o ex-arguido já informou as autoridades francesas que pretende regressar à França, onde recebera asilo político antes da sua detenção.

Autora: Dirke Köpp / Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger / António Rocha

Foto de 1997 mostra crânio encontrado em vala comum no sítio do massacre de 1994 na igreja de Nyamata, no Ruanda; vítimas temem intimidações com libertação de acusadoFoto: AP
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