A oposição do Ruanda acusa o Presidente Paul Kagame de instalar um regime ditatorial. Mas no exterior o Ruanda tem boa reputação e Kagame é respeitado.
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Os partidos da oposição do Ruanda acusam o Presidente do país, Paul Kagame, de instalar um regime ditatorial.
Bernard Ntaganda, fundador do Partido Social Imberakuri, é uma das vozes críticas contra o regime de Kagame. E ele esclarece: "Não estou a dizer que Kagame é um ditador, mas o seu regime é uma ditadura. O Ruanda não tem uma imprensa independente. Não há debate político aberto. Se não houver partido da oposição, como se pode dizer que o Ruanda é um país democrático?"
Victoire Ingabire, líder da oposição sonha com um Ruanda livre e democrático. Mas esse sonho, segundo presidente da FDU-Inkingi, está longe de se tornar realidade perante a situação vigente do país.
E sublinha: "Esse é o grande problema. Quem faz parte da oposição é acusado de ser inimigo do Ruanda. Mas nós não somos os inimigos do país."
Ruanda: Há ditadura com Paul Kagame?
Fora do país, o Ruanda não tem a reputação de um regime repressivo. O Presidente Paul Kagame é respeitado como homem que, com a Frente Patriótica do Ruanda, acabou com o genocídio de 1994. Cerca de um milhão de tutsis e hutus foram mortos em menos de cem dias, num dos piores genocídios no mundo pós Segunda Guerra mundial.
Imagem do país não corresponde a realidade
Desde o fim do genocídio que Kagame tem sido elogiado pelo seu estilo de liderança visionário e pela forma como conseguiu estabilizar o país. Hoje, o Ruanda é considerado um modelo de boa governação em África com uma economia estável e uma sociedade progressista.
Mas os críticos de Kagame entendem que a imagem que o país aparenta não corresponde a realidade dos fatos. Victoire Ingabire foi a primeira mulher a disputar a Presidência do Ruanda com Paul Kagame, em 2010, quando regressou de exílio político na Holanda. O nome de Ingabire nunca chegou a ser votado nas eleições.
Mas ela não baixa os braços: "Precisamos convencer o Governo do Ruanda a abrir-se mais politicamente. É por isso que decidi deixar o meu marido e filhos para trás e ir para o Ruanda. Claro que isso não foi fácil para a minha família. Quando voltei ao meu país, eles colocaram-me na cadeia. Eu passei oito anos na prisão."
Perseguições
Como um dos principais criticos de Kagame, Ingabire é acusada de ameaçar a segurança nacional do Ruanda, promover o terrorismo e de minimizar o genocídio de 1994. À DW refutou todas as acusações.
A líder da oposição revela ainda que alguns dos seus seguidores estão detidos. E o seu assistente de 30 anos, Anselme Mutuyimana, que morreu em março de 2019, perdeu a vida na luta pela afirmação da democracia.
As autoridades dizem que as investigações sobre a morte do jovem está em curso, daí que Ingabire pede a justiça a todos os ruandeses.
O genocídio no Ruanda
O genocídio no Ruanda, 25 anos atrás, em 1994, chocou o mundo. Na época, a comunidade internacional assistiu de braços cruzados – sobretudo a França e a ONU – ao assassinato de cerca de 800 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa
O pontapé do genocídio
No dia 6 de abril de 1994, o avião em que viajava o então Presidente de Ruanda, Juvénal Habyarimana, foi derrubado por um foguete quando se aproximava da capital Kigali. O atentado matou Habyarimana, o Presidente do Burundi e outros oito ocupantes da aeronave. No dia seguinte, começam os massacres, que duraram três meses e custaram a vida de pelo menos 800 mil ruandeses.
Foto: AP
Vítimas escolhidas a dedo
Depois do assassinato do Presidente, extremistas hutus começaram a atacar membros da minoria tutsi e hutus moderados. Os assassinos estavam bem preparados e escolhiam suas vítimas entre ativistas de direitos humanos, jornalistas e políticos. Entre as primeiras vítimas, no dia 7 de abril de 1994, estava a primeira-ministra Agathe Uwilingiyimana.
Foto: picture-alliance/dpa
Resgate de estrangeiros
Enquanto nos dias posteriores milhares de ruandeses eram mortos diariamente em Kigali e no interior, forças especiais belgas e francesas retiraram do país cerca de 3.500 estrangeiros. Paraquedistas belgas resgataram em 13 de abril os sete funcionários alemães da Deutsche Welle em Kigali, juntamente com suas famílias. Apenas 80 dos 120 empregados locais da emissora sobreviveram ao genocídio.
Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages
Grito de socorro
Já no início de 1994, o comandante das tropas de paz da ONU, o canadense Roméo Dallaire, tinha indícios de um planejado extermínio da população tutsi. Sua mensagem à ONU, conhecida como o "fax do genocídio", enviada em 11 de janeiro, foi rejeitada. Os apelos posteriores do general durante o genocídio também foram ignorados pelo então chefe das operações de manutenção da paz, Kofi Annan.
Foto: A.Joe/AFP/GettyImages
Mídias do ódio
O filme "Hate Radio", do diretor suíço Milo Rau (foto), lembra a estação Radio Mille Collines (RTLM) que, junto ao jornal semanal "Kangura", incitava o ódio contra os tutsis. Kangura, por exemplo, publicou já em 1990 os "Dez mandamentos hutus", com alto teor racista. A Mille Collines, popular pela música pop e pela cobertura desportiva, fazia chamadas diárias pela perseguição e morte de tutsis.
Foto: IIPM/Daniel Seiffert
Refúgio no hotel
Em Kigali, Paul Rusesabagina escondeu mais de mil pessoas no Hotel des Mille Collines. Depois que o gerente belga deixou o país, Rusesabagina o sucedeu no cargo. Com muito álcool e dinheiro, ele conseguiu impedir as milícias hutus de matar os refugiados. Em muitos outros refúgios, as vítimas não conseguiram escapar de seus assassinos.
Foto: Gianluigi Guercia/AFP/GettyImages
Massacres em igrejas
Mesmo igrejas, onde muitos buscaram refúgio, não foram respeitadas. Cerca de 4 mil homens, mulheres e crianças foram mortos na igreja de Ntarama, perto de Kigali, por assassinos portando machados e facões. Hoje, a igreja é um dos muitos memoriais do massacre. Crânios e ossos humanos, além de buracos de bala nas paredes, lembram até hoje o genocídio.
Foto: epd
O papel da França
Paris manteve laços estreitos com o regime hutu. Quando os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) já tinham ganhado terreno sobre os autores de genocídio, em junho, o Exército francês entrou em ação. E permitiu que soldados e milicianos responsáveis pelo genocídio fossem com armas para o Zaire, atual República Democrática do Congo, onde representam até hoje uma ameaça para o Ruanda.
Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages
Fluxo de refugiados
Durante os massacres, milhões de ruandeses, tutsis e hutus, fugiram para os países vizinhos Tanzânia, Zaire e Uganda. Só no Zaire (hoje RDC), foram dois milhões de refugiados. Ex-membros do Exército e os autores de massacres fundaram as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda, que são até hoje um fator de insegurança no leste congolês.
Foto: picture-alliance/dpa
Tomada de Kigali
Diante da Igreja da Sagrada Família, em Kigali, patrulham em 4 de julho de 1994 rebeldes da RPF. Nessa época, eles já haviam libertado a maioria das regiões do país e forçado os assassinos a baterem em retirada. Ativistas de direitos humanos se queixam, no entanto, que os rebeldes também cometeram crimes pelos quais ninguém foi responsabilizado até hoje.
Foto: Alexander Joe/AFP/GettyImages
Fim do genocídio
O general Paul Kagame, líder da RPF, declarou em 18 de julho de 1994 o fim da guerra contra as forças do Governo. Os rebeldes assumiram o controlo da capital e outras grandes cidades. A princípio, empossaram um Governo provisório. Desde o ano 2000, Kagame é o Presidente do Ruanda.
Foto: Alexander Joe/AFP/GettyImages
Cicatrizes permanentes
O genocídio durou quase três meses. A maioria das vítimas foi brutalmente assassinada com facões. Vizinhos mataram vizinhos. Cadáveres e partes de corpos de bebés, crianças, adultos e idosos se amontoavam ao longo das ruas. Poucas famílias foram poupadas. Não só as cicatrizes nos corpos dos sobreviventes mantêm viva a memória do genocídio.