O Presidente ruandês, Paul Kagame, é popular entre líderes ocidentais por ter estabilizado o país, que abriu aos investimentos externos, mas é controverso entre os defensores dos direitos humanos e da democratização.
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Os críticos de Paul Kagame, em particular os líderes da oposição, têm sido ameaçados, presos, torturados e mortos - mesmo quando se encontram no exílio.
Victoire Ingabire Umuhoza sonha com um Ruanda verdadeiramente livre e democrático. Mas, como afirma a líder de um partido da oposição não oficialmente reconhecido, o seu país está longe de transformar este sonho em realidade. "É um grande problema. Acusam quem está na oposição de ser um inimigo do país, mas nós não somos inimigos do país", diz Umuhoza.
"Liderança aplaudida"
A nível global, o regime no Ruanda não é considerado repressivo. Paul Kagame é considerado como o homem que, com o seu grupo rebelde, pôs fim ao genocídio de cerca de 800.000 tutsis étnicos e hutus moderados em 1994. Desde então, Kagame tem sido aplaudido por sua liderança visionária e por trazer estabilidade à nação da África Oriental.
Mas Ingabire é a primeira mulher a desafiar a presidência de Paul Kagame. Regressou do exílio na Holanda em 2010 para se candidatar às eleições presidenciais. Entretanto, o seu nome nunca apareceu nos boletins de voto.
"Temos de convencer o Governo de que chegou o momento para uma abertura política no Ruanda. Foi por isso que decidi deixar o meu marido e os meus filhos e regressar ao país. Não foi fácil para o meu marido e para os meus filhos. Quando regressei puseram-me na prisão, onde passei oito anos", explica.
"Ameaça à segurança do Estado"
Ingabire foi julgada culpada de ameaçar a segurança do Estado e menosprezar o genocídio de 1994. Ela afirmou sempre que as acusações não passavam de uma invenção politicamente motivada. Ainda hoje enfrenta acusações de que recrutou jovens para um grupo terrorista, o que Ingabire nega.
Ruanda: Democracia ou repressão?
A política não é a única líder da oposição que acusa o Governo de repressão. Bernard Ntaganda, fundador do Partido Social Imberakuri, foi preso três vezes e questiona abertamente a narrativa do "milagre democrático" do Ruanda.
"Não digo que Kagame seja um ditador, mas o seu regime é uma ditadura. No Ruanda não há mídia independente. Como é que se pode dizer que o Ruanda é um país democrático, se nem oposição tem?", argumenta.
Tanto Ntaganda como Ingabire dizem que sacrificaram muito pela sua luta política. Ingabire afirma que vários de seus seguidores ainda estão presos.
E relata que seu assistente de 30 anos, Anselme Mutuyimana, morto em março de 2019, perdeu a vida pela causa. Já as autoridades dizem que ainda estão a investigar quem é o responsável pela morte de Mutuyimana.
O genocídio no Ruanda
O genocídio no Ruanda, 25 anos atrás, em 1994, chocou o mundo. Na época, a comunidade internacional assistiu de braços cruzados – sobretudo a França e a ONU – ao assassinato de cerca de 800 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa
O pontapé do genocídio
No dia 6 de abril de 1994, o avião em que viajava o então Presidente de Ruanda, Juvénal Habyarimana, foi derrubado por um foguete quando se aproximava da capital Kigali. O atentado matou Habyarimana, o Presidente do Burundi e outros oito ocupantes da aeronave. No dia seguinte, começam os massacres, que duraram três meses e custaram a vida de pelo menos 800 mil ruandeses.
Foto: AP
Vítimas escolhidas a dedo
Depois do assassinato do Presidente, extremistas hutus começaram a atacar membros da minoria tutsi e hutus moderados. Os assassinos estavam bem preparados e escolhiam suas vítimas entre ativistas de direitos humanos, jornalistas e políticos. Entre as primeiras vítimas, no dia 7 de abril de 1994, estava a primeira-ministra Agathe Uwilingiyimana.
Foto: picture-alliance/dpa
Resgate de estrangeiros
Enquanto nos dias posteriores milhares de ruandeses eram mortos diariamente em Kigali e no interior, forças especiais belgas e francesas retiraram do país cerca de 3.500 estrangeiros. Paraquedistas belgas resgataram em 13 de abril os sete funcionários alemães da Deutsche Welle em Kigali, juntamente com suas famílias. Apenas 80 dos 120 empregados locais da emissora sobreviveram ao genocídio.
Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages
Grito de socorro
Já no início de 1994, o comandante das tropas de paz da ONU, o canadense Roméo Dallaire, tinha indícios de um planejado extermínio da população tutsi. Sua mensagem à ONU, conhecida como o "fax do genocídio", enviada em 11 de janeiro, foi rejeitada. Os apelos posteriores do general durante o genocídio também foram ignorados pelo então chefe das operações de manutenção da paz, Kofi Annan.
Foto: A.Joe/AFP/GettyImages
Mídias do ódio
O filme "Hate Radio", do diretor suíço Milo Rau (foto), lembra a estação Radio Mille Collines (RTLM) que, junto ao jornal semanal "Kangura", incitava o ódio contra os tutsis. Kangura, por exemplo, publicou já em 1990 os "Dez mandamentos hutus", com alto teor racista. A Mille Collines, popular pela música pop e pela cobertura desportiva, fazia chamadas diárias pela perseguição e morte de tutsis.
Foto: IIPM/Daniel Seiffert
Refúgio no hotel
Em Kigali, Paul Rusesabagina escondeu mais de mil pessoas no Hotel des Mille Collines. Depois que o gerente belga deixou o país, Rusesabagina o sucedeu no cargo. Com muito álcool e dinheiro, ele conseguiu impedir as milícias hutus de matar os refugiados. Em muitos outros refúgios, as vítimas não conseguiram escapar de seus assassinos.
Foto: Gianluigi Guercia/AFP/GettyImages
Massacres em igrejas
Mesmo igrejas, onde muitos buscaram refúgio, não foram respeitadas. Cerca de 4 mil homens, mulheres e crianças foram mortos na igreja de Ntarama, perto de Kigali, por assassinos portando machados e facões. Hoje, a igreja é um dos muitos memoriais do massacre. Crânios e ossos humanos, além de buracos de bala nas paredes, lembram até hoje o genocídio.
Foto: epd
O papel da França
Paris manteve laços estreitos com o regime hutu. Quando os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) já tinham ganhado terreno sobre os autores de genocídio, em junho, o Exército francês entrou em ação. E permitiu que soldados e milicianos responsáveis pelo genocídio fossem com armas para o Zaire, atual República Democrática do Congo, onde representam até hoje uma ameaça para o Ruanda.
Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages
Fluxo de refugiados
Durante os massacres, milhões de ruandeses, tutsis e hutus, fugiram para os países vizinhos Tanzânia, Zaire e Uganda. Só no Zaire (hoje RDC), foram dois milhões de refugiados. Ex-membros do Exército e os autores de massacres fundaram as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda, que são até hoje um fator de insegurança no leste congolês.
Foto: picture-alliance/dpa
Tomada de Kigali
Diante da Igreja da Sagrada Família, em Kigali, patrulham em 4 de julho de 1994 rebeldes da RPF. Nessa época, eles já haviam libertado a maioria das regiões do país e forçado os assassinos a baterem em retirada. Ativistas de direitos humanos se queixam, no entanto, que os rebeldes também cometeram crimes pelos quais ninguém foi responsabilizado até hoje.
Foto: Alexander Joe/AFP/GettyImages
Fim do genocídio
O general Paul Kagame, líder da RPF, declarou em 18 de julho de 1994 o fim da guerra contra as forças do Governo. Os rebeldes assumiram o controlo da capital e outras grandes cidades. A princípio, empossaram um Governo provisório. Desde o ano 2000, Kagame é o Presidente do Ruanda.
Foto: Alexander Joe/AFP/GettyImages
Cicatrizes permanentes
O genocídio durou quase três meses. A maioria das vítimas foi brutalmente assassinada com facões. Vizinhos mataram vizinhos. Cadáveres e partes de corpos de bebés, crianças, adultos e idosos se amontoavam ao longo das ruas. Poucas famílias foram poupadas. Não só as cicatrizes nos corpos dos sobreviventes mantêm viva a memória do genocídio.