O Ruanda anunciou a chegada de mil forças para combater o terrorismo em Moçambique, pouco depois de a SADC ter informado que as operações arrancam a 15 de julho. Forma como irão lidar com a população causa preocupação.
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Esta sexta-feira (09.07) o Ruanda anunciou o envio de um contingente de mil homens das Forças de Defesa e da Polícia Nacional para combater o terrorismo em Cabo Delgado.
Pouco antes, a SADC deu a conhecer o início de operações na província no norte de Moçambique a 15 de julho, com a duração de três meses. De acordo com um comunicado da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, a intervenção militar está inserida no protocolo regional de política de defesa e segurança e reconhecido pelas Nações Unidas.
O analista político Dércio Alfazema enaltece a importância da intervenção de outros atores para expulsar os terroristas do norte de Moçambique. "A intervenção da SADC é estratégica e é o primeiro grupo de países que tem o mesmo interesse que tem Moçambique porque esta situação de terrorismo tem de ser resolvida o mais rápido possível para que não se expanda para além de Cabo Delgado."
Alfazema entende que na operação contra os terroristas se deve evitar que eles fujam para outras províncias ou mesmo para outros países para criarem outras bases. "Nós sabemos que o mínimo avanço desta situação, se for para fora do país, vamos entrar imediatamente para os países da SADC. Há uma convergência de interesses para que esta situação seja resolvida o mais rápido possível para que não venha criar raízes e se expandir ao longo da região", lembra.
Sensibilizar e informar as comunidades
O analista político alerta para que a presença de forças estrangeiras não venha a criar confusão no seio da população em Cabo Delgado. "Moçambique ao receber essas forças da SADC e outras terá de consciencializar, sensibilizar e informar as comunidades e também e assumir o seu papel de coordenação de articulação dessas, de modo a que a presença de forças de diferentes países que falam diferentes línguas não venha se traduzir numa confusão", defende.
A vida dos deslocados no centro de reassentamento de Nampula
02:26
O jornalista William Mapote, editor de política na STV, também manifesta preocupação em relação à forma como esta força vai lidar com a população. "Nós próprios moçambicanos temos que dar a colaboração, porque vezes sem conta tem-se dito que há população da própria província de Cabo Delgado que tem colaborado com os terroristas. Para se evitar este tipo de situações temos de saber quem é quem e como devemos lidar com esta situação", diz.
Para operacionalizar os ataques contra terroristas, o comunicado da SADC escreve sobre o papel da "missão em cenário seis", que aos olhos do jornalista William Mapote pode significar maior e melhor comunicação no teatro de operações. "Essa é mais uma daquelas coisas que confirma essa necessidade de uma maior e melhor comunicação entre as autoridades nacionais e a própria comunicação. São daqueles níveis que só os que estão dentro destes códigos explicar melhor", explica.
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Brigada acusada de massacre
Do Zimbabué poderá ser destacada a quinta brigada que foi acusada de ser responsável por um massacre dos Ndenbeles na chamada "operação Gukurahundi". "Espero que a trágica situação que esta brigada fez dela pouco famosa a nível internacional não se repita em Moçambique", confessa William Mapote.
"Olho para essa questão da coordenação outra vez como um dos elementos-chave para determinar que tipo de ações devem ser feitas ou observar questões nomeadamente a salvaguarda dos direitos humanos e proteção das comunidades", lembra.
O terrorismo em Cabo Delgado já ceifou a vida a mais de duas mil pessoas e pouco mais de 800 mil pessoas estão deslocadas.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.