Eleições legislativas de domingo e segunda-feira deverão reforçar maioria parlamentar da Frente Patriótica do Presidente ruandês, Paul Kagame, um ano após a reeleição com 98% dos votos. Não se esperam grandes mudanças.
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Mais de sete milhões de eleitores foram chamados a eleger 53 dos 80 deputados do Parlamento. Os restantes 27 lugares estão reservados a mulheres, portadores de deficiência e jovens - que serão eleitos por conselhos especiais e comités nacionais.
Os eleitores na diáspora foram os primeiros a votar, no domingo (02.09), em diversas embaixadas por todo o mundo. Na segunda-feira (03.09), mais de 2 mil e 500 assembleias de voto estiveram abertas em todo o país.
"Até agora, a afluência às urnas está a revelar-se excepcional", diz o correspondente da DW em Kigali, Etienne Gatanazi. "Desde 2003, quando começaram [as eleições legislativas], registámos mais de 7 milhões de eleitores, algo que nunca aconteceu antes", sublinha.
Apesar ter prometido resultados provisórios após o encerramento das urnas, a Comissão Eleitoral do Ruanda ainda não avançou quaisquer dados.
A Frente Patriótica do Ruanda (FPR), no poder desde 1994, após travar o genocídio da população tutsi, domina o Parlamento em Kigali. A FPR e os seus aliados detêm atualmente 76% dos assentos parlamentares.
Não se esperam grandes mudanças
A oposição considera que o Ruanda não pode ter uma legislatura ao serviço do partido no poder. Franck Habineza, presidente do Partido Verde Democrático do Ruanda, afirma que não há debates reais no país e critica as constantes decisões unânimes do Parlamento. Habineza espera conquistar 10 assentos parlamentares nestas eleições.
Ruanda à espera dos resultados das legislativas
Mas os observadores não esperam grandes mudanças. "Estas eleições serão muito semelhantes às presidenciais e legislativas anteriores, no sentido em que serão completamente dominadas pela Frente Patriótica", diz Phil Clark.
Para o investigador no Instituto de Estudos Orientais e Africanos, em Londres, um ponto-chave é o Partido Social Democrático, um dos maiores partidos da oposição, que deixou praticamente de fazer campanha. "Nas últimas presidenciais nem apresentou um candidato, disse basicamente que ia apoiar Kagame", lembra.
Jovens na corrida
Ainda assim, a eleição contou com 512 candidatos e, pela primeira vez, permitiu a entrada de independentes na corrida. Fica também marcada pela juventude: a maioria dos candidatos tem menos de 25 anos, tal como 60% da população ruandesa.
O analista político Pontian Kabera considera que a participação política dos jovens é positiva. Mas tem dúvidas quanto às hipóteses de serem eleitos: "Isto mostra que o espaço político no país mudou e que há lugar para a juventude participar nos processos de decisão. No entanto, muitos dos jovens que aparecem para ocupar posições políticas vêm de partidos pequenos ou pouco conhecidos, por isso as hipóteses de vencerem são questionáveis."
As eleições legislativas ocorrem numa altura em que o Governo do Ruanda está a ser alvo de críticas e pressão nos meios de comunicação e nas redes sociais devido à prisão de Diane Rwigara, candidata da oposição à Presidência, em 2017. Está detida desde setembro do ano passado, acusada de traição, incitamento à insurreição e falsificação de documentos.
Refugiados: começar de novo no Uganda
Quem saiu dos países vizinhos para procurar uma vida melhor no Uganda pode construir uma casa, ter um emprego ou até ter um terreno só para si. Este é o resultado das decisões das autoridades do país.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma política liberal para os refugiados
O Uganda é um dos países com políticas mais liberais em relação aos refugiados. Cerca de meio milhão de pessoas de países vizinhos devastados pela guerra, como a República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Somália ou Burundi, procuram abrigo no Uganda. Cerca de 100 pessoas chegam aos campos do sudoeste do país todos os dias.
Foto: DW/S. Schlindwein
Do Burundi ao Uganda, passando pelo Ruanda
Atualmente, refugiados, principalmente do Burundi, procuram abrigo no Uganda. Em julho de 2015, o burundês Pierre Karimumujango foi para o Ruanda, com a sua mulher e os seus três filhos. "Vivíamos em campos sobrelotados. É difícil conseguirmos ter estabilidade lá", diz. A partir daí, continuaram a sua viagem para o Uganda de autocarro.
Foto: DW/S. Schlindwein
Terem a sua própria terra
"Não tínhamos nada quando chegamos, sem ser as roupas que tínhamos no corpo", diz Karimumujango. O Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas deu-lhe utensílios de cozinha, vasilhas de água, tendas e alimentos. O Governo do Uganda deu um pedaço de terra a cada família, onde poderiam construir uma casa e cultivar alimentos. O agricultor burundês plantava mandioca.
Foto: DW/S. Schlindwein
Ajuda exterior
Os recém-chegados recebem roupa em segunda mão, geralmente doações da Europa. O Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas e várias organizações não-governamentais internacionais ajudam a fornecer bens aos refugiados. O Uganda é um país pobre e, sem ajudas, seria fortemente abalado pela grande onda de refugiados.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade só para refugiados
O campo Nakivale no sudoeste do Uganda é o maior do país. Mais de 100 mil refugiados vivem numa área de cerca de 180 km² - é quase uma cidade. A terra, localizada na seca e praticamente inabitada savana, pertence ao Governo, que distribui as parcelas pelos refugiados, que podem construir as suas próprias casas.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma nova vida, junto aos compatriotas
Em Nakivale, os refugiados vivem em "distritos", de acordo com o seu país de origem. Desde o início da crise no Burundi no último ano, cerca de 22 mil burundeses procuraram asilo no Uganda. No campo de refugiados criaram uma "Pequena Bujumbura", batizada em honra à capital do seu país. Alguns deles vêm para o Uganda com todos os seus pertences e poupanças, para que possam começar uma nova vida.
Foto: DW/S. Schlindwein
Um novo mercado de trabalho
O centro de Nakivale é como uma pequena cidade: é possível encontrar carpinteiros, oficinas, alfaiates, cabeleireiros, lojas e farmácias. Muitos refugiados tentam retomar as profissões que tinham nos seus países de origem e há quem traga bens e ferramentas consigo e crie novos empregos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Refugiados como fator económico
Um moleiro burundês trouxe consigo o seu moinho para o Uganda. Michel Tweramehezu, de 16 anos, também do Burundi, ficou feliz por encontrar um trabalho no campo. "Não há muito para fazer aqui", afirma. O Governo do Uganda vê os refugiados como um potencial ativo económico, não é necessário visto de trabalho. Tudo aquilo de que precisam é ter um papel ativo numa área económica.
Foto: DW/S. Schlindwein
As políticas poderosas da África Oriental
Yoweri Museveni, Presidente do Uganda, gosta de se apresentar como o 'avô da região' e mantém um conjunto de políticas fortes, onde os refugiados têm um papel de relevo. Ativistas da oposição e rebeldes dos países vizinhos estão no meio daqueles que procuram refúgio no Uganda, que está ciente das dimensões políticas das medidas que adota em relação aos refugiados.
Foto: DW/S. Schlindwein
Desporto contra o ódio
Nos campos, os conflitos continuam: os Hutus e os Tutsis, do Ruanda, continuam a viver em diferentes distritos de Nakivale. Desentendimentos ocorrem com frequência, e é aí que a polícia do campo tem de atuar e mediar. O desporto é uma das formas usadas para reconciliar os povos. As competições de breakdance, um centro para a juventude e uma estação de rádio também ajudam a reduzir a violência.
Foto: DW/S. Schlindwein
Escassez de quase tudo
Olive Nyirandambyza saiu do leste da República Democrática do Congo (RDC) em 2007. Cinco dos filhos da mulher com 38 anos nasceram em Nakivale. Ela recebe 50 kg de milho mensalmente do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas. "Muitas vezes, não é suficiente e o meu marido tem de ir até à cidade trabalhar para os ugandenses", diz. Falta-lhe sabão, produtos de higiene e medicamentos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Nos campos, só há escolaridade básica
A maioria dos habitantes de Nakivale são crianças em idade escolar. Há seis escolas primárias públicas e gratuitas no campo, geridas pelo Estado. Não há escolas mais avançadas e os estudantes do secundário têm de percorrer grandes distâncias até à aldeia mais próxima. A escola é privada e a maioria das famílias não consegue pagar as propinas.
Foto: DW/S. Schlindwein
Gado como forma de rendimento
Alguns refugiados, como os Banyamulenge do leste da RDC, os Tutsi do Ruanda ou os do Burundi, trazem as suas cabeças de gado com eles para Nakivale. Nos campos férteis de erva que circundam o campo de refugiados encontram bastante alimento. Para muitas famílias, o gado funciona como contas bancárias vivas. Para pagar as propinas escolares, as vacas são vendidas no mercado de gado de Nakivale.
Foto: DW/S. Schlindwein
É difícil regressar a casa
Ndahayo Ruwogwa acredita que irá morrer no Uganda. Aos 69 anos, perdeu o seu braço direito durante a guerra na RDC, o seu país natal. Vive em Nakivale há 13 anos, com a sua família de 13 pessoas. "Ao menos, há paz no Uganda. Temos a oportunidade de ter uma nova vida", diz. "O meu país continua em guerra. Provavelmente, nunca poderei regressar".