Ruanda e República Democrática do Congo acordaram na semana passada, em Luanda, um cessar-fogo imediato, que pressupunha a retirada dos rebeldes do M23. Mas o porta-voz do movimento rejeitou a retirada do leste da RDC.
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Ainda não tinham passado 24 horas desde o estabelecimento do acordo e já o porta-voz do M23 rejeitava a retirada do grupo, afirmando que, a haver um cessar-fogo, este teria de ser decidido "entre o movimento e o Governo congolês".
Terá a tentativa de reestabelecer a paz na região falhado antes mesmo de ter começado?
Phil Clark, especialista em conflitos africanos, defende que nem Kinshasa, nem Kigali têm interesse em deixar a situação agravar-se. "Em última análise, nem Paul Kagame nem Félix Tshisekedi têm qualquer interesse em que esta situação fique fora de controlo", diz.
"Ambos querem um Congo Oriental estável. Tshisekedi quer proteger a população, Kagame tem interesses económicos em toda essa zona. Uma escalada da violência prejudicaria ambos", conclui o analista.
Troca de acusações agudiza-se
A troca de acusaçõesentre o Ruanda e a República Democrática do Congo (RDC) tem-se agudizado nas últimas semanas devido ao ressurgimento do M23 no Congo. E colocou em alerta os países da região, que consideram que a insegurança na RDC é um problema que afeta todos.
Também a Organização das Nações Unidas (ONU) advertiu para a possibilidade da instabilidade no país poder ficar descontrolada.
Antes dacimeira em Luanda organizada pelo Presidente angolano, João Lourenço, os líderes da Comunidade da África Oriental concordaram em criar uma força regional para tentar acabar com o conflito.
No entanto, em entrevista à DW, Jakob Kerstan, da Fundação alemã Konrad Adenauer, diz não acreditar "que a força de intervenção da Comunidade da África Oriental possa contribuir fortemente e, sobretudo, rapidamente para uma melhoria decisiva da situação."
Contudo, sublinha, "é importante considerar que o Congo aderiu à Comunidade da África Oriental em março e por isso países como o Uganda e o Quénia têm particular interesse num Congo estável, especialmente por questões económicas."
Mama Faida, miliciana na RDC, conta a sua história
02:22
Processo de paz "abrangente"
Também Mvemba Pheso Dizolele, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), defende "um processo de paz abrangente" na região.
"Não podemos utilizar as milícias como nos apetece. O regime de Kigali apresentaria uma verdadeira liderança se se aproxima-se e debatesse com os congoleses as acusações ambos os lados", afirma.
Na cimeira de Luanda da semana passada ficou agendada, para esta terça-feira (12.07), uma reunião da comissão mista entre os dois países.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.