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Ruanda investiga envolvimento da França no genocídio de 1994

Christine Harjes | gs | Lusa
2 de dezembro de 2016

Foi aberto um inquérito formal a 20 franceses suspeitos de envolvimento no massacre levado a cabo por extremistas hutus no Ruanda, há 22 anos. Morreram mais de 800 mil pessoas, a maioria da etnia tutsi.

Foto: Getty Images/C. Somodeville

O inquérito permitirá ao Ministério Público decidir "se os indivíduos em causa deverão ou não ser formalmente acusados", disse o procurador-geral ruandês, Richard Muhumuza. As autoridades francesas já foram contactadas e o Ruanda espera "total cooperação".

Menos otimista está Gerd Hankel, especialista do Instituto de Investigação Social na cidade alemã de Hamburgo, que diz ter a certeza de que não haverá cooperação.

"A investigação só será bem sucedida se a França cooperar. E a França só o vai fazer sob pressão internacional, se as provas apresentadas pelo Ruanda forem convincentes à primeira vista. As provas até agora apresentadas não foram de todo convincentes", explica.

02.12.16 Ruanda quer investigar envolvimento de França no genocídio - MP3-Stereo

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As acusações sobre a alegada participação da França no genocídio não são novas. Phil Clark, politólogo da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, acredita que Kigali já teve tempo para amadurecer o caso.

"Só se o Ruanda tiver a certeza de que tem provas legais sobre o envolvimento da França de 1994 é que está pronto para lançar esta investigação", diz.

Sinais de alarme ignorados?

A França era aliada do regime nacionalista hutu do Presidente Juvenal Habyarimana. O abatimento do seu avião sobre Kigali, a 6 de abril de 1994, desencadeou 100 dias de carnificina.

A França é acusada de não ter visto ou de ter ignorado os sinais de alarme e de ter treinado soldados e milícias que levaram a cabo massacres. É também acusada de ter usado a sua influência diplomática para impedir uma ação efetiva e, quando finalmente enviou tropas para o Ruanda, na "Operação Turquesa", só o terá feito para impedir o avanço dos rebeldes tutsi e para permitir aos autores do genocídio fugir para a República Democrática do Congo.

O politólogo Phil Clark não tem dúvidas: "A França está profundamente envolvida no genocídio". Na opinião do professor da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, a investigação criminal é "um passo muito importante" para chamar a atenção da comunidade internacional para o papel que a França teve no genocídio. "Sem a França, provavelmente não teria tido a forma que teve", sublinha.

"Operação Turquesa": França enviou tropas para o Ruanda em 1994Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages

Gerd Hankel acredita que a investigação deverá deteriorar as relações entre os dois países. "Estou certo de que o relacionamento vai continuar a arrefecer. A França fará tudo o que for possível para, no plano diplomático, prejudicar o Ruanda", prevê o especialista.

A França rejeita o envolvimento no genocídio que matou mais de 800 mil pessoas em 100 dias, em 1994. Os responsáveis franceses dizem que a culpa tem de ser partilhada por toda a comunidade internacional.

 

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