Ruanda investiga envolvimento da França no genocídio de 1994
2 de dezembro de 2016O inquérito permitirá ao Ministério Público decidir "se os indivíduos em causa deverão ou não ser formalmente acusados", disse o procurador-geral ruandês, Richard Muhumuza. As autoridades francesas já foram contactadas e o Ruanda espera "total cooperação".
Menos otimista está Gerd Hankel, especialista do Instituto de Investigação Social na cidade alemã de Hamburgo, que diz ter a certeza de que não haverá cooperação.
"A investigação só será bem sucedida se a França cooperar. E a França só o vai fazer sob pressão internacional, se as provas apresentadas pelo Ruanda forem convincentes à primeira vista. As provas até agora apresentadas não foram de todo convincentes", explica.
As acusações sobre a alegada participação da França no genocídio não são novas. Phil Clark, politólogo da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, acredita que Kigali já teve tempo para amadurecer o caso.
"Só se o Ruanda tiver a certeza de que tem provas legais sobre o envolvimento da França de 1994 é que está pronto para lançar esta investigação", diz.
Sinais de alarme ignorados?
A França era aliada do regime nacionalista hutu do Presidente Juvenal Habyarimana. O abatimento do seu avião sobre Kigali, a 6 de abril de 1994, desencadeou 100 dias de carnificina.
A França é acusada de não ter visto ou de ter ignorado os sinais de alarme e de ter treinado soldados e milícias que levaram a cabo massacres. É também acusada de ter usado a sua influência diplomática para impedir uma ação efetiva e, quando finalmente enviou tropas para o Ruanda, na "Operação Turquesa", só o terá feito para impedir o avanço dos rebeldes tutsi e para permitir aos autores do genocídio fugir para a República Democrática do Congo.
O politólogo Phil Clark não tem dúvidas: "A França está profundamente envolvida no genocídio". Na opinião do professor da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, a investigação criminal é "um passo muito importante" para chamar a atenção da comunidade internacional para o papel que a França teve no genocídio. "Sem a França, provavelmente não teria tido a forma que teve", sublinha.
Gerd Hankel acredita que a investigação deverá deteriorar as relações entre os dois países. "Estou certo de que o relacionamento vai continuar a arrefecer. A França fará tudo o que for possível para, no plano diplomático, prejudicar o Ruanda", prevê o especialista.
A França rejeita o envolvimento no genocídio que matou mais de 800 mil pessoas em 100 dias, em 1994. Os responsáveis franceses dizem que a culpa tem de ser partilhada por toda a comunidade internacional.